Casal relata que foi alvo de homofobia por funcionário de supermercado da Zona Sul
De acordo com eles, depois de entrarem no local abraçados, foram informados de regra que proíbe entrada de cônjuges; Hirota nega
Dois rapazes relatam que foram alvo de homofobia por parte de um funcionário da rede de supermercados Hirota, na unidade Morumbi, na segunda-feira (25). Eles afirmam que entraram abraçados no local quando um homem os abordou para informar uma determinação interna que não permitia casais no estabelecimento por conta da Covid-19, apesar de, segundo a dupla, cônjuges heterossexuais estarem presentes no mercado naquele mesmo momento. Em nota, a empresa negou a acusação.
Na segunda-feira (25) Guilherme Monteiro, 31, personal trainer, entrou no supermercado por volta das 20h para comprar água, após frequentar uma academia junto com o namorado, Gabriel Silva, 33, advogado. “Eu estava bebendo um iogurte, chegou um funcionário e coloquei minha máscara, que estava abaixada”, lembra Guilherme.
“E aí ele começou a falar: tem uma lei que não pode casal dentro do estabelecimento”, conta. “E perguntei, que lei é essa? Eu falei que ia procurar na internet, ou que ele podia me mostrar. Ele falou que não podia ficar se abraçando, se tocando”, diz o personal trainer.
De acordo com Monteiro, depois de insistir nos questionamentos sobre a suposta lei, o funcionário teria admitido que a determinação não era legal, mas uma “política interna do mercado”. “Enquanto ele falava isso, vários casais heterossexuais faziam compras do lado, abraçados”, afirma Gabriel.
“A gente percebeu na hora que era homofobia, que foi para humilhar”, diz Guilherme, que registrou um boletim de ocorrência online e irá depor na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI).
“A história dele não bate”, diz Helio Freddi, diretor de comunicação do Hirota. Ele conta que a equipe do supermercado entrou em contato com Guilherme para falar sobre o caso, mas ele não atendeu o telefone. O personal trainer diz que foi procurado pelas redes sociais e mostrou prints de uma conversa com o perfil da empresa no Instagram.
Helio Freddi relata que a versão do personal e a do funcionário em questão são conflitantes “tendo em vista que as imagens capturadas revelam a abordagem de nosso colaborador com relação ao uso incorreto de máscara, fato confirmado pelo testemunho de nosso funcionário”, disse o diretor, por e-mail. “Imediatamente após a abordagem o senhor Guilherme passa a usar a máscara de forma correta”.
Não é a primeira vez que uma polêmica do tipo ocorre na rede. Em 2017, de acordo com reportagem do G1, o Hirota distribuiu panfletos em diversas unidades com mensagens que condenavam relações homossexuais, aborto, sexo antes ou fora do casamento e diziam que a “esposa precisa ser submissa ao marido”.
“Eles negaram totalmente. Faz sentido eu ter colocado a máscara e depois ter ficado discutindo? Vou na delegacia”, diz Guilherme. O rapaz relata que depois da discussão, o colaborador do Hirota desistiu da abordagem, ele e o namorado compraram a água e foram embora. “A gente não estava se beijando, e mesmo que estivesse! Não foi legal o que ele fez, não ia aceitar”, conta.
Confira abaixo a nota completa de Helio Freddi, diretor de comunicação do Hirota, sobre o caso:
Tentamos desde a terça-feira, dia 23/02 contato com o sr. Guilherme Monteiro para esclarecer o fato ocorrido, pois a sua postagem no Instagram não condizia com o que apuramos no circuito interno de monitoramento.
De forma espontânea ele nos passou o telefone e por 3 vezes foi combinado horário conosco para que pudéssemos conversar e esclarecer o assunto, porém ele não nos atendeu em nenhuma das ocasiões. Ontem, por volta das 21:00 h, ele nos procurou e afirmou que foi orientado pelo Coordenador de Políticas de Diversidade do Estado de São Paulo, a somente conversar conosco por e-mail, em virtude da repercussão que o caso estaria tomando.
Foi quando argumentamos que gostaríamos de ouvi-lo, pois realmente as versões estavam conflitantes, tendo em vista que as imagens capturadas revelam a abordagem de nosso colaborador com relação ao uso incorreto de máscara, fato confirmado pelo testemunho de nosso funcionário, pois nas imagens, imediatamente após a abordagem, o senhor Guilherme passa a usar a máscara de forma correta. Vale salientar que os estabelecimentos comerciais, por força de lei, exercem o dever de fiscalizar o uso das máscaras de proteção, sob pena de multa e outras penalidades.
Respeitando a sua decisão de conversar por e-mail não mais respondemos aos questionamentos na internet, pois entendemos que ele gostaria de resolver a questão juridicamente.
Reitero que temos todas as imagens da visita do casal à loja, desde a sua entrada até a saída, onde circularam com toda tranquilidade e finalizaram suas compras normalmente, onde não se vislumbra qualquer tipo de agressão, ameaça ou constrangimento.