A redução da velocidade máxima nas Marginais exige atenção dos paulistanos
Limite permitido nas vias será reduzido a partir de segunda (20)
Desde 2011, a prefeitura tem apostado na redução dos limites de velocidade de trânsito para reverter o alto número de acidentes automobilísticos. Nesse período, 530 quilômetros de mais de 150 vias foram submetidos à chamada “padronização” da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Na segunda (20), os dois corredores mais importantes da capital passarão a integrar o pacote de mudanças. Na pista expressa das marginais Pinheiros e Tietê, a máxima permitida cairá de 90 para 70 quilômetros por hora. Na central (quando existente), a variação é de 80 para 60. E, finalmente, na local, de 70 para 50. Hoje as perimetrais lideram o ranking de mortalidade na cidade por colisão ou atropelamento, com 73 vítimas somadas ao longo de 2014 — houve um crescimento de 16% em relação ao ano anterior.
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Como toda notícia restritiva, essa não desceu redondo entre os motoristas.Qual seria a eficácia real da mudança? Uma série de dados internacionais corrobora a tese. A prefeitura cita o exemplo da Dinamarca, onde baixar de 60 para 50 quilômetros por hora a máxima das rodovias que percorrem áreas construídas significou um número de acidentes com morte 24% menor. Em São Paulo, por enquanto, os dados não reforçam a tendência. Mesmo sob o impacto das intervenções frequentes dos últimos quatro anos, as mortes no trânsito paulistano aumentaram 8% em 2014, atingindo o índice inaceitável de 1 249. Na Estrada de Itapecerica, na Zona Sul, as placas trocaram o número 70 pelo 60 em 2012, mas, depois de dois anos, houve recorde de mortes (22). Para especialistas, falta uma fiscalização criteriosa para evitar boa parte das tragédias. “Sou favorável aos ajustes, mas por que a polícia não para quem dirige em alta velocidade?”,questiona o consultor em transportes Horácio Augusto Figueira. “E onde estão as blitze da Lei Seca para brecar os motoristas bêbados?”
Enquanto isso, também não estamos perto de desfrutar a tal “padronização” anunciada pela CET. Quem tira a habilitação aprende que em vias locais, comuns em áreas estritamente residenciais, por exemplo, o velocímetro não pode passar de 30. É uma forma de ajudar o condutor a perceber seus limites mesmo que não haja sinalização. Em São Paulo, hoje, as definições estão longede ser intuitivas. A cada esquina, há uma lógica. Na Rua dos Pinheiros, na Zona Oeste, roda-se metade do 1,5 quilômetro de extensão a 40 quilômetros por hora e a outra, a 60. A nova regra para as marginais criará distorções curiosas. Na Avenida Valdemar Ferreira, no Butantã, por exemplo, qualquer veículo está autorizado a circular tranquilamente a 60 quilômetros por hora. Mas, se pegar um acesso e entrar na vizinha e “veloz” Marginal Pinheiros, terá agora de reduzir a 50. “O Código de Trânsito Brasileiro recomenda um limite de 80 quilômetros por hora em vias expressas. Não há motivo para ser 70”, diz o consultor em engenharia de tráfego Sergio Ejzenberg.
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A prefeitura afirma que os congestionamentosnão vão aumentar. Há duas semanas, o secretário de Transportes, Jilmar Tatto, lançou mão de estudos para mostrar que, em alta velocidade, o espaço entre os automóveis aumenta por uma questão de segurança. A 90 quilômetros por hora, são necessários 170 metros para frear sem bater. Quando estão mais devagar, dois carros podem trafegar a uma menor distância — a 50 quilômetros por hora, basta estar a apenas 65 metros da traseira da frente. Ou seja, “caberia” um número maior de carros.
O temor de muitos motoristas, é claro, está no impacto das constantes mudanças no bolso. “Nunca sei se estou dentro da regra para aquela via”, reclama o economista Silvio Nascimento, que há um mês levou uma multa na Rua Domingos de Morais, na Vila Mariana — a velocidadeno logradouro baixou de 60 para 50 quilômetros no ano passado. Ele faz parte de um contingente crescente. Mais de 6 milhões de autuações foram aplicadas na cidade de janeiro a junho — houve um aumento de 22% em relação ao mesmo período do ano anterior. Tal montante segue em alta. O número de radares quadruplicoude 2014 para cá, chegando a 810equipamentos. “Essa confusão toda só favorecea indústria da multa”, aponta Ejzenberg. A CET rebate as críticas. “O objetivo é organizar o trânsito e preservar a integridade dos cidadãos”, afirma acompanhia, por meio de nota.