Laura Cardoso: “Quero ser a melhor”
Com mais de cinquenta novelas no currículo, atriz rouba a cena em <em>Flor do Caribe</em>
Na difícil escalação do elenco das novelas, é comum que autores entrem em conflito para saber quem interpretará o galã ou a mocinha. Nomes como Cauã Reymond e Mariana Ximenes são constantemente disputados. No fim do ano passado, Walcyr Carrasco, de Amor à Vida, trama das 9 que estreou na segunda (20), e Walther Negrão, de Flor do Caribe, no ar desde março, travaram uma dessas quedas de braço, e o último levou a melhor. O alvo da cobiça não exibe curvas provocantes nem bíceps definidos, mas sim rugas bem acentuadas. “Aos 85 anos e com setenta de carreira, ser assediada para trabalhar é a glória”, comemora Laura Cardoso. A parteira Veridiana, uma nordestina que se orgulha de ser herdeira de cangaceiros, engordou uma marca impressionante: é sua 56ª personagem em uma produção de TV.
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A audiência média do novo folhetim tem ficado em 21 pontos na Grande São Paulo, ante 18 da antecessora, Lado a Lado. As brigas de sua personagem com o neto abilolado, vivido pelo jovem José Loreto, estão entre as cenas mais comentadas da história, em um novo bom papel na galeria da atriz, lembrada por sucessos como Mulheres de Areia (1993), na qual vivia a mãe das gêmeas Ruth e Raquel, A Viagem (1994), em que era possuída por um espírito, e Gabriela (2012), pela repercussão como a beata Dorotéia, que escondia um passado pecaminoso e fez o público repetir o bordão “Jesus, Maria, José!”. Ela não nega que ama ser destaque. “Adoro roubar a cena. Quero ser a melhor”, afirma. “Não faço isso por vaidade besta, mas por amor à profissão.”
Com Gabriela, Laura virou assunto nas redes sociais. Alheia à tecnologia, descobriu a popularidade na internet graças a Maitê Proença, que lhe apresentou o Twitter. “Fiquei feliz em saber que me prestigiam, pois todo ator quer ser visto.” A vaidade, porém, é sacrificada pela arte. Enquanto muitas estrelas correm para o cirurgião plástico ao menor sinal de um pé de galinha, Laura se mantém longe do bisturi. “Uma vez, Fernanda Montenegro me disse que nunca ficaríamos desempregadas, pois temos rugas e sempre vão precisar de uma avó por aí”, diverte-se. “O fato de não ter mexido no rosto a torna ainda mais verdadeira”, diz Negrão, autor de seis novelas com o nome dela nos créditos. Para outro sinal da idade, a dicção um pouco travada, ela recorre a sessões com um fonoaudiólogo.
Nascida no Bixiga e filha de feirantes portugueses, Laura começou a carreira aos 16 anos, na Rádio Kosmos, em 1943 (a emissora passou a se chamar Rádio América dois anos depois). De lá migrou para a TV e o teatro, e não parou mais de atuar. Caxias assumida, chegou a se jogar de uma escada quando estava grávida de seis meses na gravação de um programa da TV Tupi. “Sempre fiz loucuras. Se ia interpretar uma retirante que sofria com a seca, parava de beber e comer para entender como é a fome.” A entrega fez com que ela vivesse um drama típico das mulheres contemporâneas: não poder dar toda a atenção aos filhos. “Não me culpo, mas acho que minhas filhas desejavam que eu estivesse mais presente em casa”, afirma, referindo-se a Fátima e Fernanda (hoje, com 51 e 48 anos). Viúva há cerca de três décadas do dramaturgo Fernando Baleroni, Laura conta que nunca pensou em se casar de novo por se sentir “completa com a profissão”.
Ela divide com a caçula um apartamento de 160 metros quadrados em Perdizes, onde mora desde 1972. “O melhor de São Paulo é a seriedade, o povo trabalhador”, diz. “Só queria que aqui existissem menos prédios gigantes e houvesse mais verde.” Quando tem descanso da ponte aérea, que enfrenta semanalmente, aprecia frequentar as feiras da vizinhança para “estudar o ser humano e ver o movimento” e está sempre com um livro em mãos. A atual obra de cabeceira é o erótico Cinquenta Tons de Cinza. “Não estou gostando, é muito vazio.” Com o fim das gravações de Flor do Caribe em agosto, Laura planeja concentrar sua atenção em Fernando, a quem chama de “meu último amor”. Ele tem 12 anos e é seu bisneto. “Já fui tão feliz nesta vida, mas peço a Deus que me dê saúde para vê-lo formado na faculdade.”