Verde no concreto: hortas comunitárias recebem incentivo da prefeitura
Cultivo de hortaliças, temperos, frutas e legumes se espalha em hortas comunitárias e será turbinado com pacote de ações municipais
Em 2017, inspirado pela experiência de seus parentes na Bahia, onde muitos cultivam hortas em casa, Gilson Rodrigues subiu até o topo do prédio da União dos Moradores e Comércio de Paraisópolis, entidade que ele presidia à época, e teve a ideia de tirar toda a tralha acumulada ali e montar uma horta. “O espaço de terra é muito disputado na favela. Eu olhava para o lado e não tinha horta, não tinha verde”, diz.
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Nascia ali a Horta na Laje, uma iniciativa criada em conjunto com o instituto Stop Hunger e que se multiplicou por outros pontos da segunda maior comunidade da capital paulista, com 100 000 moradores. Um desses pontos é a sede do G10 Favelas, presidido por Rodrigues, que ocupa uma área de 900 metros quadrados.
A Horta na Laje é uma das 101 hortas urbanas catalogadas na plataforma Sampa+Rural, da prefeitura, que reúne dados de áreas de produção agrícola na cidade. O crescimento da quantidade das hortas, principalmente as comunitárias, em que moradores põem a mão na massa por ativismo, para atividades didáticas ou só para consumo já é percebido pela prefeitura, segundo Armando Junior, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho em exercício. Tanto é que elas integram um grande pacote de ações lançado no dia 8 de novembro para expandir e fortalecer a agricultura no município.
“Vamos incentivar que todas as escolas tenham hortas para que as crianças possam mexer na terra desde pequenas, assim como as UBSs”, afirma. Hoje são 211 hortas públicas, número que pode passar de 600 no final da gestão. Outro braço dessas ações é prestar auxílio técnico e de insumos para novas hortas comunitárias, que muitas vezes — mas nem sempre — distribuem os alimentos produzidos de graça aos vizinhos.
Um dos exemplos mais bem-sucedidos de apoio coletivo para criação de um espaço verde comunitário é a Horta da Saúde, na Zona Sul, que nasceu há quase dez anos a partir do esforço de voluntários coordenados pelo ambientalista Sergio Shigeeda, de 63 anos.
Morador da região, ele conta que sempre se incomodava ao ver um pequeno terreno público de 400 metros quadrados cheio de mato, sujeira e entulho. Decidiu pedir liberação para ali montar uma horta e, com a ajuda de vizinhos, conseguiu tirar vinte caçambas de entulho e fazer o plantio. No local há mais de 200 espécies de pancs (plantas alimentícias não convencionais), folhagens, plantas medicinais e meliponário (abrigo de abelhas), além de uma compostagem.
“É um espaço de convivência e troca de informações sobre alimentos saudáveis e orgânicos”, define Sergio. A experiência deu tão certo que ele começou a ajudar na criação de outras hortas, uma delas na aldeia indígena Tekoa Itaendy, no Pico do Jaraguá, na Zona Oeste.
Segundo Andre Biazoti, integrante da União das Hortas Comunitárias e do Instituto Polis, no atual contexto econômico a cria – ção de hortas se torna ainda mais importante. “A situação que a gente vive hoje no país, de aumento da fome, crise econômica generalizada, desemprego alto e inflação crescente, impacta a população mais pobre e vulnerável”, diz.
Em comunidades carentes, a produção pode ter mais de uma finalidade. É o caso do coletivo Mulheres do GAU, que atua em uma área de 2 000 metros quadrados cedida pela CDHU na União de Vila Nova, no extremo da Zona Leste. Parte da produção é doada à comunidade e outra parte, comercializada, e o dinheiro é destinado a mulheres em situação de vulnerabilidade, segundo explica uma de suas integrantes, Joelma Marcelino dos Santos, 49 anos.
Publicado em VEJA São Paulo de 23 de novembro de 2022, edição nº 2816
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