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“Temos a oportunidade única de vencer o ‘tucanistão’”, diz Guilherme Boulos

Pré-candidato ao governo estadual fala que a esquerda pode derrotar um PSDB dividido e afirma que São Paulo não deve homenagear figuras ligadas à escravidão

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h46 - Publicado em 13 ago 2021, 06h00
A imagem mostra Boulos, sentado, com as as palmas da mão para cima e uma sobre a outra.
 (Leandro Paiva/Divulgação)
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Segundo colocado na eleição municipal de São Paulo no ano passado, Guilherme Boulos (PSOL) começou a percorrer o estado para cacifar sua candidatura à sucessão de João Doria, em 2022. Diz que os tucanos estarão divididos entre Rodrigo Garcia e Geraldo Alckmin, mas reconhece que sua esquerda também não deverá estar unida, principalmente quando o assunto é o PT.

Outro entrave é sua ligação histórica com o MTST, não muito bem-vista no interior conservador. Enquanto tenta desconstruir a imagem de invasor de propriedade, Boulos defende manifestantes que atearam fogo à estátua de Borba Gato, em Santo Amaro.

Como está a costura de alianças para a campanha de 2022? O senhor andou conversando com Rede, PDT e PCdoB. Já deu para fechar algum acordo?

As alianças serão decididas somente no ano que vem. Tenho trabalhado por uma unidade no campo progressista, em São Paulo e no Brasil. Para isso procuramos os partidos, as conversas são boas. Temos uma oportunidade única de derrotar o “tucanistão” aqui em São Paulo.

Por que a oportunidade é única?

Doria tem a maior rejeição que qualquer governador já teve. Ele é operador de marketing, não um gestor. O PSDB aparelhou o Estado nesses últimos 25 anos. São 26 000 cargos de indicação política. Tem gente que assinou a ficha do PSDB em 1995, ganhou um emprego e está até hoje. Tem mais estabilidade que o servidor concursado.

E se o ex-governador Geraldo Alckmin concorrer pelo PSDB ou por outro partido, não seria um candidato competitivo, visto seu histórico de vitórias no estado?

Isso mostra a divisão em que o PSDB está. Os tucanos vão estar divididos. Mas é inegável que o Rodrigo Garcia vai estar com a máquina. Sabe como o PSDB se perpetuou? Fazendo clientelismo com as prefeituras. Mas com o desgaste do Doria, a divisão dos tucanos e a rejeição alta do Bolsonaro, vejo um cenário positivo para a esquerda.

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Existe espaço para PSOL e PT na mesma eleição? O senhor abriria mão da candidatura para ser vice de Fernando Haddad, por exemplo?

Isso não está colocado. O debate é a nossa pré-candidatura. Mas espero que possamos estar juntos. É legítimo o PT querer ter candidatura própria, tenho respeito pelo Haddad, mas vou seguir trabalhando para construir uma unidade.

E a sua imagem de invasor de terra, numa área enraizada pelo agronegócio, onde a população não aceita definições diferentes de propriedade particular, não atrapalha?

Essa imagem absurda eu também tinha na capital. Na campanha curta, de pandemia, desconstruímos essa imagem para parte importante do eleitorado. Vamos trabalhar com estratégia de comunicação. Não se trata de invadir, se trata de garantir que todos possam ter casa.

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Nas últimas semanas, o senhor se mostrou contrário à prisão das pessoas que atearam fogo à estátua do Borba Gato. Independentemente do motivo, elas não deveriam ser presas pelo incêndio?

É um absurdo que tenha homenagens a figuras nefastas. Borba Gato praticou genocídio de indígenas, negros escravizados. Quando eu fui candidato a prefeito, disse que tiraria essa estátua e colocaria a do Zumbi dos Palmares. Isso seria um gesto de reparação histórica.

“São Paulo não conhece seu prefeito. Qual a trajetória dele? Ninguém conhece. Isso é preocupante”

Mas e quanto ao fogo? O Código Penal prevê pena de prisão, de três a seis anos, para quem causar incêndio.

Isso depende do Judiciário, não de mim. A ação serviu para abrir o debate.

Se o senhor for governador, vai mudar o nome do Palácio dos Bandeirantes, da Rodovia dos Bandeirantes e do Monumento às Bandeiras?

Não tenha a menor dúvida. Não depende de mim, mas eu mandaria, como governador, um projeto para a Assembleia.

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Como o senhor vê a briga de vacina entre João Doria e Jair Bolsonaro?

É preciso condenar o boicote promovido pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele foi responsável direto pela explosão do número de mortos no Brasil desde o início da pandemia. Sem falar nos medicamentos de eficácia não comprovada e na política de imunidade de rebanho. Quanto ao Doria, ele não deveria ganhar méritos por não ser negacionista. Teve um papel importante de estimular o Instituto Butantan na busca pela CoronaVac, mas ele não é o pai da vacina. Os pais são os pesquisadores do Butantan e da Fiocruz, os servidores do SUS. Não podemos esquecer que o Doria falou em privatizar o Butantan. Ele se coloca como homem da ciência, mas tirou recursos da Fapesp (instituição de amparo à pesquisa).

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Como candidato a prefeito, o seu programa de governo previa tarifa zero para o transporte público. Pretende instituir gratuidade no metrô e nos trens, por exemplo?

As nossas discussões começaram agora. Até o fim do ano devemos ter um programa mais bem estruturado para as áreas, como a de transportes. Mas já digo o que faremos: vamos acabar com a terceirização no estado. O PSDB é o rei da terceirização. Concede antes de ficar pronto. Não vamos romper contratos, mas, quando ocorrer renovação de concessão, como aconteceu recentemente com a Rodovia dos Imigrantes, vamos rever o modelo. São Paulo nunca mais vai ter pedágio de 30 reais.

Na capital, como o senhor avalia a gestão do prefeito Ricardo Nunes, que assumiu a prefeitura há três meses?

São Paulo não conhece seu prefeito. Qual a trajetória dele? Ninguém conhece. Isso é preocupante. Na campanha, levantamos suspeitas em relação à trajetória dele, há investigações em curso contra ele. Essa pessoa governa hoje a maior cidade da América Latina.

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Publicado em VEJA São Paulo de 18 de agosto de 2021, edição nº 2751

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