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O plano de Tarcísio de transferir a sede do governo estadual para o Centro

Proposta de trocar o Morumbi pelo Campos Elíseos, como quer o governador, não é nova e especialistas questionam

Por Clayton Freitas
20 jan 2023, 06h00
Terminal: 10% da área do Palácio dos Bandeirantes
Terminal: 10% da área do Palácio dos Bandeirantes (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Desde a época da campanha eleitoral, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) deixa clara sua intenção de transferir a sede do governo estadual do Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, para Campos Elíseos, no Centro. É uma mudança tão complexa que, caso ocorra, não é possível garantir que ele será o primeiro inquilino do local, já que, segundo o próprio, será uma obra para quatro anos.

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Tarcísio tem afirmado que a mudança é uma forma de revitalizar a região, que sofre há cerca de trinta anos com os efeitos da Cracolândia. Essa tentativa não é nova e já foi apresentada quando Guilherme Afif Domingos (PSD) era vice do então governador Geraldo Alckmin, entre 2011 e 2015. Dois integrantes da gestão Alckmin que conheceram a ideia à época disseram à Vejinha que a proposta anterior era insipiente por não ter viabilidade econômica (o cálculo é na casa dos bilhões) nem capacidade para absorver os cerca de 1 200 servidores que atuam no Palácio dos Bandeirantes. Além disso, demandaria interferências como fechar a Avenida Rio Branco temporariamente. Procurado, Afif, atual secretário executivo de Projetos Estratégicos de Tarcísio, não quis comentar o assunto. Em nota, a pasta se limitou a dizer que o projeto de mudança “segue em desenvolvimento”.

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Já especialistas levantam questionamentos a respeito da viabilidade e dos reais impactos da medida. Embora considere, em tese, a mudança para o Centro positiva, o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano afirma que ela deve ser feita dentro de uma estratégia urbanística, que aproveite edificações ociosas e promova a habitação de interesse social. “Só assim pode-se de fato reabilitar o Centro.”

As informações divulgadas até agora não contemplam esses dois aspectos citados pelo especialista. O plano de Tarcísio consiste em criar novos prédios, numa espécie de esplanada onde hoje é o terminal de ônibus Princesa Isabel, que deverá ser rebaixado. Os edifícios devem abrigar, além do gabinete do governador, secretarias estaduais (a da Educação já fica na região, na Praça da República). A esplanada também poderá contar com alamedas de comércio e serviços, segundo enunciado do plano de governo de Tarcísio protocolado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), quando ele ainda era candidato.

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Para o arquiteto e urbanista Fernando Atique, professor da Unifesp, a proposta de Tarcísio em criar uma nova sede administrativa parece contraditória, já que o próprio governador afirmou que uma de suas premissas é digitalizar ao máximo os serviços à população. Tanto é que criou uma pasta específica para o tema, a de Gestão e Governo Digital. “Por um lado, temos as instalações já estabelecidas no Morumbi. Por outro, para que trazer isso para o Centro, se o objetivo não é o de atender presencialmente as pessoas? É desperdício de investimento e não tem razão de ser.”

Até 1965, as sedes do governo estadual eram na região central, até ser transferida para o Palácio dos Bandeirantes (confira abaixo).

As sedes do governo estadual de São Paulo
As sedes do governo estadual de São Paulo (Arte/Veja SP)
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Com cerca de 10 000 metros quadrados, o Terminal Princesa Isabel tem pouco menos de 10% da área total do Palácio dos Bandeirantes, com seus 125 000 metros quadrados de área total, sendo 21 000 metros quadrados de área construída. Tarcísio chegou a dizer que ocuparia o Palácio dos Campos Elíseos, porém, a estrutura hoje abriga o Museu das Favelas. Além da questão de infraestrutura, existe outra barreira legal que terá de ser resolvida, já que desde abril de 2022 o Terminal Princesa Isabel é administrado pela concessionária SPE SP Terminais Noroeste S/A, que firmou um contrato via PPP (parceria público-privada) com a prefeitura de São Paulo para administrar o espaço. O valor do contrato, que inclui outros oito terminais, é de 1,8 bilhão de reais e é válido por trinta anos. Embora o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tenha se manifestado a favor da transferência, o contrato não prevê mudança na infraestrutura.

Ceticismo e dúvida: à esquerda, Mariele não quer ficar sem ônibus; já Cléber, à direita, teme que imóveis fiquem caros
Ceticismo e dúvida: à esquerda, Mariele não quer ficar sem ônibus; já Cléber, à direita, teme que imóveis fiquem caros (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Vida real

A notícia dos planos de transferência do governo estadual do Morumbi para o Centro é assunto recorrente entre moradores e comerciantes da região dos Campos Elíseos. Vendedor de carros ha trinta anos, Cleber Silva, 48, diz que teme uma supervalorização do imóvel que aluga. “Na verdade, mesmo a esperanca de melhorar isso aqui (a área) já acabou. E se vierem mesmo? Quem garante que o dono do galpão não vai aumentar o aluguel?”, questiona. A lojista Mariele Ferracini, 37 anos, afirma torcer para que a transferência aconteça, já que pode valorizar o seu apartamento. Porém, diz temer sobre como pegará o ônibus para ir trabalhar. “Todo dia ouço falar disso e ninguém esclarece nada”, afirma.

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