Marronzinho e paparazzo
Oslaim Britto, agente da CET, clica o trânsito paulistano nas horas vagas
Oslaim Brito acorda todos os dias às 4 horas da manhã. Depois de cumprir o expediente como marronzinho, que termina às 11h40, sai à procura de acontecimentos no caótico trânsito da cidade, que tem hoje em dia 3,5 milhões de veículos em circulação. Brito clica desde enchentes e resgates até congestionamentos e acidentes. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) calcula que aconteçam, em média, 700 ocorrências diárias na capital. Pelo menos cinco delas são registradas pelas lentes do marronzinho.
Fotógrafo do trânsito paulistano desde 1992, Brito já reuniu mais de 600 vídeos, hospedados no YouTube, e 30 000 imagens — como as cinco que ilustram esta reportagem. Tantos anos de dedicação renderam-lhe bons frutos. Um deles, previsto para novembro, é o lançamento do livro ‘Retratos do Trânsito’ (Editora Letras Jurídicas, 216 páginas), com imagens feitas por Brito e textos de Julyver Modesto de Araujo, presidente da Associação Brasileira de Profissionais do Trânsito. “A ideia é casar as fotos com informações sobre legislação e aspectos de segurança no trânsito”, diz Araujo.
Nada mau para quem, em 1984, chegou de Itabuna, na Bahia, buscando uma oportunidade de trabalho. “O destino me colocou na área de transportes”, lembra Brito. Começou como cobrador, foi promovido a manobrista e, mais tarde, a motorista de ônibus. No início dos anos 90, decidiu investir em um táxi, o qual conduzia quando não estava ao volante do busão. “Eu via muitos acidentes na madrugada e resolvi comprar uma câmera. Parava no meio dos cruzamentos para fotografar.” Brito usava uma máquina da marca Zenit, que, ele calcula, não teria custado mais de 80 reais.
Em maio de 1996, ingressou na CET. No mesmo ano, conseguiu emplacar sua primeira foto (um veículo em chamas) num jornal. Para aperfeiçoar a técnica, fez um curso básico de fotografia no Senac, em 1998, e não parou mais. Hoje colabora com sites, jornais e agências de notícias, que pagam entre 50 e 150 reais por imagem. Calcula receber de 100 a 300 dólares mensais do You- Tube. Na ponta do lápis, o que começou como hobby chega a lhe render 4 000 reais no fim do mês. Parte desse dinheiro é reinvestida em equipamentos.
Brito comprou uma digital Canon 5D, que só usa em ocasiões especiais, uma portátil da mesma marca (Power- Shot modelo SX20), um computador de 10 polegadas, uma filmadora, modem e vários cartões de memória, acessórios que carrega para todos os lugares.
O marronzinho sorri satisfeito com o sonho, prestes a se concretizar, de ver suas fotos reunidas em livro. “É o reconhecimento de quase quinze anos de trabalho.” A obra terá tiragem de 2 000 exemplares, que serão distribuídos em ONGs, bibliotecas e escolas públicas, além de órgãos ligados à educação no trânsito.