Madame Satã retorna à noite paulistana
Casa noturna que fez história nos anos 80 reabre nesta quarta (29) no mesmo casarão que ocupava no Bixiga
Marco na história da noite paulistana, o Madame Satã foi um dos pontos mais agitados da cidade durante a década de 80. Fundada em 1983 e fechada em 2007 já em decadência, a casa noturna reabre nesta quarta (29) com a promessa de voltar a ser uma referência cultural.
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A ideia partiu dos sócios Gé Rodrigues e Igor Calmona, que já comandam o DJ Club, nos Jardins, e a NostroMondo, na Consolação. Para colocarem o projeto em prática, precisaram convencer os donos do imóvel. “A princípio eles não alugariam para que fosse construída outra casa noturna”, conta Calmona. Mas deu certo, graças também à insistência de Rodrigues, que possui forte ligação com o local: foi lá que tocou pela primeira vez como DJ, aos 13 anos, substituindo um residente que não pôde ir.
Outra dificuldade foi com o nome. Nesta nova fase, o clube se livra do “Satã” e fica apenas com Madame. O título original foi registrado por José Maurício Penteado, antigo dono da casa.
E as mudanças não param por aí. Datado de 1936, o antigo casarão no número 873 da Rua Conselheiro Ramalho, no Bixiga, também sofreu alterações. Foi preciso refazer o telhado, trocar a fiação e reformar toda a estrutura do imóvel, que é tombado. Além disso, as noites não serão mais tão quentes no Madame. Quatro aparelhos de ar-condicionado foram instalados pela primeira vez no local. Os sócios ainda não fecharam as contas, mas estipulam que os gastos já chegam à casa dos 800 mil reais.
O velho e o novo
O espírito underground do Madame, entretanto, deve permanecer o mesmo. As performances de drag queens e as peças de teatro farão parte da programação, como antes. A primeira montagem será “São Paulo Surrealista”, escrita e dirigida por Marcelo Marcus Fonseca. E quem adquirir o ingresso poderá ficar para a farra sem pagar entrada.
Saudosos relembram que outro ponto forte da casa era a coexistência, sem muitos problemas, de diversas tribos. “O Satã era diferente de todos os lugares que eu já tinha ido, mesmo fora do país”, relata Eneas Neto, que foi DJ do clube e hoje é organizador da festa Trash 80’s.
“Você era livre para ser o que quisesse e vestir o que fosse”, recorda o cabeleireiro e maquiador Marcelo Vilela, que começou a frequentar o local em 1985, aos 15 anos. Aos 42, ele segue a profissão que começou a exercer de brincadeira nas chamadas “Noites do Penteado”, quando uma cadeira de cabeleireiro era colocada no andar superior do casarão e o pessoal aproveitava para incrementar o look.
Outro que escolheu a profissão no Madame foi Mauricio Bischain, o DJ Mau Mau. Antes dançarino de street dance, ele tocou pela primeira vez na pista da balada, em dezembro de 1986. “Talvez eu nem fosse DJ se não fosse o Madame”, diz Mau Mau.
Cada noite no novo Madame será dedicada a um estilo que marcou a história do local, com as novidades da cena musical. Às quintas, figura o rock alternativo, com residência dos DJs Rafael Perrotta e Kid Vinil no projeto Skull. Nesta noite, também rolam shows de rock no palco do porão, por onde já passaram variados nomes da música nacional, de Ratos de Porão a Elza Soares. Com 30 anos de carreira, a banda punk paulistana Inocentes volta em abril à casa, onde estreou o álbum “Pânico SP”, em 1984.
Às sextas, o gótico toma conta da pista na festa Bats & Robots. Aos sábados, Gé Rodrigues e Magal comandam a 80s, noite dedicada aos hits dos anos 80 e onde só é permitido discotecar com discos de vinil. Nos domingos, ocorre a matinê Vintage Party, dedicada ao rockabilly, embalada pelos residentes Ivan Rocker e Eric Von Zíper.
Aberto também durante a tarde, o novo Madame ostenta o título de centro cultural, com exposições e cursos de DJ, dança e teatro, que serão coordenados pela diretora cultural Paula Micchi.
Nesta quarta (29), uma exceção à programação que vai de quinta a domingo, os DJs residentes de todas as noites se revezam nos pick-ups para dar uma pitada do que vai rolar por lá a partir de agora.