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Inocentes inúteis

Tenho passado um bom tempo da minha vida em aeroportos, desde o começo da crise. Outro dia, surgiu um compromisso súbito no Rio de Janeiro. Tentei embarcar sem reserva. Impossível. Todos os vôos lotados. Fui de companhia em companhia, entrei em listas de espera. Pior. Como já se tornou hábito, ninguém sabia ao certo a […]

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h44 - Publicado em 18 set 2009, 20h18
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  • Tenho passado um bom tempo da minha vida em aeroportos, desde o começo da crise. Outro dia, surgiu um compromisso súbito no Rio de Janeiro. Tentei embarcar sem reserva. Impossível. Todos os vôos lotados. Fui de companhia em companhia, entrei em listas de espera. Pior. Como já se tornou hábito, ninguém sabia ao certo a hora do embarque. Nem mesmo se o vôo sairia de Congonhas, onde eu estava, ou de Cumbica. Uma senhora, furiosa, descascava o abacaxi em cima da atendente.

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    – Como você não sabe?

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    – Ainda não temos a informação – respondia a moça em voz neutra.

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    – É um absurdo! – trovejava a outra.

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    Também gritei quando descobri que ninguém da lista de espera seria chamado.

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    – O vôo está completo.

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    – E vocês me deixam aqui de pé, como um idiota?

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    As pobres atendentes devem fazer meditação transcendental para manter-se impassíveis enquanto são xingadas até a última geração!

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    Depois, caí em mim. “Que culpa elas têm, afinal? Não são controladoras de vôo nem acionistas das companhias!”, refleti. Muitas vezes, perco a paciência. Aconteceu no condomínio de casas onde moro. Estava no carro de um amigo, sem o selo de identificação. O segurança da portaria era recém-contratado. Disse que precisaria ligar em casa.

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    – Não há ninguém para atender o telefone agora – respondi. – Sou o proprietário.

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    – Não estou encontrando seu nome na lista. Dá a rua e o número.

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    – Não dou o endereço coisa nenhuma! Vocês têm de se organizar.

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    Esbravejei. Acabei entrando. Liguei para a síndica, furioso. Ela respondeu:

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    – Acontecem muitos assaltos na região. Pedi mais rigor.

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    Desliguei, envergonhado. Com que direito briguei?

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    Por que motivo ele devia saber quem eu era?

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    No elevador de um shopping, uma senhora gritou para a jovem ascensorista:

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    – Que história é essa de demorar tanto?

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    A moça não comprou o elevador, não instalou, não controla a velocidade! Em um estacionamento lotado, um motorista entortou o cone. Parou o carro e saiu aos berros:

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    – Não vou ficar de fora! Se virem!

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    Bilheteiros de teatro ouvem gritos quando não há mais um bom lugar. Vendedoras de loja, quando alguém esquece a nota fiscal para troca. Ainda me envergonho de minha atitude no estacionamento de uma loja. O segurança pediu:

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    – Pode endireitar o carro?

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    – Por que não avisou antes de eu descer? – rugi. – Agora não mexo mais.

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    Foi um bate-boca. Mais tarde, em casa, pensei nos motivos pessoais pelos quais estava nervoso. Descontei no rapaz. Mas e ele? Pode ter perdido o emprego.

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    Ultimamente, a ficha me caiu. Gritar é despejar a própria raiva. Mas não resolve. Empresas, com freqüência, não se preocupam com clientes. Botam um exército para agüentar o tranco, e adeus! A solução é procurar órgãos de defesa do consumidor ou acionar juridicamente quando for o caso!

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    Brigar com atendentes, seguranças, recepcionistas, porteiros agora me causa um profundo mal-estar. São inocentes inúteis, pois não têm meios para resolver coisa alguma. Saio da discussão pior do que entrei. Quando vejo alguém fazer isso, também me sinto mal.

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    Há poucos dias, fui entrar na empresa onde trabalho. Normalmente, basta passar a carteira com o crachá magnético escondido lá dentro. Mas o segurança pediu:

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    – Há uma nova exigência. Todo funcionário deve mostrar o crachá.

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    Quase berrei. Depois de anos, ainda não me conhecem? Respirei. Tirei o crachá da carteira. Mostrei. Saí com um sorriso. Foi uma vitória não só sobre mim mesmo, mas também em cima do “Você sabe com quem está falando?”, que, mais dia, menos dia, acomete cada um de nós!

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