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Mooca: o bairro com alma de imigrante

Região guarda o espírito tradicional mas vem ganhando ares moderninhos

Por Thaís Oliveira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 17 jul 2017, 16h10 - Publicado em 28 abr 2017, 21h21
Parque Fiori Gigliotti: antigo reservatório de água da Sabesp (Vinícius Pereira/Folhapress/Veja SP)
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Um dos bairros mais antigos da capital, a Mooca mantém as tradições dos primeiros chegados, mas abre caminho para mudanças.

REFÚGIO NATURAL
Marcada por galpões abandonados, pequenos comércios e casas organizadas em vilas, a paisagem da Mooca ganhou, há pouco tempo, uma alternativa verde de lazer. Em 2014, a Sabesp transformou um terreno usado como reservatório de água no Parque Fiori Gigliotti.

O nome é uma homenagem ao célebre radialista que morou no bairro por doze anos, na década de 70. Foram instalados equipamentos de ginástica e, para a criançada, há um espaço com brinquedos esculpidos em madeira reciclável. Uma tenda de atividades físicas conta com monitores para orientar práticas como caminhada, ginástica localizada, zumba e lian gong, técnica oriental que previne dores no corpo.

Com 21 200 metros quadrados, o lugar recebe cerca de 200 visitantes em dias úteis e 800 nos fins de semana. É uma boa pedida para quem busca um pouco de sossego em meio à correria.

imóvel sede do Cotonífico Crespi
(Reprodução/Instagram Viva Mooca/Veja SP)

#BELEZAMOOCA
Esta imagem acima foi eleita pelos leitores de VEJA SÃO PAULO para representar a beleza do bairro. Inspire-se nela e poste também suas fotos usando a hashtag #BelezaMooca.

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Imóvel que sediou o Cotonifício Crespi, inaugurado em 1897: há exatos 100 anos, o local foi palco do estopim de uma greve que mobilizou 15 000 trabalhadores

Bar e lanchonete Cadillac Burger, localizado no bairro da Moóca, São Paulo.
Bar e lanchonete Cadillac Burger, localizado no bairro da Mooca: público moderno (Mariana Pekin/Veja SP)

PEDAÇO MODERNINHO
Já há algum tempo, um pessoal de roupas e cabelos diferentões vem dividindo espaço com os personagens folclóricos da Mooca. A invasão hipster foi capitaneada por um morador das antigas, o empresário José Americo Crippa Filho, o Tatá. Depois de inaugurar o Cadillac Burger, em 2012, ele idealizou o Distrito Mooca, projeto cuja missão é revitalizar áreas abandonadas da região. Abaixo, um roteiro para conhecer o lado hipster do bairro.

Hospedaria
Aberto em 2016, serve pratos inspirados nas receitas dos imigrantes pioneiros do bairro. Rua Borges de Figueiredo, 82, ☎ 2291-5629.

Nos Trilhos
Rodeado por marias-fumaça, o antigo galpão é palco de festas, exposições e outros eventos. Rua Visconde de Parnaíba, 1253, ☎ 99203-2803.

Disjuntor
O lugar é um misto de bar, galeria de arte e espaço para eventos e oficinas. Rua da Mooca, 1747, ☎ 2291-2120.

Cateto
De inspiração retrô, o bar é conhecido pelas cervejas especiais e pelos petiscos. Rua Fernando Falcão, 810, ☎ 2367-7521.

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Fachada da primeira fábrica da Alpargatas, na Mooca.
Fachada da primeira fábrica da Alpargatas, na Mooca (Divulgação/Veja SP)

LEGADO INDUSTRIAL
A mistura de nacionalidades que forjou a identidade da Mooca deve muito à industrialização. No século XIX, o bairro recebeu milhares de imigrantes espanhóis, portugueses, lituanos e italianos para fazer girar as fábricas que se instalaram ali por causa da sua proximidade com as principais vias de distribuição da metrópole.

Algumas indústrias do local foram a Alpargatas e a Grow, essa última fundada em uma garagem do bairro e que se tornou a mais importante fabricante de jogos de tabuleiro do país. A partir dos anos 50, essas empresas acabaram migrando para regiões mais distantes, atraídas por incentivos fiscais e facilidades logísticas.

De lá para cá, o bairro assistiu à despedida de empresas como Companhia de Calçados Clark, Antarctica, união e Arno, que se mudou no ano passado. Única a resistir às mudanças fabris, a marca de chuveiros Lorenzetti continua operando em solo mooquense, em um complexo na Avenida Presidente Wilson, que funciona desde 1923.

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Elídio Raimondi, dono do Elídio Bar.
Elídio Raimondi, dono do Elídio Bar: fregueses como José Serra (Mario Rodrigues/Veja SP)

O REI DOS ACEPIPES
Em 1959, então recém-chegado ao bairro, Elídio Raimondi fundou uma das mais respeitadas instituições mooquenses. São-pau lino, ele forrou as paredes do bar que leva seu nome com camisas de futebol e fotografias de balonismo, duas de suas grandes paixões.

O bom papo do dono e o chope de colarinho cremoso conquistaram fregueses como José serra, nascido e criado na região. Ficava sob os cuidados de seu Elídio a farta bancada de acepipes vendidos por quilo, com mais de 100 opções. Desde a morte dele, em 2012, suas três filhas assumiram o controle do bar, que ganhou ares bem mais arrumadinhos após uma reforma. A casa tem ainda uma filial no Mercado Municipal.

DA MOOCA, BELLO!
Conheça expressões e gírias da língua “própria” falada pelos descendentes de italianos do bairro

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“Ue, paesano!” – Do italiano paese (país), algo como “E aí, vizinho?”
“Patsa” – Pessoa que só faz besteira
“Punto e basta, zéfini” – É isso aí, ponto final
“Guai” – Garoto-problema
“Fazer cinquina na tômbola” – Completar linha no bingo
“Questo num vale uma ruela!” – Esse aí não vale nada
“empinar capucheta” – soltar pipa
“Área!” – sai!
“Mas que salame!” – Que confusão!
“Na maior vula”- Muito rápido, em alta velocidade

revolução de 1924 externato mattoso
Externato Mattoso, na Mooca: metralhado durante a Revolução de 1924 (Estadão Conteúdo/Veja SP)

GUERRA ESQUECIDA
Um dos primeiros colégios a funcionar na Mooca, o Externato Mattoso ganhou fama trágica depois de ter sido metralhado em um ataque durante a Revolução de 1924. Em 23 dias, o conflito deixou 504 mortos — entre os quais, muitos moradores do bairro — e cerca de 5 000 feridos.

Desativado completamente nos anos 70, o lugar foi parcialmente restaurado por uma pizzaria que hoje ocupa o imóvel, mas sua história ainda vive na memória dos antigos moradores que passam pela Rua dos Trilhos. uma chaminé crivada de balas de canhão da antiga usina de Força, na Luz, é a única marca que resta hoje da revolta.

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festa são gennaro
Festa de San Gennaro: edição desse ano começa em 9 de setembro (Arquimedes Nakahara/Veja SP)

FOLIA PARA O SANTO
Todo ano, cerca de 300 voluntários reúnem-se para tirar a Festa de San Gennaro do papel. A homenagem ao padroeiro do bairro é embalada a vinho e quitutes preparados pelas mammas italianas: polenta, fogazza, pizza, doces e muita, muita macarronada. A cantina onde rolam shows de música e danças típicas chega a receber 800 pessoas por noite, enquanto mais de 3 500 circulam pelas barraquinhas. A edição deste ano começa em 9 de setembro.

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Pelé, do Santos, marcando um gol contra o Juventus, no estádio Conde Rodolfo Crespi, durante o Campeonato Paulista (José Dias Herrera/Veja SP)

ARENA QUERIDA
Foi numa partida entre o santos e o Juventus que Pelé marcou o gol que considera o mais bonito de toda a sua carreira. A cena ó foi vista por quem estava no estádio da Rua Javari naquele 2 de agosto de 1959. De lá para cá, o lugar sediou outros jogos históricos, como o 1 a 0 contra o Palmeiras que livrou o Juventus do rebaixamento no Paulista de 1969. o clube é benquisto até por quem jamais vestiu o uniforme grená. Todo domingo, juventinos e não juventinos fazem fila para acompanhar o time e saborear um cannolo na arquibancada.

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