Em um ano, número de furtos de aparelhos celulares cresce 40% na cidade
Ladrões atuam mesmo após a adoção de medidas de repressão ao mercado negro de telefones
No último 13 de agosto, a estudante Isadora Stelmach saiu de uma festa na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e parou na Rua Riachuelo, no centro, para aguardar a chegada de um carro do Uber. Não deu sequer para digitar a senha no celular e descobrir quanto tempo o motorista demoraria a aparecer. Assim que sacou o telefone da bolsa, um ciclista arrancou-lhe das mãos o iPhone 6, comprado quatro meses antes por mais de 3 000 reais. “Não consegui nem gritar, de tão rápido que ele passou”, relembra.
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Agora, ela espera ser ressarcida pelo seguro para comprar um modelo igual ao surrupiado. Enquanto isso não ocorre, vai quebrando o galho com um Nokia antigo. Em junho, a vendedora Gabriela Berezin passou pela mesma situação não muito longe dali. Ela caminhava na Avenida São João quando um larápio sobre duas rodas tomou o aparelho, passou o objeto a um comparsa que vinha atrás e desapareceu. “Tentei correr, mas não alcancei nenhum dos dois”, diz ela, outra ex-proprietária de um iPhone 6.
As duas fazem parte da lista de vítimas de um dos crimes que mais crescem na capital: o furto de celulares. Somente nos seis primeiros meses deste ano, quase 12 500 paulistanos foram alvo dos ladrões, cerca de 40% mais que no mesmo período de 2015. Os dados, obtidos com exclusividade por VEJA SÃO PAULO, mostram que três aparelhos são roubados por hora nas ruas da cidade. Os locais mais apreciados pelos bandidos são aqueles com grande aglomeração de pedestres.
Na Avenida Paulista, a campeã disparada, 1 229 casos se acumularam entre janeiro e junho. Trata-se de um a cada quatro horas em um trecho de pouco mais de 2 quilômetros. Por ali, o dia mais perigoso é o domingo, quando a via fica fechada para veículos: ele concentra 25% dos episódios da semana. O último 29 de maio lidera essa triste estatística, com 112 ocorrências registradas em um intervalo de meras 24 horas.
O centro é outra região naturalmente visada. Um total de 717 casos foi registrado no primeiro semestre do ano entre as avenidas São João, Rio Branco e Ipiranga e as praças da Sé e da República. O ranking ainda inclui pontos próximos a estádios de futebol, como a Praça Roberto Gomes Pedrosa, vizinha ao Morumbi.
Os índices cresceram mesmo depois que o governo do estado anunciou medidas para dificultar a revenda dos celulares. Desde 2015, a Polícia Civil passou a pedir o bloqueio dos aparelhos furtados diretamente às operadoras, por meio de um número próprio de cada equipamento, o International Mobile Equipment Identity (Imei). Delegados também possuem acesso a um aplicativo que informa se determinado telefone apreendido é resultado de roubo.
Essas ações não parecem ter desestimulado o volume de negócios no mercado negro. Após o crime, boa parte dos celulares costuma ser oferecida abertamente nas chamadas “feiras do rolo”, amontoados desorganizados de vendedores que disponibilizam variados objetos a preços bem menores aos praticados no mercado. Na Praça da Sé, por exemplo, um Sony Xperia, avaliado em mais de 1 000 reais, pode ser adquirido por um terço desse valor. “Trouxe de casa, era meu mesmo. Dou desconto, quer levar?”, disparou um rapaz que negociava o artigo sem nota fiscal, na última terça, dia 13.
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Outros pontos do centro também abrigam esse tipo de comércio irregular à luz do dia. “Já contei mais de 100 pessoas atuando no Largo do Paissandu”, reclama o presidente do Conselho Comunitário de Segurança do Centro, Antonio de Souza Neto, que enviou inúmeras reclamações à polícia. “Trata-se de um crime difícil de reprimir, pois é tudo muito rápido”, afirma o tenente coronel Francisco Alves Cangerana, responsável pelo patrulhamento de parte da região central. “O bandido tira o aparelho da vítima, repassa a um comparsa e a venda ocorre em seguida”, completa.
A Secretaria da Segurança Pública informou que prendeu 353 pessoas no centro por esse motivo no primeiro semestre de 2016,112% a mais que no mesmo período de 2015. Como demonstram as estatísticas de roubos e furtos de celular, no entanto, ainda há muito trabalho por fazer.