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“Airton nunca foi de levar desaforo pra casa”, diz mãe do esfaqueador do Brás

Moradora do sertão pernambucano, Euza Maria da Silva conta que o filho sempre foi inquieto e que costumava ligar para falar que estava tudo bem

Por Luan Flávio Freires
Atualizado em 5 dez 2016, 15h12 - Publicado em 7 mar 2014, 14h29

Um jovem do sertão pernambucano que veio para São Paulo ganhar a vida e ajudar a família. Poderia ser a história de tantos outros migrantes que vieram para a cidade em busca de trabalho e melhores condições, mas, desta vez, a narrativa ganhou contorno trágico. Airton Isaías da Silva, 19 anos, foi preso nessa quinta (7), após confessar ter matado a facadas quatro pessoas na região do Brás, onde trabalhava em uma loja de roupas, entre os dias 23 de fevereiro e 3 de março.

 

Euza Maria da Silva, 47, mora em Inajá, em Pernambuco, onde criou seus doze filhos. Airton é o quinto deles e, segundo ela, desde criança sempre foi muito “alvoroçado” e nunca foi de “levar desaforo para casa”. A mãe do esfaqueador do Brás também desconfia que um acidente na infância tenha traumatizado o filho. Com a tristeza e a dor indisfarçáveis na voz, ela conversou por telefone com VEJASAOPAULO.COM na manhã desta sexta-feira (7).

Como era o comportamento do Airton até ele sair de casa?

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Desde menino ele foi sempre muito alvoroçado, até crescer. Ele não gostava de barulho, não aguentava grito perto dele, sempre reclamava muito. Até o barulho da TV o incomodava muito. E também, quando a gente chamava a atenção, ele não respeitava e continuava fazendo a mesma coisa. Quando ele tinha dois aninhos, um animal mordeu a cabeça dele, um jumento. Eu saí para ir à feira e deixei o Airton brincando com as irmãs, que tinham dez, doze anos. Não tomaram conta dele. O Airton se afastou delas e o jumento o mordeu na cabeça.

Você acha que ele ficou traumatizado com esse acidente?

Eu não sei se ele ficou traumatizado. Nunca o levei no psiquiatra ou no médico para saber. A nossa família não tem condições. Mas o comportamento dele sempre foi muito agitado desde menino.

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Por que ele saiu de Inajá para vir para São Paulo?

Para trabalhar. Ele sempre trabalhou na roça, foi criado na roça, comigo e com o pai. Limpava, plantava, capinava. Fazia de tudo. No ano passado, ele foi para São Paulo para trabalhar três meses como ajudante de pedreiro com uns colegas daqui. Os amigos saíram da firma e ele não quis ficar sozinho. Já estava para voltar para cá quando conheceu um homem chamado Ribamar Feitosa, no Brás, que ofereceu serviço de pedreiro. Ele disse que ia voltar para casa para ver os pais e que depois voltava para São Paulo. Retornou no dia 7 de novembro do ano passado. Trabalhou com o Ribamar e depois com um homem chamado Álvaro. O último emprego foi em uma loja de roupas.

E ele ligava para a senhora para contar da vida em São Paulo?

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Ligava sempre. Ele tinha levado um celularzinho velho daqui e ligava para mim direto. Falava que estava bom, que estava conseguindo trabalho. Eu sempre dava conselho: ‘filho, aí tu não conhece ninguém, não fique andando fora de casa’. E ele respondia: ‘não, mainha, aqui eu só estou trabalhando, é do serviço para casa’”.

Ele mandava dinheiro para casa?

Prometia mandar. Uma semana dessas, ele colocou 140 reais na minha conta. Ele prometeu umas mochilas para os irmãos menores estudarem, mas não mandou porque comprou roupa e sapato para ele. Ele gostava de comprar cigarro também.

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Como a senhora ficou sabendo que o Airton foi preso?

Todo dia de manhã minhas filhas ligam a TV para ver as notícias antes do café. Ontem, elas ligaram e reconhecemos o Airton. Ficou todo mundo surpreso.

Ele deixou amigos em Inajá? Alguma namorada?

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Ele sempre foi de pouca amizade. Não gostava muito de amizade com ninguém, não. E também nunca foi namorador, nunca conheci namorada nenhuma dele. Só tinha uma coisa ou outra, mais nada.

Ele teve algum problema com a polícia quando morava em Inajá?

O Airton nunca foi de levar desaforo pra casa, de ouvir alguma coisa e ficar calado. Às vezes, brigava com alguém quando ia a alguma festa e era levado para a delegacia. Duas vezes ele teve problema de desacato à autoridade, mas era novo. Tinha 15 pra 16 anos.

A senhora vai vir para São Paulo para ver o seu filho?

Não tenho condições de ir para São Paulo. Somos de família pobre, humilde. Eu não sei o que eu faço. Não tenho condições de ir. Não tenho coragem.

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