Iris Abravanel escreve terceira novela e promete livro de autoajuda
Ela planeja obra sobre aventura de nova profissão aos 60 anos
Sentada em seu escritório, localizado em um imóvel perto da mansão onde mora, no Morumbi, a paulistana Iris Abravanel, de 62 anos, discorre sobre a época em que morava no Brás e vendia enciclopédias de porta em porta. Às 16h10, escuta-se um pamparanrã-pampã vindo do lado de fora. “Ih, ele chegou”, diz Iris. A buzina avisa que está na hora do café da tarde com Silvio Santos. Iris costuma deixar tudo o que está fazendo para acompanhá-lo. É a meia hora que tiram para conversar sobre amenidades e paparicar os nove cachorros das raças poodle e lhasa apso. No restante do tempo em família, o assunto costuma ser invariavelmente trabalho.
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À frente do grupo que leva seu nome, Silvio comanda 35 empresas, que faturaram 4,7 bilhões de reais em 2009. Suas seis filhas — quatro delas do casamento com Iris — têm cargos de diretoria dentro da companhia. A última do clã a entrar no negócio foi a própria Iris: há três anos, a dona de casa virou autora de novelas da emissora. Prepara seu terceiro folhetim, ‘Corações Feridos’, adaptação de um melodrama mexicano cuja estreia está prevista para 8 de novembro.
Em 2007, ao notar a dificuldade do marido em encontrar bons autores, ela se ofereceu para a improvável tarefa. Contava a seu favor o fato de, no início dos anos 90, ter escrito crônicas para a revista ‘CONTIGO!’, então dirigida por Walcyr Carrasco, novelista e cronista de VEJA SÃO PAULO. “Ela se expressava de uma maneira muito boa”, afirma Walcyr. “Até a aconselhei a escrever romances.” Ainda assim, muito tempo havia se passado e, a bem da verdade, Iris não era de acompanhar novelas. Ao ouvir o “sim” de Silvio, empenhou-se em fazer uma sinopse de quatro páginas para apresentar o texto a dois diretores do núcleo de dramaturgia do SBT. No dia da reunião, sem ser reconhecida, acabou barrada por alguns minutos na portaria da sede, na Rodovia Anhanguera.
Aí começa o segundo capítulo da trama, em que a escritora estreante precisou contratar seus colegas de trabalho. Uma amiga professora de matemática aqui, um sobrinho ali, uma indicação acolá, e estava formada a equipe, de maneira meio amadora e improvisada. A princípio, Iris tirava do bolso a ajuda de custo dos funcionários. ‘Revelação’, sua primeira novela, foi exibida entre dezembro de 2008 e junho de 2009. Teve média de 7,1 pontos de audiência. Em 2009, lançou com média de 6,7 pontos ‘Vende-se um Véu de Noiva’, adaptação de um texto de Janete Clair (1925-1983), autora de algumas das novelas de maior sucesso da história da Rede Globo. “A Iris está melhorando”, acredita o crítico de TV Ricardo Feltrin, colunista do UOL. “Não é fácil começar uma carreira à sombra do marido.”
Apesar do ibope insosso (a novela da concorrente Record, por exemplo, dá média de 10 pontos de audiência), Iris e sua turma ganharam infraestrutura para trabalhar. Além do casarão de 2 000 metros quadrados onde foi gravada a primeira edição do reality show ‘Casa dos Artistas’, que funciona como escritório, ela possui uma sala no SBT. Já não é mais barrada na entrada porque tem crachá, e-mail corporativo e salário (estima-se algo simbólico, em torno de 10 000 reais). “Este é o meu chefe”, apresenta Iris, apontando Del Rangel, diretor do núcleo de teledramaturgia. Na prática, todos trabalham para a primeira-dama. “Fazemos a novela para a Iris”, afirma Rangel. “Ela tem dado a vida por isto aqui.”
Ao custo de 180 000 reais cada um, os capítulos iniciais de ‘Corações Feridos’ já estão sendo gravados — valor incomparável ao de uma produção global, mas elevado para os padrões do SBT. Durante a visita de Iris aos cenários, na última terça (31), técnicos, marceneiros e atores paravam para cumprimentá-la. “Como vai, dona Iris?”, perguntavam. Houve até quem pedisse uma foto com a patroa.
Fora da sua cidade cenográfica, a situação é diferente. Apesar de estar casada há quase três décadas com um dos homens mais famosos do país, ela afirma ser pouco reconhecida nas ruas. Mais velha de quatro irmãos, Iris Pássaro (o sobrenome atual vem do marido, Senor Abravanel) cresceu no bairro do Brás. Seu pai, Rubens, foi fotógrafo, pintor e proprietário de uma metalúrgica. A mãe, Nina, tem 84 anos. Iris foi professora primária e lecionou em colégios da prefeitura. Durante um período de férias, trabalhou no Baú da Felicidade. “Tinha 19 anos quando conheci o Silvio”, diz ela, dezoito anos mais jovem que o apresentador. “Muita água rolou por debaixo da ponte até ficarmos juntos.”
A primeira mulher de Silvio, Maria Aparecida Abravanel, morreu de câncer em 1977, mas eles haviam se separado dois anos antes. Silvio e Iris só se casaram oficialmente em 1981, quando já tinham três meninas pequenas. Nesse meio-tempo, Iris estudou jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, mas largou o curso porque engravidou de sua primeira filha, Daniela, em 1976. Depois vieram Patricia, de 33 anos, Rebeca, de 29, e Renata, de 25.
A partir daí, Iris virou mãe em tempo integral. “Nos fins de semana meu pai costumava gravar e ela ficava com a gente”, lembra Daniela, diretora-geral do SBT. “Minha mãe criava jogos, teatrinho, competições, contava histórias, fazia da nossa casa um parque de diversões.” Mas nem sempre o ritmo de festa prevaleceu na residência dos Abravanel. Entre 1992 e 1993, a história da separação do casal, com direito a advogados e boletins de ocorrência, estampou páginas de revistas e jornais. Eles se reconciliaram após seis meses. O motivo da briga teria sido o ciúme excessivo de Silvio. “Ele ainda é ciumento, mas já foi mais”, diz Iris. Outros momentos de crise viriam, sobretudo quando, no início desta década, a mulher e as filhas se tornaram evangélicas. Silvio educou as meninas para, como ele, seguirem o judaísmo. Iris, criada no catolicismo, nunca chegou a se converter. Tinha pouco interesse por religião, até ouvir seu copeiro falar de Jesus e da Bíblia. “Fui evangelizada por ele”, conta.
Durante anos, ela frequentou os cultos da Igreja Vida Nova, no Jaguaré, na Zona Oeste da cidade. Atuou como voluntária na Escola do Futuro, colégio particular que reserva parte de suas vagas para crianças carentes. Hoje, continua evangélica, mas não tem vínculo com nenhuma instituição religiosa — vai a igrejas batistas e presbiterianas, por exemplo. Dos tempos de voluntariado, ficaram as amigas da alta sociedade. “Fizemos juntas um curso de oratória para aprender a falar em público”, diz a socialite Patrícia Rollo. “Íamos ao escritório do professor, na Avenida Paulista, e ficávamos discursando para uma plateia imaginária. Era muito engraçado.” Iris é vista pelos mais próximos como uma pessoa reservada, que prefere manter-se longe dos holofotes. “Ela é completamente avessa à ostentação”, afirma a amiga Claudia Saad, casada com Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes. “Não liga para peças de grife nem tendências de moda.”
Iris compra roupas no exterior, porque, nas palavras dela, “é mais barato”. Até um ano atrás, frequentava o salão de beleza apenas uma vez por mês. “Agora ela vem toda semana”, diz o cabeleireiro Dennis Ruiz. Costuma deixar gorjetas que variam — olha o aviãozinho! — de 50 a 100 reais. Dia desses, arrumou um maquiador particular, “o mesmo da Marília Gabriela”. Admite ter feito plásticas no rosto.
Auxiliada por uma personal trainer, malha até duas horas por dia. Faz pilates e se exercita no power plate, aparelho de ginástica vibratório que tonifica os músculos. É ela quem cuida das contas da casa (na segunda, por exemplo, precisava pagar o açougue e as persianas novas) e orienta os catorze empregados. Elabora no início de cada mês um cardápio com o que deve ser preparado pela cozinheira. Como grava em dias alternados, Silvio passa boa parte do tempo em casa. Ele e Iris quase não saem. Nos fins de semana, assistem a filmes e documentários. Apenas a caçula, Renata, diretora do site do SBT, ainda mora com eles. As três mais velhas, casadas, não têm filhos. “Estou louca para ser avó”, diz Iris.
Pelo menos quatro vezes por ano, a família passa temporadas na casa que mantém no condomínio Celebration, na Flórida, nos Estados Unidos. Lá, eles vivem como gente comum. A cozinheira sai de cena e é Iris quem pilota o fogão. Prepara estrogonofe, bolos e manjar. Silvio frita bife na manteiga e, depois, deixa a cozinha tinindo. “Ele lava a louça, lava a pia e limpa o fogão”, revela Iris, descrevendo uma cena difícil de imaginar. Dia sim e outro também, vão ao supermercado. Empurrar carrinhos para eles é um programão. Complicado agora é arranjar uma brecha na agenda para aproveitar longas temporadas fora do país. Afinal, a autora precisa entregar seis capítulos por semana da novela que trata de um homem que quer vingar a morte do irmão e acaba se envolvendo com a prima da mulher que teria causado o suicídio dele. Em três meses, promete lançar um livro de crônicas e já imagina outro, na linha de autoajuda, sobre a aventura de encarar uma nova profissão aos 60 anos. É, pelo visto, a mulher de Silvio Santos resolveu sair do baú.