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Medo de furtos em cemitérios faz famílias adotarem medidas alternativas

"Ninguém aguenta mais", desabafa o advogado Aguinaldo Cunha; o túmulo dos avós dele foi roubado no ano passado no Cemitério do Araçá

Por Estadão Conteúdo
6 ago 2018, 13h39
Imagens de túmulos dentro de um cemitério
Cemitério do Araçá: túmulos furtados (Reprodução/Facebook/Veja SP)
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Latão, acrílico, alumínio, placa automotiva e até grafite. Na cidade de São Paulo, famílias têm optado por materiais menos tradicionais para adornar os túmulos e jazigos de entes queridos. Mais do que economia, o principal motivo são os frequentes furtos em cemitérios municipais da capital, especialmente de peças de bronze.

“Ninguém aguenta mais”, desabafa o advogado Aguinaldo Cunha, de 64 anos. Em 2017, ele teve a porta, o crucifixo e vasos roubados do túmulo dos avós maternos no Cemitério do Araçá, no Cerqueira César, Zona Oeste.

Em julho, foi a vez do jazigo da família paterna ter cinco das quinze placas de identificação furtadas no Cemitério São Paulo, em Pinheiros, na mesma região. No primeiro caso, as peças foram substituídas por itens mais pesados e de latão. “A guardadora (do jazigo, no Cemitério São Paulo) contou que, todos os dias, ruas inteiras são roubadas e os túmulos, saqueados”, diz. Situação semelhante foi confirmada por um funcionário do espaço. “Está abandonado.”

Ao visitar o local há duas semanas, a reportagem encontrou dezenas de jazigos abertos, com urnas evidentes, e nenhum policiamento. Em um deles, se improvisou uma placa de metal sobreposta com dois pedaços de madeira, nos quais foram escritos o nome da família. Perto dali, uma imagem de Jesus Cristo de mais de 1 metro estava caída, de cabeça para baixo.

A reportagem também visitou o Cemitério da Consolação e o do Araçá e o Cemitério da Quarta Parada, na Zona Leste. Neles, a ronda da Guarda Civil Metropolitana (GCM) foi vista, embora grande parte dos túmulos e jazigos também fosse alvo de furtos, de acordo com os funcionários.

“Bronze até parou de se fazer por causa dos furtos”, diz um fabricante que atende o Cemitério da Quarta Parada. “Já faz alguns anos. Agora está só mais escancarado.” Por lá, a maioria das placas que restam é de chapa de aço inox ou latão – incluindo a do ator Domingos Montagner, que morreu afogado em 2016 em Sergipe, onde gravava da novela Velho Chico, da TV Globo.

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No caso do jazigo da família da empresária Vera de Carvalho Enderle, de 59 anos, a solução foi mais criativa. Ao visitar o túmulo no Araçá após um furto, em 2016, pensou: “o único jeito de ninguém roubar é pintar”. Decidiu, então, contratar o grafiteiro Katota, amigo de seu filho, que pintou o espaço de amarelo e desenhou flores. No ano passado, após novo furto, optou por sinalizar o nome dos parentes com placas automotivas adaptadas.

“Já pensou isso tudo colorido? Pessoas andando com criança, encarando a morte com mais alegria?”, indaga. Impressionada com os furtos no local, chegou a denunciar a situação ao Ministério Público e apontar uma solução: um mutirão de grafite nos jazigos abandonados ou que tivessem autorização da família. “A presença dos artistas e visitantes reduziria muito a ação dos ladrões.”

Como inspiração, propõe uma mistura entre dois dos pontos mais turísticos de Buenos Aires: o frequentado Cemitério da Recoleta e a colorida rua El Caminito. A proposta tem exemplos próximos, como o Cemitério São Pedro, de Londrina (PR), e o Cemitério Municipal 2 de Novembro, em Esteio (RS), que tiveram muros grafitados em 2017. Em La Paz, na Bolívia, pinturas se expandem para o lado externo no Cemitério Geral, e são vistas por quem passa de teleférico.

A situação é abordada em relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM), publicado em setembro. No texto, os crimes são divididos em dois tipos: subtração de objetos do túmulo e violação de sepultura para retirar pertences do cadáver (como dentes de ouro). O levantamento contabiliza, entre janeiro de 2016 e maio de 2017, ao menos 1 702 furtos em nove necrópoles municipais, mesmo com subnotificação.

O TCM ainda aponta a necessidade de rondas externas ao redor dos cemitérios “para que os guardas observem carroças e outros tipos de veículos encostados junto aos muros, que são usados para facilitar a entrada/saída no cemitério e a retirada de objetos furtados”.

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Já os registros de ocorrência pela Secretaria de Segurança Pública, obtidos pela reportagem via Lei de Acesso à Informação, apontam para número menor de crimes: 591 boletins de roubo e furto em cemitérios da cidade em 2016 e 2017. Isso inclui roubos de bens pessoais de visitantes, como celular.

A Prefeitura de São Paulo pretende enviar ainda este ano à Câmara Municipal o projeto de concessão dos 22 cemitérios municipais e do crematório da Vila Alpina, na Zona Leste. A concessão deve ter duração mínima de 20 anos. Essa proposta chegou a ser suspensa pelo Tribunal de Contas do Município (TCM) por sete meses e só foi liberada em abril. Ainda não há data prevista para lançar o edital.

Segundo a prefeitura, o objetivo é “melhorar a qualidade de serviços prestados ao cidadão, ao mesmo tempo em que desonera o orçamento”. Informou ainda que o projeto City Câmeras do Serviço Funerário está, atualmente, “na fase de mapeamento geográfico dos cemitérios para a instalação dos equipamentos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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