Padre Júlio Lancellotti é atacado por jovens católicos fundamentalistas
O religioso lamentou os discursos violentos de grupos religiosos após recomendar livros; "Não tem como argumentar, não existe diálogo"
No último domingo (30), o padre Júlio Lancellotti recomendou uma série de livros em uma live e virou alvo de ataques, principalmente na internet. Em entrevista à Vejinha, ele falou sobre as mensagens de ódio e as tentativas de montagens falsas feitas contra ele.
“O que me causou espanto nesse momento é que foram jovens de discursos violentíssimos e os perfis são muito religiosos. Eles mandam textos de condenação, de inferno, de demônio, perguntando o endereço da paróquia, dizendo que vão me denunciar. Coisas terríveis”, explica.
Entre os livros recomendados estava a obra Teologia e os LGBT+, de Luís Corrêa Lima. Segundo Lancelotti, este foi o título mais atacado nas mensagens de ódio, principalmente por grupos fundamentalistas.
“O livro que pegou mais foi o do padre Luís Corrêa. Ele é professor de uma universidade da católica do Rio, intelectual e estudioso dessa questão. As pessoas que mandam essas mensagens não conhecem o conteúdo do livro, só o título, e fazem essa rotulação de mim. Recebo muito ‘padre herege’, ‘padre comunista’ e outros ataques pessoais”, diz. “Me assusta serem pessoas muito piedosas que estão fazendo isso”.
Júlio Lancellotti comenta também que muitas pessoas LGBT+ o procuram para pedir ajuda e lamenta que no momento atual ainda exista tanto preconceito. “Tenho recebido muitas mensagens de pedido de socorro de jovens LGBT+. Hoje, por exemplo, recebi uma visita de homem trans com a companheira e eles estão sendo triturados de todos os lados. Pediram apenas uma palavra de apoio, de conforto”, relembra. “Então, quando indiquei [o livro] foi também com esse objetivo de ajudar essas pessoas a não serem massacradas”.
Além de receber os ataques, o padre precisou desmentir uma montagem. Na imagem original, postada em seu Instagram, ele segura o livro Teologia e os LGBT+. Na falsa, trocam o livro por Catecismo Anticomunista. “Isso é má fé. Eu disse pra menina ‘mas filha, sua consciência está tranquila? Você acha que pegar a foto de uma pessoa, tirar o livro que ela tem na mão e trocar por outro é certo?’ E ela justificou dizendo que eu era herege, comunista, que estava ensinando um pecado. Não tem como argumentar, não existe diálogo”, lamenta.
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