Recentemente, Fernanda Montenegro comoveu os paulistanos ao encarnar Simone de Beauvoir (1908-1986) no monólogo Viver sem Tempos Mortos. A partir de sexta (22), Marisa Orth, de 46 anos, volta ao palco depois de dois anos, na pele da mesma escritora francesa, ícone do feminismo, no drama O Inferno Sou Eu, que estreia no Teatro Jaraguá.
A obra de Simone de Beauvoir faz parte de sua vida?
A primeira vez em que li o nome dela foi numa edição de O Segundo Sexo, na cabeceira de minha mãe. Devia ter 10 anos e pensava que livro seria aquele. Lembro-me de outras capas na estante de casa. Durante a vida, eu li textos isolados e, na faculdade de psicologia, estudei um pouco de existencialismo e filosofia. Só me aprofundei de fato agora, para o espetáculo.
Não é muita ousadia interpretar a personagem simultaneamente à montagem de Fernanda Montenegro?
Fernanda é uma mestra, faz com uma precisão incrível, mas está em cena mais como a interlocutora entre Simone e o público. Buscamos outra coisa. No nosso espetáculo, procuro incorporar essa mulher, seus gestos, a forma de vestir, de falar…
Você fica incomodada com o estigma de atriz cômica devido ao sucesso em humorísticos na TV?
Nunca sonhei ser humorista. Terminei a EAD (Escola de Arte Dramática) e, aos 22 anos, interpretei uma velha de 76 na peça Crianças Enterradas. Sempre fui mais trágica, dramática. A comédia me popularizou nos anos 90. Surgiu um trabalho atrás do outro, e aí fica mais difícil arriscar. Mas não separo nada por gênero. Por que denominar algo de drama, comédia ou tragédia? Como atriz, bom é misturar esses gêneros.