Mulher leva 26 anos para conseguir se divorciar de ex-marido no Rio
Cleusa Ferreira da Cruz apelou para um textão no Facebook; só assim ex-companheiro assinou a documentação
“Sou Cleusa Ferreira da Cruz. Nome de divorciada, tá?”, diz a cabeleireira de 51 anos, que faz questão de enfatizar seu atual estado civil. Não era para menos: estamos falando de alguém que levou 26 anos (!!!) para conseguir se divorciar.
O processo todo durou de fevereiro de 1993 até o dia 8 de maio de 2019. Uma verdadeira saga, nas palavras da própria Cleusa, que mora na comunidade de Rio das Pedras, periferia do Rio de Janeiro.
Infeliz no casamento de cinco anos que mantinha com Denilson Florenço, a cabeleireira tentou formalizar a separação com o rapaz várias vezes. Em todas elas, Denilson se recusou a assinar, ou se ausentou das audiências para assassinar a papelada. Durante o tempo que estiveram juntos, o casal teve um filho: Denilson Florenço Jr, hoje com 29 anos.
Cleusa só conseguiu dar fim nessa história quando decidiu expor o antigo companheiro nas redes sociais. Cansada de levar “bolo” de Denilson, a cabeleireira postou uma foto do rapaz no Facebook junto com um textão, no qual contava a epopeia para conseguir se separar.
“Hoje você me fez passar mais um dia de raiva e vergonha esperando você para assinar o documento e não apareceu. Pois então vamos resolver isso de outro jeito, ok?”, escreveu. “Não quer ficar casado, seu babaca? Então aguenta as consequências. Sua mulher, essa pobre coitada que não abre a boca para nada, ainda foi com você de mão dada e você não quis assinar”. Segundo Cleusa, Denilson hoje é casado.
A publicação na página cabeleireira explodiu em compartilhamentos na internet. Até a publicação desse texto eram mais de 126 000. Em conversa a VEJA SÃO PAULO, a cabeleireira afirma ter publicado o texto pois seria uma forma de fazer a mensagem chegar até Denilson. Ela disse que o ex-marido não tem redes sociais, nem telefone.
“Fiz aquele texto para chamar a atenção dele. Para ver o que ele ia fazer. Ele não tem nem Facebook, nem Instagram, nem telefone. A mensagem acabou chegando até ele pelo povo”, relata.
Poucos dias depois, Cleusa finalmente conseguiu que o antigo companheiro assinasse o seu divórcio.
Antes disso, ela contou outras três vezes que tentou encontrar Denilson para encerrarem de vez esse assunto. A primeira ocorreu em 1996.
“Entrei em contato com a mãe dele para convencê-lo a assinar. Ele topou. Fomos até o lugar marcado. Chegando lá, nos informaram que precisávamos ir a outra Vara da Família. Ele não quis me acompanhar”, conta. “Falou que era para eu resolver tudo isso primeiro e depois chamá-lo novamente”.
Cleusa não conseguiu.
Alguns meses depois, a cabeleireira conseguiu convencer Denilson outra vez. Quando esperavam o juiz, Cleusa afirma que o antigo companheiro reclamou que estava demorando muito. “Ele simplesmente levantou e foi embora”, diz ela, que precisava da documentação porque ia se casar novamente. “Estava tudo contratado para o novo casamento. Eu chorei para caramba.”
E outra vez, Cleusa não conseguiu.
Passando um tempo, a cabeleireira voltou a entrar em contato com o antigo companheiro. Como ia fazer uma viagem para o exterior, Cleusa tinha de regularizar sua situação para emitir o passaporte. Denilson simplesmente não apareceu no dia da audiência.
E, novamente, Cleusa ficou a ver navios.
Atualmente, a mulher diz que está solteira e garante: “casamento nunca mais”. Mesmo após todos esses transtornos, hoje Cleusa leva a situação com bom humor: “Deixa o casamento para lá. Mas meu coração não fica abandonado, não, viu?”.
Assim como Cleusa, a reportagem tentou contato com Denilson. E não conseguiu.