“O centro será a grande marca do Bruno Covas”, diz novo subprefeito da Sé
O coronel da reserva Marcelo Salles defende reforma do Anhangabaú, fala sobre moradores de rua e afirma que São Paulo é credora do padre Julio Lancellotti
Com 83 milhões de reais previstos para 2021, a Subprefeitura da Sé tem o maior orçamento entre as 32 regionais, mas o número é bem menor do que os 100 milhões de reais do ano passado, fora a inflação. O que vai deixar de ser feito para fechar a conta?
Sempre existe a possibilidade de propormos um aumento no segundo semestre. Na semana passada tive reuniões quanto ao orçamento e devemos alcançar 101 milhões de reais a partir de agosto.
Mas se a crise financeira e sanitária não permitir o aporte, algo vai precisar ser cortado. O que será?
Renegociaremos contratos, sempre com o cuidado de identificar determinada área que possa estar superestimada. Conseguiremos adequar, sim. Sabemos que os desafios estão presentes. Temos de nos pautar por esse princípio da eficiência. Atingir mais, com menos custos. É possível, sim.
Otimista o senhor, não?
Aprendi isso com o ex-governador Mário Covas. Tem de ter esperança sempre. Trabalhei como oficial da segurança dele quando era tenente, entre 1998 e 2001, até a sua morte.
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O prefeito Bruno Covas morou com o avô no Palácio dos Bandeirantes nesse período. Os senhores se conheceram lá?
Não só o Bruno, que sempre foi muito educado e simpático, como toda a família. Eu me lembro do Bruno fazendo aula na autoescola para tirar carteira de motorista. Tenho muito carinho por todos. Depois que o governador faleceu, a dona Lila (esposa de Mário Covas) me deu um relógio que ele havia ganhado do Silvio Santos. Nunca ousei usar o relógio e o guardo com carinho até hoje. O Mário Covas foi um grande personagem paulista.
Como o senhor vê a atual situação do prefeito, que descobriu novos pontos de câncer?
Ele vai superar. Além de ser um amigo estimado, é uma pessoa que tem muita esperança. O câncer, no passado, foi muitas vezes uma sentença de morte. Hoje não é mais. Esse ato dele, de dar publicidade, é uma demonstração clara de segurança e respeito às pessoas.
Por falar em pessoas, o número de moradores de rua cresceu muito durante a pandemia na cidade, em especial no centro. Há casos de famílias inteiras vivendo em calçadas. Embora as subprefeituras não sejam encarregadas das políticas assistenciais, elas são a face mais próxima a esse público. O que o senhor pretende fazer com os sem-teto da região central?
A pandemia foi um meteoro que atingiu o mundo, o país e, claro, a nossa cidade. Nas periferias, com a crise e a diminuição da oferta de comida, houve um êxodo para o centro. Quando eu assumi o comando-geral da PM (em 2018), algumas pessoas, até com formação acadêmica, me pediam para acabar com a Cracolândia. Agora, recebo mensagens no Instagram com pedidos no mesmo sentido. Ora, como acabar? Esconder o problema? Levar para debaixo do viaduto? Claro que não.
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Se não acabar nem resolver, como amenizar a situação?
Esse não é só um problema de São Paulo. Como oficial da Polícia Militar, conheci Nova York, Los Angeles, São Francisco, e em todos esses lugares têm problemas. Não é simples e não é fácil resolver.
O padre Julio Lancellotti é criticado por parte de alguns setores da sociedade por causa do seu trabalho com os moradores de rua e usuários de droga. Qual a sua opinião sobre a atuação dele?
O padre Julio é um homem cristão, temente a Deus, que cumpre seu papel. Ele tem contribuição histórica com a população em situação de rua. São Paulo é credora do padre Julio.
“Muitos prédios que abrigavam bancos até recentemente poderão virar universidades”
Sucessivos governos fracassaram na promessa de revitalizar o centro. No máximo tiveram realizações pontuais. Por que ninguém conseguiu levar novos habitantes para a região? A atual gestão aposta na reforma do Anhangabaú, criticada por ser cara demais e verde de menos.
Não consigo falar pelos anteriores. Temos em andamento inúmeras ações, como o Projeto de Intervenção Urbana (PIU) do centro, o Parque Augusta, os novos calçadões, a concessão do Mercadão, a abertura do Edifício Martinelli para os turistas. O Anhangabaú será uma obra grandiosa, que dará um retorno de 250 milhões de reais por ano. Acredito que é possível a gente devolver ao centro a pujança que sempre teve. Pode anotar: o centro será a grande marca do Bruno Covas.
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Mas para isso é preciso combinar também com as empresas, que vão sistematicamente deixando a região. Agora, com o home office, o esvaziamento acelerado de prédios comerciais poderá ser a pá de cal no centro da cidade, não?
Não, pelo contrário. É uma região fértil para empresas do terceiro setor. Telemarketing, prestação de serviços, coworking. Muitos prédios podem passar por retrofit. A oportunidade é agora. A oferta vai melhorar a vocação de alguns edifícios. Muitos locais que abrigavam bancos até recentemente poderão virar universidades.
O senhor deixou o comando-geral da Polícia Militar no ano passado, após as mortes ocorridas em um baile funk em Paraisópolis. Credita-se a saída a um possível descontentamento com o governador João Doria, que mandou afastar os policiais envolvidos, quando sua avaliação era esperar o fim das investigações. Ficou alguma rusga ou mágoa?
Não. O fato ocorreu em dezembro (de 2019). Eu deixei o comando em março (de 2020). A minha colocação naquele fato é a defesa do processo legal devido. Havia dois inquéritos, um da PM e outro da Civil, e o que eu sempre defendi é o mesmo para qualquer pessoa. A Constituição garante que haja o devido processo legal, e pelo fato de a pessoa ser policial militar não poderia ser diferente. Mas não tenho mágoa, não.
Sua passagem pela subprefeitura pode ser curta, pois o senhor é o segundo suplente do PSD na Câmara Municipal e pode assumir um mandato caso dois vereadores do partido se elejam deputados no ano que vem, o que não seria difícil. Trabalha com essa hipótese?
A possibilidade existe, é real, mas tenho de desenvolver o meu papel. Hoje o lugar mais importante para mim é a Subprefeitura da Sé. Eu tinha convite para trabalhar na iniciativa privada, até com salário maior, mas fiz essa opção.
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Publicado em VEJA São Paulo de 05 de maio de 2021, edição nº 2736