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MC Soffia fala sobre preconceito e feminismo

A rapper mirim de 12 anos faz sucesso na internet e em shows na metrópole

Por Mariana Oliveira
Atualizado em 1 jun 2017, 16h12 - Publicado em 7 Maio 2016, 00h00
MC Soffia
MC Soffia (Mario Rodrigues/)
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A última safra de artistas precoces no universo da música acabou virando assunto dos tribunais. No ano passado, promotores da Justiça da Infância e Juventude do Estado de São Paulo abriram um inquérito civil para investigar pais de funkeiros mirins por exploração de menores. Chamavam atenção nos casos ainda o visual erotizado das crianças e as letras desbocadas. A nova personagem da cidade nessa área, porém, é uma rapper mirim com uma postura e um repertório bem diferentes.

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De cabelo black power com um lacinho de enfeite, a paulistana Soffia Gomes da Rocha Gregorio Correa, a MC Soffia, de 12 anos, é o talento emergente em questão. Ela começou a ser notada em 2012, com a divulgação do single Menina Pretinha. O refrão diz: “Menina pretinha / exótica não é linda / você não é bonitinha / você é uma rainha”. A música ganhou um clipe em março, gravado na Pedra do Sal, no Rio de Janeiro. O vídeo, que já atingiu mais de 1 milhão de pessoas no Facebook e cerca de 180 000 no YouTube, parece ser só o começo do que pode vir por aí. Temas como preconceito e feminismo também são presentes nas suas composições. “Já ouvi que eu ajudei as pessoas a se aceitar como são, soltando o cabelo ou tendo orgulho da cor delas”, alegra-se a garota. Depois de duas apresentações no Itaú Cultural, ela se prepara para um show grátis na Viradinha Cultural, organizada pela prefeitura, no fim do mês.

MC Soffia
MC Soffia ()
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A menina foi descoberta em 2010, quando esteve entre os calouros de O Futuro do Hip-Hop, um projeto itinerante da DJ Vivian Marques, com oficinas de dança break, grafite e música, realizado em diversas casas de cultura municipais. “Ali, eu decidi que queria cantar”, conta. Após essa experiência, ela passou a dar palinhas em shows, saraus e eventos culturais organizados pela mãe e produtora Kamilah Pimentel, com quem mora, na Cohab Raposo Tavares, na Zona Oeste. Em 2012, alcançou um feito de deixar muito rapper marmanjo com um pontinha de inveja: participou de uma apresentação ao lado do Racionais MC’s, no Sesc Pompeia, um dos grupos mais importantes do gênero na capital. Mas foi somente quando a menina completou 11 anos, em 2015, que mãe e filha decidiram apostar para valer na sua carreira artística. “Esperei que ela estivesse segura do que queria”, explica Kamilah.

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O cachê da MC está na casa dos 6 000 reais. Em abril, ela contabilizou duas apresentações. A chegada de padrinhos importantes deve fazer decolar tanto esse valor quanto o número de shows. Desde janeiro, a rapper curitibana Karol Conka passou a orientá-la. Também produziu uma de suas músicas com o DJ Boss in Drama. A ideia é que essa faixa integre o repertório de um EP, sigla para extended play, um disco mais curto, com poucas canções. “Ela tem um desejo muito forte de fazer a diferença para outras crianças”, afirma Karol. “Parece ter vinte anos de carreira. Chegou aqui falando que queria batidas africanas dançantes”, completa Boss in Drama.

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Outro vídeo deve ser lançado ainda neste semestre em parceria com a banda de rock Gram. A canção Minha Rapunzel de Dread fala de uma princesa rastafári e incentiva a criançada, principalmente as meninas, a criar seus contos de fadas. “Não tem nenhuma personagem assim na Disney, então resolvi fazer uma música para que existam mais histórias parecidas com a minha”, afirma Soffia. “Apesar da idade, a menina sabe muito bem o que quer da sua carreira”, conta o guitarrista Marco Loschiavo, da Gram. “Ela demonstrou muita maturidade no estúdio.”

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Mesmo próximo de uma grande rodovia, o complexo habitacional no qual Soffia mora é tranquilo e um pouco isolado. Localizado no último andar do prédio de quatro pavimentos, o apartamento simples tem muitas bonecas espalhadas pelos recintos. Uma parte delas fica disposta como enfeite na sala, enquanto a outra decora o quarto da rapper mirim. As modelos dos brinquedos são negras e têm tranças no cabelo, feitas a mão por Lúcia Makena, avó da MC. Soffia estuda em um colégio perto de sua casa em período integral. Volta de lá no fim de tarde, e há sempre um amiguinho batendo em sua porta para se divertirem juntos no espaço do condomínio. Nos fins de semana, quando não tem shows nem eventos marcados, é hora de visitar o pai, Yan Curumin, no bairro João XXIII, também na Zona Oeste. Ele e a mãe da garota estão separados desde a gravidez, mas a relação de pai e filha é próxima. “Lá, eu brinco com meus primos de polícia e ladrão, taco, futebol…”, enumera a menina. Embora Curumin não se envolva com a carreira da MC, ele conta que adora quando é abordado na rua e ouve dos amigos que as filhas deles se reconheceram nas músicas de Soffia. “Ela está virando uma referência para muita gente”, diz, orgulhoso.

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