Em “pegadinha”, clientes compram livro com só duas páginas escritas sobre Bolsonaro
Obra supostamente com 190 páginas de conteúdo é vendida a 39,64 reais no site da Amazon desde 19 de março
Vendido a 39,64 reais no site da Amazon, o livro Por que Bolsonaro Merece Respeito, Confiança e Dignidade, publicado pelo suposto comentarista político Willyam Thums, está causando revolta de leitores que foram em busca da obra na internet.
Assim que compraram o produto, clientes relataram ter encontrado apenas duas páginas escritas no exemplar. Na descrição de venda do artigo, a Amazon diz que a obra tem 190 páginas.
O título está disponível para venda desde 19 de março e consta como bem avaliado por quem o procura – tem quatro de cinco estrelas.
Para uma leitora que se identificou apenas como Simone, a Amazon cobra um preço muito alto para o que entendeu ser um protesto do autor. “Duas páginas escritas e o restante em branco. Apesar de acreditar ser interessante esse tipo de intervenção, não achei correto cobrar esse valor para um livro que não tem conteúdo”, escreve ela, que chamou a situação de “brincadeira sem graça”. “Não sou partidária da persona, mote do livro, mas sou pesquisadora, dessa maneira, faz-se necessário explicar ao comprador-leitor o que esperar do livro. Se o livro propõe um protesto, que até acho justo, que avise o leitor ou que seja disponibilizado gratuitamente.”
Outro cliente, chamado Gilson Machado, achou não aprovou a atitude. “Como um camarada se submete a um papel desses? Faz as pessoas sérias gastarem tempo e dinheiro. Lamentável!”, desabafa.
Um internauta que se apresenta como Jony Marcos foi irônico. Em seu comentário, debocha do presidente Jair Bolsonaro (PSL). “Sem dúvida está é uma obra obrigatória para entendermos o momento atual da política brasileira. É um livro profundo e amplo”, diz Marcos. “O autor adentra com primor ímpar nos elementos da personalidade, habilidade e inteligência do líder máximo da nação. Por meio de seus escritos, o autor brilhantemente consegue traduzir o nível cognitivo e a habilidade política de nosso presidente. Deve ser candidato ao prêmio Jabuti. Livro do Ano.”
O autor
O livro é um protesto. E, de fato, foi uma iniciativa de Thums, que não quis revelar sua profissão. Segundo seu perfil do Facebook, o rapaz, nascido em Porto Alegre, é bolsista na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Em breve entrevista a VEJA SÃO PAULO, explicou que decidiu publicar a obra para fazer o leitor refletir.
“O livro é um protesto, sim. Ele tem cerca de 190 páginas em branco. Tem uma breve introdução e depois a resposta que fica à pergunta-título são dezenas de folhas em branco”, explica. “A ideia é realmente não dar nenhuma resposta, já que não ache que Bolsonaro mereça coisa alguma. Isso força o leitor a criar sua própria resposta, refletindo sobre o tal merecimento.”
Em sua página do Facebook, Thums postou uma foto da capa do livro em 12 de março. Vários amigos foram até a postagem comentar e dar os parabéns pela ideia do estudante. Na rede social, o gaúcho possui fotos com a mensagem “ele não” – bordão que se popularizou entre eleitores antiBolsonaro nas eleições de 2018. Em outra imagem, declarou seu voto ao ex-ministro Ciro Gomes (PDT), candidato a presidente na disputa eleitoral do ano passado.
Thums disse que o título não está mais disponível para venda e garantiu que foi o único que fez encomendas no site da Amazon. “Acho que não chegou a ficar publicado nem um mês. Para comentar lá, não é necessário haver comprado o material”, afirma.
Em um comentário, o internauta que se identificou como Lincoln sugere que comprou a obra para fazer seu doutorado. “Livro de 190 páginas com apenas 2 páginas de texto e o resto em branco. Ironia política do autor, usando e enganando o leitor. Foi adquirido para pesquisa de doutorado onde, ao contrário desse autor, se busca ver os dois lados, mesmo não sendo apoiador de Bolsonaro. Não compre”, escreve.
Ao fazer a busca no site da Amazon, entretanto, ainda é possível encontrar o título escrito por Thums. Na página, a opção de compra da obra também está disponível. Procurada, a Amazon não quis se manifestar sobre o caso. A empresa só informou que os clientes podem devolver o produto e pedir o reembolso.