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“Minhas Tardes com Margueritte” retrata amizade de dois solitários

Adorável drama francês tem no elenco Gérard Depardieu e Gisèle Casadesus

Por Miguel Barbieri Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 18h03 - Publicado em 28 Maio 2011, 00h50

Gérard Depardieu é um caso raro na cinematografia mundial. Aos 62 anos, esse grande ator francês contabiliza mais de 180 papéis em uma carreira de quatro décadas. Para se ter uma ideia, entre longas-metragens em filmagem ou em fase de pré-produção, ele tem onze trabalhos programados até 2012. Soma-se a seus bons desempenhos Germain, protagonista de “Minhas Tardes com Margueritte”, um drama encantador que aborda valores praticamente esquecidos nos roteiros atuais.

A forma roliça do astro cai bem para o físico de Germain. Ele mora num vilarejo de Charente-Maritime, no centro-oeste da França, vive de bicos e namora uma motorista de ônibus. Tipo humilde e de coração sem tamanho, teve uma infância problemática ao lado da mãe destemperada e, com dificuldades no ensino, cresceu complexado, sobretudo pelas humilhações sofridas por não saber ler perfeitamente. Esse cara bonachão, porém, vai ganhar uma chance de ouro ao conhecer a simpática velhinha Margueritte (a atriz Gisèle Casadesus) numa praça. No contato diário com a letrada nonagenária, Germain descobre a riqueza dos livros através de clássicos como “A Peste”, de Albert Camus.

O tema pode parecer árido, mas o experiente diretor-roteirista Jean Becker (de “Conversas com Meu Jardineiro”) tira da frente qualquer sinal de marasmo ou literatice, injetando certo humor nos conflitos dramáticos. Em seu arguto registro do interior francês, há personagens periféricos interessantes, a exemplo da mãe de Germain (interpretada pela ótima Claire Maurier) e do amigo à procura de uma namorada (o estreante no cinema Matthieu Dahan). No centro da trama, contudo, está a improvável amizade de Germain e Margueritte. Nascida do acaso, a união deles consegue arrebatar a plateia pela extrema dedicação de um com o outro. Enquanto ele se torna mais culto, ela ganha um companheiro nas tardes solitárias. E, assim, o espectador se vê fisgado em meio a histórias íntimas tratadas com autenticidade, alguns clichês e muita sensibilidade.

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