Colecionadores pagam até 5.000 reais por carros em miniatura
São Paulo se destaca pela concentração de consumidores de todas as idades, que disputam para ver quem tem mais preciosidades
Uma das maiores fabricantes do mundo de carros em miniatura, a americana Mattel, que produz a popular série Hot Wheels, registra no Brasil cerca de 1,2 milhão de colecionadores de seus modelos. Somente Estados Unidos e Japão ficam na dianteira nesse quesito. No mercado nacional, a cidade de São Paulo se destaca pela concentração de consumidores de todas as idades, que disputam entre si uma corrida para ver quem tem mais preciosidades estacionadas nas garagens de seu apartamento ou casa. Diretor comercial da Semaan, especializada em brinquedos antigos e artigos colecionáveis, o executivo Marcelo Mouawad estima que o número de adeptos na capital paulista gire em torno de 50.000 pessoas. Ele é o organizador de um encontro mensal de aficionados, em uma das sedes da loja, na Rua Cavalheiro Basílio Jafet, no centro. “Cada edição reúne cerca de 500 participantes e registra até 1.500 negociações”, afirma.
Os acervos pessoais variam de acordo com diversos tópicos, como temas, marcas e épocas de fabricação. O engenheiro Eduardo Osamu, de 48 anos, por exemplo, optou por se dedicar exclusivamente a réplicas de modelos usados em filmes e séries de televisão: possui cerca de 500 unidades nas escalas 1:18 e 1:64 (tamanhos que são 18 e 64 vezes menores que os originais). Entusiasta do hobby desde 2003, quando assistiu ao longa “Velozes e Furiosos”, ele estima que gaste 40% do seu tempo livre com pesquisa, aquisição e manutenção das peças. Zeloso, mantém os pneus suspensos para evitar que deformem ou grudem no local onde ficam armazenados. “As extravagâncias que já fiz foram sempre motivadas por aspectos emotivos”, diz. “Como não se trata de um investimento monetário, fica difícil medir o valor sentimental proporcionado”, completa.
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Uma das extravagâncias, no caso, foi ter esperado três anos para colocar uma de suas preciosidades na estante. O objeto em questão é o bólido de seis rodas do Capitão Nemo, personagem do filme “A Liga Extraordinári”a, estrelado pelo ator escocês Sean Connery. Único modelo disponível no mercado, é vendido em um kit de plástico, com as peças separadas. “Aguardei todo esse tempo até encontrar um especialista na montagem. O resultado que ele obteve foi excepcional”, conta. “O veículo possui detalhes incríveis que não se percebem no filme.”
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Ao contrário de Osamu, que enveredou por esse universo já adulto, há os que carregam a paixão desde a infância. O supervisor de compras Nagi Sfeir tinha 12 anos quando iniciou sua coleção. Na época, passava as férias no Líbano e ganhou, de uma só vez, quarenta carrinhos da Matchbox de seus parentes estrangeiros. Hoje, três décadas depois, é dono de mais de 4.000 réplicas de marcas e temas variados. “Tenho estantes espalhadas pela casa feitas exclusivamente para acomodar os meus preferidos”, diz. Ele garimpa novidades na internet, em encontros de colecionadores e feiras de antiguidade, por preços que variam entre 1.500 e 5.000 reais.
Não se trata de exclusividade do universo masculino. A secretária Mônica Keimich conta com um conjunto bem singular de 500 itens, todos em tons de rosa, lilás ou vermelho. Seu interesse nasceu com o filho, Gustavo, hoje com 12 anos. Quando ainda estava grávida, o futuro bebê ganhava uma miniatura por mês de uma tia. Na época do parto, já possuía uma pequena quantidade — que foi crescendo com o garoto. Mônica se interessou pelo hobby e, para diferenciar sua coleção da do filho, optou pelas cores que considera femininas. E, claro, já experimentou impulsos consumistas para incrementar suas prateleiras. “Certa vez, comprei um tênis na Argentina apenas por causa de um carrinho que vinha junto”, conta.