“Eu também sou negra”, diz artista plástica acusada de racismo
Criadora da boneca <em>Neguinha do Espanador</em>, Rita Caruzzo afirma que sua obra foi mal interpretada. O brinquedo integra mostra no Shopping Market Place
Um objeto inofensivo, à primeira vista, tornou-se alvo de polêmica na última segunda (26). Integrante da mostra Mail Art Cupcake Surpresa, em cartaz no Shopping Market Place, a boneca batizada de Neguinha do Espanador aparece em trajes carnavalescos e adornada por plumas retiradas de um espanador.
Alguns visitantes da exposição consideraram a obra preconceituosa e manifestaram indignação nas redes sociais. A ativista negra Luana Tolentino publicou uma crítica severa em sua página do Facebook: “É assim que somos representados. Durante a vida toda. Como seres inferiores, despossuídos de beleza e inteligência. Relegados a profissões de menor prestígio”.
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Em conversa exclusiva com VEJA SÃO PAULO, a artista plástica Rita Caruzzo diz ter recebido ameaças pelo telefone: “Precisei fechar o ateliê e até tirei a placa com o meu nome da porta”. Segundo ela, a obra foi mal interpretada. “Eu também sou negra e tenho orgulho da minha origem”, disse.
Rita se defende alegando que se trata de uma mulata típica do Carnaval. O espanador teria servido apenas como matéria-prima para a fantasia. “Quis mostrar que, com criatividade, podemos fazer arte a partir de materiais disponíveis a todos.”
Formada pela Faculdade de Belas Artes (atual Centro Universitário Belas Artes), ela dedica-se a ensinar desenho e pintura a crianças, idosos e pessoas com deficiência em um espaço na Zona Leste da cidade.
A polêmica boneca foi criada para a 4ª edição do Mail Art, em dezembro de 2013, projeto do Museu Brasileiro de Esculturas (MuBE) em parceria com a Estrela. Na ocasião, a fabricante de brinquedos enviou, via Correios, bonecas da linha Cupcake Surpresa “em branco” para mais de 200 artistas. A proposta era que cada um deles personalizasse a garotinha com roupas, pinturas e cenários, misturando moda e arte.
Embora a Neguinha do Espanador tenha sido apresentada no fim de 2013 (ela ficou exposta no MuBE durante o mês de dezembro), ninguém havia contestado a obra. “Prova disso é terem selecionado apenas oitenta bonecas do projeto inicial para integrar a mostra no Shopping Market Place”, pondera Rita.
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Em nota, a Estrela diz ter apenas fornecido as bonecas “cruas” ao projeto e que não tem responsabilidade sobre as peças finais. A mostra segue em cartaz até o dia 8 de fevereiro, no piso térreo do Shopping Market Place. O MuBE se pronunciou contra qualquer tipo de segregação e defendeu a liberdade nos processos criativos. “O maior intuito do projeto sempre foi a inclusão sociocultural dos artistas participantes e o público, celebrando a diversidade e a pluralidade de expressão”, diz o texto.
Segundo a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a ouvidoria recebeu diversas denúncias e está apurando o caso com as partes envolvidas. A Lei 7716/89, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou cor, prevê pena de reclusão de um a três anos mais o pagamento de multa em dinheiro. “Se for acusada judicialmente, vou me defender”, afirma Rita. “A arte é minha paixão.”
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