Personalidades mostram joias que não venderiam por dinheiro algum
Braceletes, relógios, colares, cigarreiras...
EMPRÉSTIMO SEM RETORNO
Que tesouros abriga o porta-joias de uma princesa? Tetraneta do imperador Pedro II, Paola de Orleans e Bragança acostumou-se desde menina aos brilhos de além-mar guardados por sua mãe. Hoje, mantém com carinho especial este bracelete de ouro, rubis e esmeraldas que tem uma foto do duque de Montpensier, um parente distante. “Peguei emprestado para meu trabalho de conclusão de curso”, diz ela, formada em desenho industrial e multitarefa — atua como modelo, apresentadora, designer e DJ. “Avisei que não vou devolver.” Outra peça de seu acervo é o broche de brilhantes em forma de flor-de-lis. “Apesar de ser símbolo dos Orleans, veio da parte Bourbon da família.”
OH, CÉUS!
Receber uma medalhinha de Nossa Senhora é um presente enviado pela própria Maria, mãe de Jesus. É o que costuma dizer a empresária Maricy Trussardi. Mesmo a menos religiosa das criaturas bradaria uma ave-maria aos céus se o mimo em questão fosse como o que ela deu à 15ª de seus 26 netos, a também empresária Ciccy Halpern. Feita de ouro branco, tem brilhantes que realçam a figura da Virgem de Guadalupe. Peças semelhantes à venda no mercado custam cerca de 6 500 reais. Cada menina que nasce em sua família, uma das mais tradicionais e católicas da cidade, ganha uma medalha. “É divertido ver fotos das nossas festas, pois todas têm Nossa Senhora pendurada no pescoço”, comenta Ciccy.
PARA LEMBRAR DO NONNO
O fotógrafo Fabrizio Fasano Junior lembra bem pouco, quase nada, da breve convivência com o avô Ruggero. “Tinha apenas 5 anos quando ele morreu”, diz Fabrizio, que recebeu como recordação uma cigarreira de ouro que pertencera ao nonno. Este, por sua vez, a herdara do patriarca da família, Vittorio, fundador da Brasserie Paulista — o primeiro estabelecimento da empresa que viria a se tornar a maior grife da boa mesa brasileira. “Foi um presente de aniversário da mulher dele, Bianca, em 1912”, conta. Fumante ocasional, ele nunca usou o objeto. “Os cigarros de hoje, mais compridos que os antigos, não cabem ali.”
A SORTE DE NÃO TER PRIMAS
Neta única tanto da avó paterna quanto da materna, a arquiteta Carolina Maluhy — que sortuda! — herdou sozinha tudo o que reluzia nos porta-joias de ambas. “As duas eram muito chiques”, lembra-se. Com mais de vinte peças, o conjunto quase todo fica guardado em Londres, onde ela se sente mais segura para circular com as joias. Entre suas preferidas estão os colares Van Cleef and Arpels e duas pulseiras de ouro. O anel cravejado de rubis é herança da bisavó Aurore e foi desenhado por Gianmaria Buccellati, marca famosa na Itália.
NOIVADO INESQUECÍVEL
Uma das coisas que a estilista Daniela Cutait mais gostava de fazer na infância era brincar em frente ao espelho com as joias da avó Dayse Racy Mattar. “Umas ficavam no cofre, outras dando sopa na porta do banheiro”, lembra. Foi com um misto de surpresa e alegria que recebeu, na noite de seu primeiro noivado, há mais de quinze anos, um Piaget de ouro branco e botão de corda de safira — no mercado, hoje, valeria cerca de 18 000 reais. “Eu a sinto perto de mim toda vez que uso o relógio.”
XODÓ DA VOVÓ
A estilista Isabella Giobbi bem poderia ter feito aquele comercial recente que provocou polêmica por mostrar neta e avó num papo prafrentex sobre sexo. Vive colada à mãe de seu pai, Irene, sua companhia para programas descolex como badalar em Trancoso, no litoral baiano. A proximidade é tanta que a vovó deu a ela, ainda em vida, algumas das estrelas de sua caixinha de joias. Entre as que mais aprecia estão os colares Van Cleef and Arpels (um novinho em folha, numa loja, teria preço inicial de aproximadamente 5 000 reais). “Quando alguém vem dizer que tem um igual, conto que o meu é vintage de verdade e está na família há cinquenta anos.”
DIAMANTES IMPERIAIS
No início do século XX, as madames paulistanas brilhavam, literalmente, com os colares e braceletes assinados por Bento Loeb, avô da designer Izabel Esteves. Integrante da quarta geração de uma linhagem de joalheiros, ela mantém a tradição com um público que vive exibindo suas criações em colunas sociais. Mas nem a cliente mais fiel seria capaz, garante ela, de convencê-la a se desfazer do broche de diamantes que foi de sua mãe, Henriette, e teria pertencido à família de dom Pedro. Após avaliar os diamantes, Izabel concluiu que são nacionais, lapidados num estilo muito comum nos tempos do imperador — o que pode ser um indício de que a história procede.“Para mim, o que importa é o valor sentimental.”
GUARDA COMPARTILHADA
O relógio que o decorador Fernando Piva herdou de seu pai, o engenheiro Flávio
Piva, tem a forma, o tamanho e, à primeira vista, o peso de uma hóstia católica. “Apesar de discreto, não passa despercebido”, garante. Da tradicional marca Universal, da Suíça, fica guardado no estojinho original. “Foi o presente que minha mãe deu a ele pouco antes de se casarem”, recorda. A união acabou e a peça foi parar na casa do filho. Mas, vira e mexe, sai para passear. Como assim? “Meu pai às vezes pega emprestado.”