Motoristas sofrem com arrastões em vias expressas
Presos nos congestionamentos, condutores viram vítimas fáceis dos assaltantes na capital
Enquanto a polícia ainda luta para debelar na cidade os constantes roubos a caixas eletrônicos praticados com explosivos, outro tipo de crime começa a se alastrar por aqui com uma frequência preocupante: os arrastões feitos por bandidos nos congestionamentos.
Presos no trânsito lento, os motoristas se tornam vítimas fáceis diante das ações dos ladrões, que avançam sobre os carros armados de pedras e barras de metal para quebrar os vidros e subtrair das vítimas bolsas, celulares, carteiras, computadores e aparelhos GPS.
Os casos se concentram nas marginais, sobretudo na Pinheiros, nas faixas do sentido Interlagos, que oferecem mais rotas de fuga pelas imediações e concentram a passagem de veículos dos moradores da região do Morumbi. Embora em menor frequência, as pistas da Tietê também registram ocorrências semelhantes.
No início do mês, militares da Rota mataram dois suspeitos de um roubo, numa perseguição realizada nas proximidades do Viaduto Imigrante Nordestino, na Zona Leste. “Não podemos deixar que esses ataques virem a nova moda da temporada”, afirma o tenente-coronel Helson Camilli, um dos responsáveis pelo policiamento de parte da Marginal Pinheiros.
As ações começam depois do entardecer, quando a fraca iluminação das marginais, com lâmpadas de baixa intensidade, muitas delas queimadas, facilita o trabalho dos assaltantes. Para surpreender quem está ao volante, alguns deles se misturam aos ambulantes que circulam entre os veículos vendendo refrigerantes e salgadinhos.
Segundo o coronel Marcos Roberto Chaves da Silva, da Polícia Militar, ocorre hoje uma média de um roubo a cada quatro dias apenas no trecho entre as pontes Engenheiro Ary Torres e do Morumbi. “As viaturas ficam presas no trânsito e, enquanto não passam novamente na área, os ladrões atuam”, diz ele. O 34º Distrito Policial, responsável por essa região, já chegou a registrar sete ataques numa mesma noite. “Mas o crime é subnotificado, pois só uma minoria vem prestar queixa”, afirma o delegado Vilson Genestreti.
Condutores distraídos, de vidros abertos, falando ao celular, são as vítimas mais comuns. Em novembro passado, durante um papo animado com uma amiga sentada no banco do passageiro, a despachante Celina Girotto esqueceu a janela aberta e não notou a aproximação de um suspeito. “Ele quase mergulhou dentro do carro”, recorda ela, ao falar sobre o homem que puxou a bolsa do colo da amiga e fugiu a pé pelas ruas do Real Parque.
O frentista Orlan Pereira diz estar acostumado a auxiliar quem acabou de ser assaltado. Gerente de um posto a poucos metros da Ponte do Morumbi, ele conta que pelo menos uma vez a cada quinze dias aparece um motorista com a janela arrebentada pedindo ajuda. “Usamos aspirador de pó para tirar os cacos de vidro, oferecemos água e telefone”, diz. Mulheres entram no posto com frequência e esperam até se acalmarem para seguir viagem ou até o socorro vir buscá-las.
Para combater esse tipo de ação, as forças de segurança aumentaram recentemente o policiamento ostensivo na área. Nas últimas semanas, um helicóptero Águia da PM sobrevoa diariamente o trecho nas redondezas da Ponte Engenheiro Ary Torres a partir do fim da tarde. As patrulhas de moto também foram reforçadas, com paradas estratégicas em pontos usados para a fuga dos bandidos, como a favela Real Parque. “Começamos a abordar todos os suspeitos que circulam por ali”, afirma o tenente-coronel Helson Camilli.
Na quinta 16, por exemplo, duas pessoas foram detidas nessas blitze. Ambas estavam sendo procuradas pela Justiça. Mas, até o feriado de quinta-feira, não haviam sido reconhecidas pelas vítimas de roubo no trânsito. Além das marginais, outras vias importantes passaram a ser palco de ataques parecidos. Num trecho do Rodoanel Mário Covas, nas proximidades de Osasco, os criminosos bateram um recorde de ousadia. Na segunda (20), um bando colocou cones sinalizadores e interditou as pistas, forçando os carros a reduzir a velocidade. Dois assaltantes acabaram presos e um terceiro conseguiu escapar.
COMO OCORREM AS AÇÕES
1º Entre 17h30 e 19h30, a lentidão nas pistas faz com que os carros reduzam a velocidade e, em alguns momentos, até parem. É nessa hora que os criminosos partem para a ação.
2º As vítimas mais comuns são motoristas distraídos que mantêm o vidro aberto, falam ao celular ou usam o notebook. O ladrão coloca as mãos dentro do carro e pega o que estiver ao seu alcance: bolsa, GPS, computador e telefone. Quando observa algo de valor e a janela está fechada, estoura o vidro com pedras ou barra de metal.
3º Após agirem, os bandidos escapam rapidamente, a pé ou de moto.