Loucos por som gastam até R$ 400.000 com equipamentos
Tribo de aficionados costuma se encontrar em eventos como a feira Hi-End Show, que acontecerá em Guarulhos a partir de quinta (29)
Quando o cardiologista paulistano José Henrique Vila, de 60 anos, chega a seu apartamento na Zona Sul, após uma árdua jornada de trabalho, gosta de se aconchegar em uma poltrona de couro, com um copo de suco de tomate na mão, para curtir um dos 4.000 CDs de MPB, jazz e música clássica que coleciona. Seu equipamento de som é capaz de reproduzir tão bem as canções, récitas e concertos que os artistas parecem estar ali no ambiente, tocando ao vivo. Não há exagero algum nessa comparação. Ouvem-se de fato, com nitidez, a respiração das cantoras, o deslizar de dedos dos violonistas pelas cordas de seu instrumento e os detalhes da performance dos percussionistas. A aparelhagem é toda importada e possui itens como um par de caixas acústicas da grife italiana Sonus Faber, cotado a mais de 100.000 reais. O CD-player, da marca inglesa dCS, tem cabos fabricados com ouro, cobre e prata, de forma a garantir máxima fidelidade do sinal enviado ao amplificador, evitando distorções e agudos desregulados. “Se eu disser a minha mulher quanto paguei em tudo, ela me mata”, brinca o médico. “Custa mais caro que um ótimo carro, mas compensa pelo prazer.”
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Vila faz parte da tribo de fãs dos equipamentos high end, como são chamadas as peças que representam o olimpo do mercado de áudio, tanto em termos de preço quanto de qualidade. Para incrementar o resultado, utilizam-se tecnologias de diversas épocas misturadas, analógicas e digitais, processos artesanais e materiais nobres. O grupo de consumidores reúne em sua maioria homens na faixa acima dos 40 anos e, naturalmente, com dinheiro suficiente para gastar com o caríssimo hobby. Um sistema bem basicão não sai por menos de 8.000 reais. E não há limite. Muitos pagam mais de 400.000 reais para montar um conjunto com o que há de melhor na praça. Esses aficionados costumam se encontrar em eventos como a feira especializada Hi-End Show, que vai acontecer de quinta (29) a sábado (1º) em um hotel de Guarulhos. São esperadas 7.000 pessoas para conferir de perto novidades como o toca-discos Zet 3, da marca alemã Transrotor, engenhoca movida a três motores cuja finalidade é impedir a variação nas rotações e reproduzir LPs impecavelmente. Custa 60.000 reais. “Realizamos o evento há catorze anos e ele vem crescendo a cada edição”, afirma o organizador Fernando Andrette, que é responsável também pela Audio Video Magazine, revista mensal especializada no assunto, com tiragem declarada de 13.000 exemplares por número.
Algumas lojas na cidade são conhecidas por abastecer esse público com os lançamentos vindos do exterior. Um dos endereços é a Audio Classic, aberta na Vila Leopoldina desde 2003. “Comparar um sistema de som comum com o high end é o mesmo que comparar um carro popular com uma Ferrari”, diz o proprietário Julio César Santos. Em seu estabelecimento, repleto de estátuas e pôsteres de temas musicais, ele expõe com cuidado produtos de épocas diversas, além de 10.000 vinis. Santos trabalha ainda como corretor na troca de aparelhos usados, prática comum nesse universo, pois o alto preço de uma peça nova pode cair pela metade quando chega ao mercado de segunda mão. “A gente fica querendo sempre o melhor”, conta o empresário Alberto Oliveira, que já desembolsou cerca de 100.000 reais para manter a paixão. “Entrar em um táxi e ouvir música em um equipamento comum chega a ser torturante”, afirma.
Os aparelhos modulares são fundamentais na fórmula para a música perfeita, mas outros detalhes também fazem diferença. Para melhorar a audição, é preciso se posicionar na frente das duas caixas, formando um triângulo. Os atributos do som dependem da qualidade da gravação do CD. Quem gosta de escutar vinis ganha, em geral, com uma reprodução mais pura. Dar atenção à instalação ajuda no resultado final. “O recomendável é ter uma fiação exclusiva para o áudio para evitar interferência de outros aparelhos da casa”, explica o engenheiro eletrônico Jorge Knirsch. O serviço custa, no mínimo, 1.000 reais. A exemplo dos grandes conhecedores de vinho, os audiófilos são figuras para lá de exigentes. Há, claro, os que se preocupam apenas com o som e não com a música que está tocando. Ou, como diz o entusiasta e fotógrafo Cacalo Kfouri: “Não adianta sair do radinho de pilha para o suprassumo da tecnologia por status e nem perceber o ganho na qualidade de som que esses equipamentos proporcionam”.
O FINO DO ÁUDIO
Alguns dos destaques da 14ª edição da feira Hi-End Show, em Guarulhos
Para competir com os importados, a empresa carioca AudioPax exibe o amplificador valvulado Model 88, com chassi de latão cromado que ajuda a evitar interferências. Custa 26.000 reais
A alemã Transrotor criou o aclamado toca-discos Zet 3 (60.000 reais). O aparelho se parece com uma nave espacial e conta com três motores para não haver variação de rotações
O par de caixas de som Sophia 3, da marca americana Wilson Audio, é novidade no mercado. Tem potência máxima de 200 watts e custa 60.890 reais