Próximo a centros de treinamento, Perdizes é reduto de jogadores
Craques de Palmeiras e São Paulo, como Valdívia e Dagoberto, estão entre moradores do bairro
Quem circula por Perdizes provavelmente já esbarrou com jogadores de futebol caminhando pelas ruas ou instalados nas mesas dos restaurantes. A impressão de que é um reduto de boleiros se confirma nos números apresentados pelos próprios clubes: nada menos que dezoito dos trinta atletas do elenco do Palmeiras e treze entre os 24 do São Paulo moram por ali. O Corinthians afirma que também tem um profissional vivendo no bairro, mas, por questão de segurança, não revela qual. O que leva tantos boleiros a se concentrar nesses específicos 6,3 quilômetros quadrados? O principal motivo é a localização dos centros de treinamento (CTs) do alviverde e do tricolor, que dividem muros na Avenida Marquês de São Vicente, na vizinha Barra Funda. A proximidade com os estádios do Palestra Itália, na Rua Turiaçu, e do Pacaembu, na Praça Charles Miller, só colabora para esse fluxo.
Para auxiliar na mudança de seus novos contratados, geralmente vindos de outras cidades, o Palmeiras aluga flats, que funcionam como uma espécie de auxílio-moradia na chegada ao clube. Instalados bem próximos ao CT, os apartamentos são pequenos (35 metros quadrados). Atualmente, apenas três estão ocupados. Assim que os atletas trazem a família, o espaço se torna muito pequeno, forçando a procura por um lugar maior. O São Paulo não costuma disponibilizar moradia para seus novos contratados, somente indica imobiliárias. Mas é comum que, ao deixarem o Morumbi, eles aluguem seus imóveis. É o caso do zagueiro uruguaio Diego Lugano, que comprou um apartamento e, hoje no Fenerbahçe, da Turquia, o colocou à disposição de colegas.
A logística de Perdizes, com muitas opções de supermercados, farmácias, shoppings, bares e restaurantes, é outro atrativo. Foi o que levou o zagueiro Maurício Ramos a adotar o bairro logo que chegou ao Palmeiras. “Tenho bastante segurança e uma vida tranquila, posso levar minhas filhas para dar uma volta de bicicleta sem o menor problema”, conta. Como os demais moradores acabam se acostumando com a circulação constante de ídolos, o assédio é menor que em outras áreas. “Aqui as torcidas estão divididas: tem são-paulinos, palmeirenses e corintianos, por causa do Pacaembu”, explica o zagueiro Miranda, do São Paulo. “Raramente alguém vem pedir autógrafo. O máximo que aparece é uma criança querendo tirar foto. A maioria das pessoas passa e só cumprimenta”, completa. Ainda assim, como forma de aumentar a proteção, nenhum revela a rua em que mora.
Outro tricolor, o meia Marlos escolheu a região após consultar amigos e companheiros de equipe. “Vim conferir e gostei: em uma semana já conhecia todas as ruas, pois são bem sinalizadas e com nomes fáceis de decorar”, afirma. Maurício Ramos também destaca o fácil acesso. Sua família é de Piracicaba (SP) e, já na primeira visita, os parentes encontraram seu prédio com facilidade. “Só expliquei que deveriam entrar na Barra Funda, pegar a Avenida Pompeia e chegar até a minha rua”, lembra. “As placas são muito bem colocadas, não tem como errar.” Para finalizar, as opções gastronômicas são um fator decisivo para os jogadores, que buscam lugares badalados e com boa comida. “Quando não estou no shopping, vou para a Casa do Espeto, pois gosto do clima e das carnes na brasa”, diz Miranda. No restaurante da Rua Cotoxó, sempre senta em frente à churrasqueira e pede camarão e picanha. “Come bastante. Tem realmente um apetite de atleta”, comenta o gerente Marcus Vinicius Gama. Maurício Ramos costuma frequentar o Santa Fé, na Avenida Pompeia, onde saboreia o cupim na telha. Todos eles se sentem em casa.