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Conheça histórias de vidas que mudaram com a reciclagem

Diretor de uma das primeiras cooperativas de reciclagem da cidade é um ex-sem-teto

Por Mariana Barros e Manuela Nogueira
Atualizado em 5 dez 2016, 18h20 - Publicado em 14 jan 2011, 23h46

“Demorou dois anos para o cheiro das ruas sair do meu corpo”, conta o ex-sem-teto Sérgio Longo, 44 anos, que tem um terço de sua vida passado sem endereço certo. Mais difícil ainda, diz, foi voltar a conviver com as pessoas. Hoje, ele é diretor da Coopere-centro, uma das primeiras cooperativas de reciclagem da cidade, com 100 trabalhadores filiados que ganham, em média, 1 000 reais por mês. Essa guinada começou há oito anos, quando Sérgio decidiu largar as drogas. “Sou um ser humano que virou gente”, afirma. Ex-viciado em crack, tem entre os colegas outros ex-usuários de drogas, ex-presidiários e ex-prostitutas. A troca de experiências os encoraja a persistir no trabalho. “Para acabar com a Cracolândia é preciso colocar aquelas pessoas na reciclagem”, acredita.

Estima-se que, atualmente, menos de 1% dos resíduos produzidos pelos paulistanos seja encaminhado para a reciclagem. É pouquíssimo. Em Curitiba, por exemplo, esse volume chega a 23%. Assim como as outras dezenove cooperativas cadastradas pela prefeitura, a Coopere recebe diariamente parte da coleta seletiva. Itens reaproveitáveis são vendidos e o lucro, dividido entre todos os trabalhadores. Os valores variam conforme a demanda do mercado pelo material. Atualmente, 1 quilo de alumínio é vendido em média por 3 reais, o de plástico por 1,30 real (o colorido vale menos que o transparente), o de papelão por 45 centavos e o de vidro por 30 centavos. “Temos guardado parte do dinheiro para melhorar as instalações”, conta a diretora Olinda Silva, 65 anos, apontando alguns buracos na laje. O próximo passo da Coopere é tentar se unir a outras cooperativas para, juntas, terem maior poder de negociação.

 

ENQUANTO ISSO, EM OUTRAS METRÓPOLES…

O sistema de Barcelona e o envolvimento da população em Curitiba são bons exemplos para São Paulo

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Não passam caminhões de lixo no bairro de Lesseps, em Barcelona. Longe de isso ser um problema, trata-se de uma baita solução. Cerca de 30% da capital catalã conta com a chamada coleta pneumática. Nesse moderno sistema, os moradores depositam os sacos de lixo em escotilhas e o material é transportado por uma tubulação subterrânea até uma central de coleta. A 5 metros da superfície, os detritos de casas, escritórios e hospitais são sugados ao longo de 113 quilômetros de tubos, numa velocidade de 70 quilômetros por hora. Ao chegar à periferia da cidade, o lixo é armazenado em contêineres e levado a uma usina de triagem, ainda mais distante do centro. Latas, papéis e plásticos são reciclados. Enquanto isso, o produto orgânico é transformado em combustível para mover turbinas que produzem eletricidade. Outras vantagens desse modelo são ruas mais limpas, cheirosas e silenciosas. A coleta pneumática funciona em Barcelona desde os Jogos Olímpicos de 1992. Foi criada para servir a Vila Olímpica e hoje atende 324 000 moradores.

No Brasil, uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostra que a Região Sul é a que melhor trata a questão da limpeza urbana. Ali, segundo o documento, só 28% do lixo não tem destino adequado — o menor índice do Brasil. Em Curitiba, a coleta seletiva serve de exemplo para São Paulo: atinge 100% dos moradores. Cabe à população separar o resíduo seco do orgânico. Limpo, o lixo coletado pode ser vendido por um preço mais alto às indústrias de reciclagem. “Nosso segredo está na conscientização das pessoas”, afirma José Antônio Andreguetto, secretário municipal do Meio Ambiente. Além disso, em noventa pontos espalhados pela periferia da capital paranaense, 4 quilos de material reciclável são trocados por 1 quilo de alimento. Com essas ações, a coleta cresceu 192% nos últimos cinco anos. Estima-se que 23% do total de resíduos seja reciclado.

 

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