Iate Clube de Santos, no Guarujá, é o playground dos bacanas
Com frota de 300 barcos avaliada em 1 bilhão de reais, principal sede do ICS reúne 150 sócios a cada fim de semana
Festejado como a estação das férias escolares, das temperaturas altas e dos corpos à mostra, o verão também é — para um seleto grupo de milionários amantes de iates — o momento de exibir seus possantes no litoral. É quando o casal de advogados paulistanos Rosana e Mário Sérgio de Mello Ferreira dirige seu Porsche Boxster rumo ao Guarujá, a 86 quilômetros da capital. O destino é a maior sede do Iate Clube de Santos, de 125.000 metros quadrados, onde deixam ancorada sua lancha italiana Cranchi, de 34 pés — cada pé equivale a 30,48 centímetros, ou seja, 10 pés são cerca de 3 metros.
As lanchas costumam ser divididas em três categorias: pequenas (até 25 pés), médias (de 26 a 55 pés) e grandes (acima de 56 pés). Com dois quartos, a máquina do casal é avaliada em 1,5 milhão de reais. Ela fica estacionada ao lado de outros 300 barcos, propriedade de famílias tradicionais como Safra, Setubal e Ermírio de Moraes. São espécies de apartamentos de luxo feitos para deslizar no mar e permanecer em atividade por até quarenta anos. “Este é o nosso paraíso na terra”, diz Ferreira, sócio da entidade há quinze anos.
Em média, 150 pessoas frequentam o clube nos fins de semana de verão — o dobro do restante do ano. “Aqui posso usar meus relógios sem me preocupar com segurança.” Inaugurada em 1947, a unidade do Guarujá conta com três quadras de tênis, piscina, salão de festas, bar, restaurante, heliponto e um prédio com 64 apartamentos, exclusivo para os 700 sócios. Por comodidade, Ferreira adquiriu dois deles. Da sua varanda, admira um mar de barcos, que juntos somam cerca de 1 bilhão de reais. “É a nossa Monte Carlo”, compara, em referência à capital de Mônaco.
O empresário Arnaldo Diniz Filho, 30 anos, da família fundadora do Grupo Pão de Açúcar, prefere dormir em sua lancha italiana. Arnaldinho, como é conhecido, frequenta o Iate Clube desde pititico. “Minha família adora navegação”, diz. Ele organiza passeios com os amigos nas redondezas de Ilhabela. Simpático, o rapaz só tira o sorriso do rosto quando perguntado sobre o valor de seu tesouro de 68 pés. Qualquer entendido no assunto, entretanto, sabe que o barco não custa menos que 6 milhões de reais.
As lanchas geralmente são batizadas com nome feminino. Muitos proprietários homenageiam uma filha. Evita-se dar o nome da mulher por uma razão prática: caso o casamento vá para o brejo, não haverá dor de cabeça extra para atualizar a documentação.
O culto aos barcos não é um clube do Bolinha. Sócia há 25 anos, a arquiteta Bya Barros é habituée do lugar. Como está sem um brinquedinho para chamar de seu, atualmente ela pega carona na embarcação dos amigos. “A cada dia visito uma praia diferente”, diz.
Dono do centro hípico Helvetia Riding Center, em Indaiatuba, o empresário Milton Minello trocou de barco há duas semanas: vendeu um de 36 pés, ano 1986, cujo primeiro proprietário foi o piloto Ayrton Senna, para comprar outro de 52 pés, fabricado em 2006. Tem três quartos e duas espreguiçadeiras na proa para tomar sol. “Não é lindo esse meu barco?”, pergunta ele, já sabendo a resposta. “Será minha nova sala de reunião.” Minello costuma fechar negócios enquanto desbrava baías, ilhas e praias do litoral paulista. “Meus clientes estrangeiros ficam malucos com nossa paisagem.”
Para se tornar sócio do principal clube náutico do país, é preciso desembolsar 102.000 reais, entre título e transferência. A mensalidade varia, numa prova de que tamanho é documento. O dono de uma embarcação de 80 pés paga 4.000 reais mensais, enquanto manter uma lancha de 18 pés sai por 600 reais. Há também gasto com marinheiro. Cada embarcação precisa de pelo menos um, cujo salário oscila de 1.800 a 3.000 reais. Isso sem falar nas despesas com mecânicos, combustível, limpeza… O seguro, por exemplo, varia de 1,5% a 2% sobre o valor total do barco.
“Esse mercado está em ebulição”, afirma Oswaldo Dores, representante do estaleiro italiano Azimut. Ele vendeu 85 unidades da marca em 2010, dezessete a mais do que em 2009. “Encomendei recentemente cinco modelos que custam 15 milhões de reais cada um”, conta. Detalhe: Dores desfila pela costa a bordo de uma lancha de outra fabricante, a americana Wellcraft. Tem 40 pés. “Adoro fazer passeios noturnos”, diz sua mulher, a dona de casa Nancy Fátima de Jesus. “Há locais onde é possível ver o reflexo das estrelas.”
Além do transporte entre a terra firme e a água, os barqueiros temem assaltos de piratas em busca de aparelhos eletrônicos, bebidas e joias. Não há números oficiais sobre corsários, mas Genivaldo Alves Costa, gerente do ICS do Guarujá, estima que dez sócios tenham sido assaltados em 2010. Eles foram abordados por pequenos botes de alumínio, que conseguem fugir pela água com boa velocidade.
“Temos sistema de rádio e ninguém sai a passeio sem ao menos um marinheiro”, diz Berardino Antonio Fanganiello, comodoro da entidade há quatro gestões. Ele capitaneou a expansão do Iate Clube de Santos. Além de comprar as sedes do Guarujá e de Angra dos Reis, adquiriu as de Paraty, em 2003, Ilhabela, em 2005, e São Paulo, em 2008. Localizada em Higienópolis, essa última passará por uma reforma orçada em 12,2 milhões de reais. “Precisamos tratar bem o nosso público, que é muito exigente.”
DE BARCO EM BARCO…
Números do Iate Clube de Santos, no Guarujá
1 bilhão de reais somam os 300 barcos ancorados na unidade do Guarujá, fundada em 1947
102.000 reais é o valor do título e da transferência para se tornar sócio do clube
4.000 reais é o aluguel da garagem para uma lancha de 80 pés
700 famílias são sócias do clube