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Galpão perto de casas receberá 2000 toneladas de lixo por dia na Zona Oeste

Prefeitura e Cetesb autorizaram a operação; vizinhos tentavam impedir as obras, que já começaram, desde 2014

Por Guilherme Queiroz
Atualizado em 21 set 2021, 19h42 - Publicado em 17 set 2021, 06h00

Os moradores da Vila Jaguara, na Zona Oeste, tentavam desde 2014 impedir que fosse construído no bairro um galpão da empresa Loga, responsável pela coleta de lixo em cerca de 50% dos endereços da capital. Foi em vão. Com aval da prefeitura e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), as obras da futura estação começaram em agosto e devem terminar em 2022.

O local vai receber 2 000 toneladas de resíduos domiciliares por dia. Servirá para o transbordo desse material, ou seja, a passagem do lixo coletado nas ruas para caminhões maiores. O temor da população, principalmente das 56 casas que ficam de frente para o galpão, é o surgimento de ratos, baratas e pombos, além de possível mau cheiro e desvalorização imobiliária.

O terreno de 33 000 metros quadrados fica na Avenida Manoel Domingos Pinto, entre a Marginal Tietê e a Rodovia Anhanguera. O nome da unidade será Estação de Transbordo de Resíduos Domiciliares Parque Anhanguera. Ela vai receber lixo dos bairros de Pirituba, Freguesia do Ó, Lapa, Pinheiros e Butantã, onde moram um total de 2,5 milhões de pessoas. Ao menos três vezes por dia, sessenta caminhões vão descarregar resíduos no local. Esse volume será realocado em carretas, que seguirão para os aterros sanitários. “Nos próximos dias, faremos a terraplanagem e as estruturas de apoio da área de convivência”, diz a Loga, em nota.

Como contrapartida para os moradores, a empresa promete construir um parque e uma área voltada para a educação ambiental no local. Não é suficiente para aplacar os ânimos no pedaço. “Todas as ruas do bairro dão de frente para o terreno. No que essa região vai se transformar?”, diz a vice-presidente da Associação dos Moradores do Parque Anhanguera (Amaspa), Adriana Cesário. “A Loga nunca chamou a população para diálogo, nos trata como vizinhos indesejados”, afirma Alice Fabri, moradora da região e autora de uma denúncia no Ministério Público (MP- SP) que levou o órgão a abrir um inquérito para investigar o caso, em 2014. De acordo com a Loga, a empresa “manteve-se à disposição da população local desde os primeiros ritos de licenciamento”.

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A análise da Promotoria trouxe à tona outro problema. Segundo um parecer do Centro de Apoio Operacional à Execução, um braço técnico do MP-SP, duas empresas de armazenamento de combustíveis e produtos químicos ocuparam o terreno até 2006 e deixaram contaminantes no solo e na reserva de água subterrânea do local. “Nós não queremos um parque em área contaminada”, diz Adriana. Em nota, a empresa afirmou que área contaminada fica em uma região do terreno diferente de onde será construída a área de convivência e a estação de Transbordo (veja posicionamento completo ao final).

A prefeitura afirma que a Loga possui todas as licenças para a instalação do empreendimento. Lembra, ainda, que atualmente a capital paulista tem três áreas de transbordo. Uma delas é a da Ponte Pequena, na região do Bom Retiro, também operada pela Loga, que recebe 5 500 toneladas de lixo por dia, a maior do tipo no país. “(A nova estação) minimizará o risco de colapso no sistema, dividindo as operações”, diz a gestão Ricardo Nunes (MDB).

Uma estação de lixo. Caminhões jogam resíduos em um galpão
A estação da Ponte Pequena: queixas (Loga/Reprodução)

Sobre o risco de mau cheiro, a prefeitura diz que as novas estações são “equipamentos modernos, com operação em ambiente totalmente fechado, sistema de pressão negativa e filtragem do ar”. Aparentemente, a tecnologia não satisfez a comunidade da igreja coreana no Bom Retiro, que fica quase de frente para o transbordo da Ponte Pequena, na Rua David Bigio. “Nas épocas de maior calor, ninguém aguenta o cheiro. A comunidade nos trouxe reclamações por causa de uma creche que existe dentro da igreja”, diz o vereador Aurelio Nomura (PSDB), sobre relatos que serão apresentados à Comissão de Política Urbana da Câmara.

A respeito do risco de surgirem ratos e baratas, a Cetesb, órgão estadual que também aprovou a obra, afirma que o programa de controle de vetores apresentado pela Loga foi “considerado satisfatório”.

Além das residências, a Vila Jaguara tem também noventa imóveis comerciais, inclusive de empresas do ramo alimentício, como unidades da Quatá e da JBS. “A Quatá considera tal operação prejudicial às suas atividades, que envolvem o armazenamento e a distribuição de alimentos”, diz a empresa, que produz laticínios variados e tem um centro de distribuição próximo ao futuro local de transbordo. A JBS, que também tem um galpão no bairro, não quis se pronunciar sobre o caso.

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60 caminhões vão descarregar lixo de bairros como Lapa, Pinheiros e Butantã

Em 2016, os moradores tentaram alterar na Câmara Municipal a legislação do zoneamento da região, mas não tiveram sucesso. Informados sobre o início das obras, ergueram faixas na vizinhança para protestar e solicitar mais uma reunião com o Ministério Público sobre o tema. “O MP está sentado há sete anos no inquérito. A gente não entende por que a Promotoria (de Justiça e Meio Ambiente da capital) não avança na questão”, diz a vice- presidente da associação de moradores. Procurado reiteradas vezes, o MP-SP, que representa os interesses da população, não se posicionou sobre o andamento do caso.

No portão de uma casa, um banner escrito:
Protesto de morador na Vila Jaguara (Reprodução/Reprodução)

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Atualização: Após a publicação da reportagem na revista impressa, a Loga procurou a Vejinha para se posicionar sobre a presença de contaminantes no terreno do parque. A empresa havia respondido apenas quatro dos dez questionamentos enviados pela equipe. Posteriormente, informou:

Sobre a contaminação no terreno, apontada pelo Ministério Público, que afirmou que foram constatadas concentrações de etilbenzeno, tolueno e xileno em concentrações acima do aceitável para a saúde humana na água subterrânea e em menor volume no solo do local, a empresa diz: “existe sim uma pequena área, pré-existente, em processo final de remediação, tratamento este sendo acompanhado pelo órgão competente, mas em local diferente de onde está sendo feita a instalação da área de convivência (inserida na área verde) e construção da estação de Transbordo Anhanguera, não impactando no empreendimento”.

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Sobre as afirmações dos moradores de que não houve diálogo por parte da empresa, a Loga afirmou em nota que “manteve-se à disposição da população local desde os primeiros ritos de licenciamento, realizando abertura para diálogo, publicações em veículos de comunicação, convites para conhecer a Estação de Transbordo da Ponte Pequena, comunicações visuais no entorno do terreno, disponibilização de um número de WhatsApp exclusivo para dúvidas sobre a obra”.

Publicado em VEJA São Paulo de 22 de setembro de 2021, edição nº 2756

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