Gal Costa: “As pessoas aqui são como velhas conhecidas”
Cantora, que mora na cidade há três anos e estreia show no próximo dia 21, fala sobre sua relação com a cidade
Mesmo com o rosto limpo de maquiagem e sem o aplique cacheado que aumenta o volume da cabeleira escura, a diva não passa despercebida pelas ruas. “As pessoas acenam de longe e com respeito, é como se fossem velhas conhecidas”, conta Gal Costa, que mora por aqui há quase três anos.
Na época da mudança, as chances de a estrela se adaptar bem à metrópole pareciam tão boas quanto as de um dia alguém encontrar o empresário João Doria Júnior de chinelo, sunga e sem gel na cabeça, tomando uma água de coco em frente ao mar de Itapuã. Até Maria da Graça Costa Penna Burgos (nome de batismo da artista) se mostra um pouco surpresa, às vezes, por curtir tanto hoje o barato total de Sampa.
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Ela mora nos Jardins, passeia pelos corredores dos shoppings Iguatemi e Higienópolis, vai a padarias naturebas, frequenta restaurantes badalados como o Spot e participa do grupo de WhatsApp de mães do Dante Alighieri, o colégio onde seu filho, Gabriel, de 10 anos, cursa o 5º ano do ensino fundamental. Em suma, virou uma legítima baiana paulistana. “Eu estava vivendo em Salvador, mas São Paulo tem uma coisa séria com que me identifico”, conta. “As pessoas trabalham e são pontuais, gosto disso.”
No próximo dia 21, Gal estreia no Tom Brasil, na Chácara Santo Antonio, o show de seu mais novo álbum, Estratosférica. Metade dos ingressos da casa, com capacidade para 1 800 pessoas, está esgotada (os bilhetes custam entre 120 e 250 reais). O repertório é baseado no 31º disco da sua trajetória, que reúne canções de nomes da nova geração e de medalhões. “Eu ia à casa dela e ficávamos ouvindo e selecionando as favoritas”, conta o jornalista Marcus Preto, diretor artístico do álbum.
Dali saíram a ingênua e gostosa música de trabalho Quando Você Olha pra Ela, de Mallu Magalhães, a libidinosa Por Baixo, de Tom Zé, e a parceria inédita de Milton Nascimento com Criolo, Dez Anjos. No show, a cantora surge fatal com o tal aplique volumoso (segundo ela, “todo mundo usa, até a Britney Spears”) e um vestido primaveril da grife italiana Gucci para recordar também os clássicos Namorinho de Portão (Tom Zé), Mal Secreto (Jards Macalé e Waly Salomão) e Como Dois e Dois (Caetano Veloso).
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As primeiras lembranças que a artista tem de São Paulo vêm da década de 60, quando ela se mudou para cá com o objetivo de se tornar cantora. Gal morou em uma quitinete na Avenida São João, no centro. Depois, dividiu um “apartamento imenso” (nas palavras dela) com o produtor musical Guilherme Araújo, na Avenida São Luís.
Foi ele, inclusive, que insistiu para que ela usasse Gal Costa como nome artístico. “Aqui foi um lugar difícil no começo, ainda mais porque eu tinha deixado a minha família na Bahia”, recorda-se a intérprete. “Eu era dura de grana, me sustentava com participações nos programas de TV. Pelo menos, comíamos pizza”, diz, aos risos. A estada na cidade teve fim em 1969, quando ela se mudou para o Rio de Janeiro, onde ficou 24 anos.
Nos momentos em que não está nos palcos ou zanzando pelos seus points preferidos de São Paulo, Gal curte uma rotina caseira com o filho, Gabriel, que chegou à sua vida em 2007. Sem conseguir engravidar, por um problema de obstrução nas trompas, ela deu entrada no pedido de adoção no Rio. “Eu achava que filho precisava ser biológico, mas não tem nada disso”, afirma. “Possuímos uma ligação espiritual, afetiva e amorosa”, conta.
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A baiana comparece a todas as reuniões de escola de Gabriel. “Ele é bom aluno, diz que quer ser jogador de basquete, mas vai ser músico”, sonha. “Adora os bastidores, além de ser afinadíssimo e de ter noção rítmica.” As mães dos colegas do menino no Colégio Dante Alighieri viraram presença assídua nos espetáculos de Gal.
Fora as travessuras e conquistas de Gabriel, ela se fecha sobre outros aspectos de sua vida pessoal. “Estou solteira no momento”, limita-se a dizer. “Ando mais focada na família e na carreira.” Aos 70 anos, a cantora julga o rock Sem Medo nem Esperança a faixa do novo álbum que melhor a representa atualmente. “Quem disse que tenho 70? Eu me sinto jovem. Assim como Caetano, acho que não envelheci. Deveríamos viver uns 350 anos. Ainda há muito que fazer”, explica.