Livraria Cultura se ampara em decisões judiciais para continuar atividades
Em uma semana, Livraria Cultura teve a falência decretada e depois suspensa, enquanto leitores lamentam possível fim de ícone da Avenida Paulista
Ícone paulistano com futuro incerto e sob comoção nas redes sociais, até com campanhas para que as pessoas fossem até o local fazer compras, na esperança de reverter a situação financeira, a Livraria Cultura se ampara em decisões judiciais para continuar as atividades. Em recuperação judicial desde 2018, teve a falência decretada no dia 9, quando Ralpho Waldo de Barros Monteiro Filho, juiz da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da capital, afirmou que a empresa não tem honrado as dívidas com bancos e ex-funcionários. Mas a Cultura recorreu e conseguiu, no dia 16, a decisão de um desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo suspendendo a falência, o que dá à companhia um fôlego momentâneo para provar que tenta quitar os débitos.
Na sexta-feira (17), o clima na loja da Paulista era de quase normalidade, com movimento intenso. “Venho aqui há anos e passo horas. É um lugar único, um símbolo da Paulista, não pode ser fechado”, disse Paula, uma das clientes que estavam por lá.
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Mas a normalidade não era total: muitas prateleiras estavam vazias, enquanto funcionários carregavam caixas de lá para cá. Isso porque algumas editoras, como a Companhia das Letras, chegaram a retirar seus exemplares do local assim que a falência foi decretada. De acordo com funcionários, os livros devem retornar neste fim de semana. A decisão do desembargador José Benedito de Godoi, porém, é temporária: a suspensão da falência vale até que o Tribunal de Justiça julgue o recurso da Cultura, que terá de provar que está pagando em dia seus credores. O julgamento não tem data para ocorrer.
Quando fez o pedido de recuperação judicial, a Cultura argumentou estar com dificuldades financeiras desde 2014 e apresentou como causas a crise econômica do país, a queda da demanda por livros pelos consumidores e aumento nos custos das obras nas editoras — o que diminuiu seu lucro. Outro argumento foi que, em 2017, o grupo comprou as operações nacionais da Fnac e adquiriu o controle da Estante Virtual, o que só fez os problemas piorarem. Na época, informou que suas dívidas somavam 285 milhões de reais. Agora, afirmou à Justiça já ter pago 12 milhões em débitos e que vem cumprindo suas obrigações. A livraria, que já chegou a ter quinze lojas, hoje mantém apenas as unidades da Paulista e de Porto Alegre. A Vejinha tentou contato com Sérgio Herz, CEO da empresa, mas ele não respondeu aos pedidos de entrevista. Em 2022, na pesquisa Os Mais Amados de SP, a Cultura foi escolhida pelos paulistanos como a livraria mais querida.
Publicado em VEJA São Paulo de 03 de março de 2023, edição nº 2830
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