Marat Descartes, o novo faz-tudo do cinema
Bem-sucedido em personagens complexos, ator virou o queridinho dos diretores e revela que já teve medo da câmera
O ator Marat Descartes atende o telefone e pede tempo ao repórter. “É que a minha filha é cinéfila. Não pode ver a caixa de um filme que já me pede para ligar o DVD”, explica, referindo-se à pequena Anita, de pouco mais de dois anos, filha de seu segundo casamento, com a bailarina Gisele Calazans. Anita ainda não sabe, mas, no futuro, assistirá a muitos filmes estrelados pelo pai, recém-descoberto pelo cinema nacional.
Depois de construir uma sólida carreira no teatro e filmar alguns curta-metragens, Marat conseguiu seu primeiro protagonista no cinema com “Os Inquilinos” (2009) e caiu nas graças dos cineastas graças à sua capacidade de dar vida, com competência, a tipos complexos dos mais diversos. O ator já foi atormentado por vizinhos esquisitos, já perdeu o emprego e ficou à sombra da mulher, já foi um traficante traído pela amante, além de um músico boa praça na novela “A Vida da Gente”, exibida recentemente pela Globo.
+ O ator Marat Descartes vive seu primeiro protagonista no cinema
Marat conta que precisou vencer a timidez. “Tinha muita vontade de fazer filmes, mas também muito medo da câmera.” Hoje, ele se desdobra para conciliar a agenda no cinema e na TV com o teatro, de onde veio e foi premiado pelo espetáculo “Primeiro Amor”, de 2007. Somente neste começo de ano, o ator já apareceu no elogiado “2 Coelhos”, participa do também bem comentado “Corpo Presente”, ainda inédito no circuito comercial, acabou de filmar “Fala Comigo Agora” e se prepara para começar outros dois projetos cinematográficos.
Em “Fala Comigo Agora”, Marat divide a cena com medalhões do porte de Cleyde Yáconis e Antonio Petrin, respectivamente sua avó e seu pai no intimista curta. Na fita, ele sustenta a família quatrocentona e decadente fazendo shows vestido de mulher.
No fim do primeiro semestre, ele pega a estrada com o estreante Gustavo Galvão para filmar o roadie “Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa”. Em seguida, fará o trabalho que, ao que tudo indica, lhe traga maior visibilidade, por ser dirigido por Jayme Monjardim. Com o diretor de “Olga”, Marat filmará uma adaptação de “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo, que também deve chegar à TV Globo no formato de minissérie.
Marat nega ser o novo Wagner Moura, que já viveu seus dias de um filme atrás do outro. “Não dá pra comparar. Wagner já tem um lugar na mídia e reconhecimento nacional”. Quando perguntado se esse reconhecimento também é seu objetivo, ele responde: “Não é uma meta, mas resultado do trabalho. É o barato do ator. É muito chato quando você não está no cartaz do filme, pois alguém decidiu que seu rosto não é comercial o suficiente.”
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Fora dos palcos
Marat diz sentir falta do teatro. “Estou há seis meses sem pisar no palco. Não sobra tempo. Sinto muita falta, é como um remédio que me limpa a alma.” Foi no teatro que diretores como Afonso Poyart – que o quer no seu próximo filme e do qual ele ainda não teve tempo de ler o roteiro – e a dupla Marco Dutra e Juliana Rojas, de “Trabalhar Cansa”, o descobriram. “Até hoje me impressiona a maneira como Marat usa a palavra em cena”, afirma Dutra, que o procurou para filmar um curta depois de assisti-lo no já citado “Primeiro Amor”, monólogo de Samuel Beckett.
O ator começou a atuar em peças ainda na escola, aos 13 anos. O que era apenas uma brincadeira foi ficando cada vez mais sério e, no fim do ensino médio, ele e seu grupo fecharam o Teatro Augusta com uma montagem de “O Avarento” de Molière.
Contudo, ele não seguiu diretamente para as artes cênicas. Foram necessários três anos para que ele trocasse o curso de direito na PUC pela Escola de Arte Dramática da USP. Da sua turma, saíram outros talentos hoje também conhecidos na dramaturgia nacional, como Emilio Orciollo Neto, Paula Cohen, Gustavo Machado e Gero Camilo.
Com Camilo, Marat criou uma forte amizade que resultou em parceria profissional. Ainda nos tempos de faculdade, os dois apresentaram “Café com Torradas”, vencedor do Prêmio Nascente, antecipação do sucesso que fariam em 2004 com “Os Aldeotas”, considerado um marco do teatro nacional. “Escrevi pensando no Marat”, explica Camilo, o padrinho de Anita que se desmancha em elogios ao amigo. “Ele é um ator como poucos. Os diretores não gostam de trabalhar com atores inteligentes”, polemiza.
Sem perder o teatro de vista, Marat busca patrocínio para uma peça infantil baseada num texto de Eva Funari, onde quer trabalhar com Claudia Missura, destaque nos palcos por “O Menino Teresa”. É a chance de a pequena Anita desligar o DVD e assistir ao pai no teatro.