Novos prédios multifuncionais viram alternativa de aluguel em São Paulo
Com mais áreas comuns e serviços de hotelaria, empreendimentos atraem moradores em busca de contratos flexíveis e unidades mobiliadas
Tem mercado, academia, espaço de trabalho compartilhado, banho de pet e até café da manhã. Nos novos empreendimentos multifuncionais lançados em São Paulo, tudo se resolve sem sair de casa. Com contratos de aluguel mais flexíveis e uma profusão de serviços e áreas comuns, os prédios superequipados estão se tornando a alternativa favorita de quem quer economizar tempo morando na capital.
“Com a minha rotina agitada e tudo o que preciso decidir no trabalho, prefiro ter o mínimo possível de problemas para resolver”, diz Diogo Barbosa, 35, empresário do ramo de marketing digital. Na unidade Housi Bela Cintra, onde mora há quatro anos, as facilidades incluem serviço de limpeza e manutenção, lavanderia e uma farmácia disponível 24 horas. Academia e coworking são os espaços mais recorrentes nesse formato.
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“Já cheguei a fechar negócios com um vizinho, que engatou conversa comigo na mesa”, conta.
Reduto de lojinhas e pontos gastronômicos (veja abaixo), Pinheiros é um dos principais bairros com opções como essa.
“Aqui tem bastante gente da tecnologia, então o coworking é agitado e criamos um evento periódico entre amigos. As áreas comuns fazem diferença na felicidade da comunidade”, acredita Cauê Cardoso, 41, profissional da área de TI que mora no Ayra Pinheiros, inaugurado em outubro do ano passado. “Começamos um grupo de mensagens para vender móveis, depois outro da galera que faz corrida e o do pessoal que gosta de cozinhar”, conta.
“Nem tudo são flores na relação, mas ainda é infinitamente melhor do que ter que lidar com uma assembleia de moradores e síndico.”
Com acessos pela Avenida Rebouças e pela Rua dos Pinheiros, atualmente a unidade tem 90% de ocupação e funciona em sistema de aluguel long stay (com contratos de três a doze meses). Seguindo o perfil moderno de boa parte dos residentes, a rede instalou uma cabine de gravações de podcast, que pode ser usada mediante reserva (sem custo extra), assim como as salas individuais de reunião.
Importada dos Estados Unidos, a rede Ayra, da Greystar, segue em expansão na cidade e terá sete unidades em funcionamento até 2026. Duas delas serão inauguradas neste ano: uma em Higienópolis e outra com o selo Pininfarina, da marca italiana de design, também em Pinheiros.
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“Esta será a nossa flagship, com menos estúdios e unidades maiores, de 70 a 100 metros quadrados”, descreve Cristiano.
No endereço de Moema, previsto para inaugurar em março de 2025, serão 337 apartamentos, cinema, quadra de tênis e sala de karaokê. “Em Higienópolis, teremos trinta áreas comuns, de que vamos cuidar com ativações, como degustações de vinhos e drinques”, adianta.
Uma das motivações para viver em modelos como esse é a fuga das obras em casa. “Muitos passam de três meses a um ano durante as reformas”, diz Lucas Cardozo, diretor de operações da JFL, que cuida de sete prédios em São Paulo e aluga com contratos que vão de trinta dias a trinta meses. “O morador pode fazer as adaptações que quiser, mas o apartamento vem 100% pronto.”
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“No meu caso, as obras atrasaram, o que sempre acontece”, conta a arquiteta e influenciadora Amanda Ferber, 29, que também escolheu ficar no Ayra Pinheiros. “Gosto do lifestyle, do rooftop coletivo com piscina, churrasqueira e espaços de convivência para receber os amigos. Eu sempre priorizava apartamentos grandes, mas mudei minha visão e agora prefiro o acesso a tudo nas áreas comuns. A única ‘desvantagem’ é ter acesso à lojinha na hora que quiser. Já cheguei a atacar uma barrinha de chocolate às 3 da manhã”, diverte-se.
As comodidades típicas da hotelaria fazem parte do pacote em muitos desses endereços. Com quase setenta empreendimentos em São Paulo, a plataforma Charlie comanda uma versão flagship na Vila Clementino, onde inclui arrumação diária, atendimento de concierges e bufê de café da manhã. Nas unidades da JFL, o enxoval é da grife Trousseau e o café é assinado por Thiago Cerqueira.
“A praticidade de morar em um lugar como esse te dá mobilidade e bem-estar, com poucas preocupações com a rotina”, observa o empresário e designer Rodrigo Trussardi, 58, instalado há quase três anos no JFL 125, em Pinheiros. “Você entra com tudo mobiliado, tem a limpeza diária e ainda um spa. E São Paulo é uma cidade muito fria, muitos nem conhecem o vizinho, então, quem vem de fora acaba fazendo muitas amizades.”
Na mesma onda, o Grupo Emiliano tem investido em sua versão boutique, a V3rso, com opções de locação para longa estadia em duas unidades previstas para 2025: uma torre no Parque Global, localizado entre o complexo Cidade Jardim e o Parque Burle Marx, e um prédio na Alameda Santos, nos Jardins.
“Assim como um hotel leva sua bandeira para um prédio, nós levamos para os residenciais”, resume Alexandre Lafer Frankel, presidente da Housi, que hoje conecta serviços de várias categorias em 180 prédios na capital, como aluguel de carros, adega de vinhos e venda de itens para animais de estimação. “A moradia passa a ser o lugar onde as pessoas se alimentam, trabalham e se conectam.”
Na lista de comodidades, ainda falta investir em energias renováveis, acredita Alexandre. “Isso traz um avanço e deve ser nosso próximo passo.”
Segundo uma pesquisa do Sindiconet, empresa do Grupo QuintoAndar, os painéis solares estão no topo da lista de desejos de 31% dos moradores. A academia aparece logo atrás, com 30,6%, seguida por piscina (21,2%), minimercado (20,6%) e cinema privativo (19,8%). Parte dessas demandas pode ser fruto da pandemia.
“Essa época teve um pico de adoção de animais e a tendência se manteve, então há bastante procura por espaços pet, por exemplo”, diz Thiago Reis, gerente de dados do QuintoAndar.
“Hoje minha vida cabe numa mala”, reflete o chefe de tecnologia Santiago Carrilho, 40. Após vender o apartamento e o carro, o paulistano mudou o estilo de vida e já está passando sua terceira temporada na Vila Mariana, em um dos prédios da Charlie. “Fica perto do metrô, o serviço de limpeza dá uma ‘geralzona’ a cada quinze dias, e já vem decorado. Como a rotatividade é grande, não sofro com as picuinhas de vizinho. E ainda consigo pagar com cartão de crédito em uma conta única”, pontua.
Tudo isso tem um preço, que para muitos compensa: entre as principais empresas atuantes na cidade, os valores mensais variam de 6 000 a 12 000 reais, mas podem chegar a mais de 30 000 reais nas construções de alto padrão. Em todos os casos, o morador chega com o apartamento já mobiliado.
“No Brasil, é uma tendência que promete crescer, embora ainda seja um modelo incipiente”, opina Lucas. “A troca do ‘ter’ pelo ‘usufruir’ é algo que cresce no mundo inteiro, assim como as locações por temporada e períodos mais curtos”, aposta Allan Sztokfisz, CEO da Charlie.
“Inicialmente achávamos que o público mais jovem seria predominante, mas 40% dos nossos clientes têm acima de 42 anos e boa parte deles vem à cidade para cuidar de projetos e negócios.”
Se organizar toda a rotina dentro dos limites do bairro já é uma constante no dia a dia de muitos paulistanos, a evolução desse costume é “resolver a vida” sem sequer pisar na rua. “Alguns prédios são quase como um clube. Perde-se a circulação urbana, mas um dos ganhos para os moradores é a segurança”, pondera Thiago. “As pessoas querem o lazer completo.”
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Rua Joaquim Antunes
› Le Jazz Boulangerie (501)
Rua dos Pinheiros
› Bráz Trattoria (412)
› Livo Ótica (272)
› Edifício Ayra (423)
Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto
› Hela Spice Brasil (72)
› Katsukazan (174)
› Liberty Barber Club (186)
› King55 (190)
Rua Mateus Grou
› Dod Alfaiataria (540)
› Misci (597)
Rua Francisco Leitão
› Z Deli (16)
Rua Benjamim Egas
› Sede 261 (261)
Publicado em VEJA São Paulo de 20 de setembro de 2024, edição nº 2911