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O pinguim natalino

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 15h23 - Publicado em 13 dez 2013, 18h00

Sou encarregado das decorações natalinas pela primeira vez neste ano. Sempre faço o peru e a farofa, aquela, americana, da minha saudosa avó Ida. E, modéstia à parte, o rango funciona. Mas nunca me deixaram mexer nos enfeites. Podia dar um palpite ou outro. Segurava uma escada, trocava uma lâmpada, desembrulhava as luzinhas, porém ninguém ouvia, nem levava em conta a minha opinião sobre o projeto estético do fim do ano.

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Mas desta vez é diferente. O projeto é todo meu, desde o conceito até a finalização. Por onde começar? Renas? Papai Noel no telhado? Árvore de verdade ou de plástico? Vamos fazer os biscoitos natalinos? Descubro que são muitas as decisões. Resolvo começar pela Rua 25 de Março. Gosto dessa região do centro. É antiga e animada. Junta uma energia que me atrai. Mas não me lembro de tê-la frequentado nunca na época das festas. Cheguei a ser desaconselhado a ir para lá na alta temporada. “Pirou?” — foi essa, inclusive, a primeira frase que ouvi ao anunciar minha intenção de fazer compras no local. “A 25? No Natal?”, espantou-se minha filha, Maria. “Não leve a carteira!”, acrescentou a Rose, nossa cozinheira. Ela se preocupa comigo. Acredita que os malandros vão tirar proveito da minha ingenuidade gringa. Não sei por quê.

Consigo convencer Maria, e seu namorado, Akira, a me acompanhar. São aventureiros urbanos. Destemidos. Partimos da Estação Sumaré do metrô, por volta das 8h30, rumo à São Bento. Sugiro pegar a Linha Amarela e trocar na Sé. Dizem que sou louco (mais uma vez). Convencem-me a ir pela Linha Azul (eles têm razão, diga-se). Chegamos com tranquilidade e descemos a Ladeira Porto Geral até a 25 de Março. É uma delícia, um movimento intenso mas alegre, com um sol lindo de primavera. As lojas de fantasias abrem as portas de aço de enrolar, com o barulho característico. Sou surpreendido por uma versão feminina e sexy do Papai Noel. Como tal personagem deveria ser chamada? “Mamãe Noel” não lhe faz justiça. Não é essa a pegada. Nunca me ocorrera associar o Natal ao erotismo. Vivendo e aprendendo.

A primeira parada é na lojinha Armarinhos Fernando, na esquina da 25 de Março com a Lucrécia Leme, onde achamos um pinguim que bate as asas enquanto canta o clássico natalino Rocking around the Christmas Tree, imortalizado pelo filme Esqueceram de Mim. Na barriga da ave está a frase em espanhol: Feliz Navidad. O pinguim vem alegrando meus dias. “Representa a globalização do Natal”, reflito: um nativo da Antártica, a serviço do Papai Noel, do Polo Norte, feito na China, cantando em inglês, com dizeres em espanhol no peito, à venda na 25 de Março, em São Paulo.

Mas era apenas o começo. Vimos ainda árvores de Natal em laranja-fogo e cor-de-rosa-explosão, sem falar das renas feitas de arame dourado em tamanho natural (1 900 reais no cartão ou 1 800 em dinheiro). Deu muita vontade de mandar entregar um bicho desses no sítio do meu amigo Tota. Mas Maria não deixa. Ainda bem. No fim, imbuídos do espírito do Natal globalizado, felizes da vida, entramos no McDonald’s para tomar o café da manhã. Sabe o que preparavam? Pão francês na chapa. Aos montes. Juro! Nada mais paulistano.

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