Que futuro espera a Parada Gay de São Paulo?
Desfile LGBT completa quinze anos e procura combinar o ativismo político com o glamour de edições passadas
Uma versão remixada da valsa “Danúbio Azul”, de Johan Strauss II, ecoará pela Avenida Paulista em 26 de junho próximo. Assim, pretendem os organizadores, começará mais uma Parada LGBT de São Paulo, que completa quinze anos e, como qualquer adolescente, tem diante de si uma série de dilemas a resolver. Ser uma megabalada ou realçar o caráter militante? Colocar trios elétricos de casas noturnas ou dedicar o espaço às ONGs de defesa dos direitos dos homossexuais? Como garantir que a mesma Avenida Paulista na qual 3,5 milhões de pessoas celebram a diversidade sexual não vire palco de agressões aos gays no resto do ano? “Os paulistanos devem tratar a Parada como um bem”, afirma o ex-BBB e hoje deputado federal Jean Wyllys (PSOL), que teve como uma das plataformas de campanha a defesa dos direitos dos homossexuais. “É um evento que mostra a cidade como um lugar sem preconceito. Agrega valor à nossa imagem”, diz Caio Luiz de Carvalho, presidente da Empresa de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo (SPTuris).
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Os números oficiais da SPTuris parecem confirmar a posição de Wyllys. Em 2010, 403.000 turistas desembarcaram na cidade nos dias que antecederam a Parada. O evento acontece tradicionalmente no fim de semana prolongado do feriado de Corpus Christi. Cada um dos visitantes de outros estados brasileiros gastou por aqui 839,10 reais — 2.877 reais, no caso dos estrangeiros. Os hoteis ficam lotados, bares, restaurantes e baladas também. “Nosso movimento aumenta até 30%”, estima o DJ Eneas Neto, sócio de uma das festas frequentadas pelo público gay, a Trash 80’s. Nada, porém, se compara em popularidade à The Week, na Lapa. A casa noturna que normalmente funciona apenas aos sábados, intensifica a programação nessa época do ano: abre de quarta a domingo. Em cada noitada, circulam entre 2.000 e 3.500 pessoas pela danceteria chamada (não à toa) de templo gay.
Casas noturnas no desfileTanto a The Week quanto a Trash 80’s já tiveram trios elétricos na Parada. Deixaram de participar em 2007, quando se iniciou uma revoada de casas noturnas. Nos anos seguintes, os carros que cruzaram a Paulista carregavam mais ONGs ativistas dos direitos gays que rapazes musculosos dançando seminus. Uma mudança de foco que, ainda hoje, provoca discussão. “O que falta é mais glamour”, opina a drag Queen Sissi Girl, que afirma ter participado de todas as edições. André Almada, sócio da The Week, diz que gostaria de voltar a ter um espaço de sua casa noturna no desfile. “Mas seria preciso pensar um jeito de combinar os patrocínios conseguidos pelos clubes com os do evento.”
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Não parece ser o plano de Ideraldo Beltrame, atual presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, nome oficial da entidade sem fins lucrativos responsável pela organização. “Precisamos trazer de volta o caráter político da manifestação”, afirma ele. Parte da turma homossexual, no entanto, boceja diante da ideia — classificam como chatos os discursos dos militantes. Há também os que dizem que “caiu muito o nível das pessoas” ou que “só tem gente feia” no público participante. Uma ala da atual diretoria parece esforçada em conciliar essas opiniões, no melhor estilo “viva a tolerância”. É o caso da transexual Greta Star, integrante da administração empossada em dezembro de 2010. “Política não precisa ser só bater panela, pode ter beleza”, diz. “Ao longo desses quinze anos conquistamos quantidade, agora vamos retomar a qualidade.”
Política, sim, mas com glamour
Uma das iniciativas foi convidar a cantora Preta Gil para ocupar o posto de diva da Parada. Ela compareceu a um coquetel de lançamento em São Paulo no último dia 30, em que se anunciou também sobre a possibilidade de lançamento de um mascote do desfile. “As pessoas devem lutar por seus direitos, fazer barulho mesmo durante a parada, mas não vai adiantar nada se as leis não mudarem, comenta ela. “A energia do dia 26 de junho vai ter que durar o ano inteiro.”
Por último, mas definitivamente não menos importante: a organização tem pela frente o desafio de tornar a Parada mais segura. Dezenas de participantes dos últimos anos relataram ter sido furtados — em 2009, houve até mesmo um ataque de neonazistas que explodiram uma bomba no centro, local de dispersão do evento, ferindo 22 pessoas. A SPTuris afirma que 2.000 policiais atuaram no trajeto entre a Avenida Paulista e a Consolação, mas que ainda não definiu o contingente para a 15ª edição.