Síndica trans quer apagar passado polêmico de prédio ao lado do Minhocão
O edifício ganhou fama quando a antiga administração contratou serviço para “retirada de moradores de rua”
Marcela Volpato, 45, é empresária e se mudou com o marido há quase dois anos para o Edifício Coimbra, imóvel com 98 quitinetes na Rua Amaral Gurgel, 97. Síndica desde novembro, ganhou projeção entre os moradores em setembro, quando divulgou nas redes sociais com outros vizinhos um gasto que constava no balanço da administração: 400 reais para um segurança, que exerceria a atividade de “retirada de moradores de rua” da frente do prédio, vizinho do Elevado Presidente João Goulart. O caso é investigado pelo Ministério Público.
“Fiquei emocionadíssima por ter ganho na assembleia. Como transexual, a gente sabe que o preconceito existe”, diz. A eleição teve emoções. “A antiga síndica apareceu com um monte de procuração, inclusive de morador que já morreu”, afirma Marcela, que teve 22 votos, contra os 15 de um candidato de uma administradora de condomínios, que, segundo ela, recebeu o endosso de Terezinha dos Anjos, 75, a síndica anterior.
“Analisamos documento por documento para ver se as procurações eram legítimas ou não. Muitas eram cópias simples (sem autenticação em cartório)”, diz Thiago Badaró, advogado contratado por Marcela. A Vejinha entrou em contato com Terezinha, que, em um primeiro momento, concedeu entrevista e rebateu as acusações de Marcela, negando problemas. Depois, pediu que suas aspas não fossem publicadas.
“Somos o prédio mais feio da Amaral Gurgel”, critica Marcela. Mas a prioridade, por ora, será outra. “A taxa de inadimplência (da mensalidade do condomínio) está em 15%. Vamos ter de cortar gastos. Quero adotar a portaria eletrônica”, finaliza.
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Publicado em VEJA São Paulo de 09 de dezembro de 2020, edição nº 2716