Por duas semanas de abril de 2010, o espetáculo O Idiota — Uma Novela Teatral causou impacto em quem o viu, além de um certo arrependimento naqueles que recearam enfrentar suas quase sete horas de duração. Realmente, a encenação da diretora Cibele Forjaz para o romance do russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) exige do público muitíssima disposição e boa vontade. Estruturada em três partes, como um folhetim, a adaptação de Aury Porto, Luah Guimarãez e Vadim Nikitin voltou ao cartaz no Galpão do Sesc Pompeia dividida em duas sessões ou na íntegra. Pode parecer um programa exaustivo. O resultado, porém, é uma montagem de surpreendente comunicação.
Aury Porto interpreta o bondoso príncipe Míchkin. Ao voltar a São Petersburgo, ele se apaixona pela desejada Nastácia Filíppovna (papel de Luah Guimarãez) e ainda se envolve com a sonhadora Aglaia (Lúcia Romano). Justificando a novela do subtítulo, os adaptadores e a diretora investem na passionalidade dos personagens e nos acontecimentos paralelos. Eliminada a divisão do palco e da plateia, o elenco (completado por Fredy Allan, Luís Mármora, Sergio Siviero, Silvio Restiffe, Sylvia Prado, Vanderlei Bernardino e Otávio Ortega) caracteriza-se diante do público e promove sutis interações. A beleza plástica, vista em cenas como a ambientação da estação de trem, salienta a criatividade do grupo. Mas a maior ousadia é deixar a pretensão de lado e tornar Dostoiévski palatável para o espectador.
AVALIAÇÃO ✪✪✪✪