Grafiteiro faz sucesso ao pintar Mona Lisa dançarina nos muros de São Paulo
Professor de artes da rede pública de ensino adaptou musa de Da Vinci para fazer crítica a subcelebridades
O grafiteiro e professor de artes Tiago Angelo Ramos da Silva nunca foi ao Louvre. Nem precisava. Conheceu a mais ilustre obra do assombroso museu parisiense, a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, como grande parte do mundo: por meio de reproduções. E foi com uma delas que ele começou a fazer sucesso pelas ruas de São Paulo.
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Tiago, ou Tars, como resolveu ser chamado após inventar um acrônimo com suas iniciais, adaptou o rosto e o sorriso enigmáticos da Gioconda ao corpo de uma dançarina de vestido curto, coxas largas e salto alto. Em 2012, ele espalhou a figura pelas muros de Poá, cidade na Grande São Paulo onde vive e trabalha. O sucesso da figura foi imediato. Em pouco tempo, a imagem começou a se proliferar nas redes sociais. Não raro havia postagens de pedestres posando ao lado da obra-prima de Tars.
A pose da Mona Lisa de Tars remete rapidamente a uma dançarina de funk. E foi assim que ela acabou sendo espalhada no Instagram, após ganhar as hashtags #monadofunk e #Monalisafunkeira. Apesar da fama, o autor nega que essa tenha sido a sua intenção.
“As pessoas interpretaram o desenho de outra forma. Ela não é necessariamente uma funkeira, mas, sim, uma representação dessa arte, que glamouriza e chama de artista qualquer um que vá rebolar na TV. É uma crítica que eu faço a essas subcelebridades”, afirma Tars. “Para chamar a atenção a esse tema, adaptei o rosto do quadro mais famoso do mundo a esse estereótipo comum em nossa sociedade.”
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Funkeira ou não, o fato é que a Mona Lisa dançarina deixou as ruas de Poá e ganhou os muros da capital. Sozinho, o grafiteiro leva na bolsa o stencil que utiliza para reproduzir a imagem, o que já fez em quase todas as regiões da cidade. De São Miguel Paulista, na Zona Leste, ao Ibirapuera, na Zona Sul, passando pelo centro, inclusive em locais como a Praça da Sé e a Praça das Artes, Tars deixa sua marca.
Professor do ensino médio na rede estadual, ele aproveita o know-how que possui para mostrar aos alunos o valor da arte de rua. “Sempre quando abordo o grafite eu ensino como é feito o stencil, como se desenha. Deixo eles tentarem. Também faço trabalhos comunitários pintando muros de escolas e realizando oficinas de grafite na periferia”.
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Mesmo distante do reforçado sistema de segurança que protege a obra de Da Vinci, a Mona Lisa está segura com Tars. Pixadores que costumam “atropelar” grafiteiros, pintando por cima de desenhos para marcar território, ainda não apareceram. “Em São Paulo, o pessoal tem respeitado bastante. O que é bom, pois vou continuar a espalhar a imagem por aí”.