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Fênix

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18

Vivo criando metas para mim mesmo. Foi assim quando resolvi me dedicar ao projeto de ser escritor. Até então eu era jornalista, tinha um ótimo emprego e grandes chances na carreira. Mas meu sonho era escrever romances, teatro, novelas! O projeto era adiado continuamente, à espera de uma situação ideal. Sou de família humilde. Cresci com medo de ficar sem dinheiro. De ter de economizar no litro de leite, como ocorreu na minha adolescência! Queria armazenar uma poupança para me garantir. Comprar um apartamento. Tudo antes de me dedicar a meu sonho! O tempo passava. Nunca juntava a quantia ideal. Meu pai aconselhava:

– Tome cuidado. Tenha um emprego fixo.

Certa noite, eu trabalhava até mais tarde. A redação estava uma loucura, com mudanças de última hora. De repente, eu parei. Olhei para todo mundo no vaivém. E disse a mim mesmo:

– Se eu dedicasse todo esse esforço a meu projeto pessoal, ia acabar dando certo!

Terminei o trabalho de madrugada. Fui dormir. No dia seguinte fingi que estava doente. Fiquei em casa pensando. No outro pedi demissão. Tive vários empregos depois, porque a necessidade bateu à porta inúmeras vezes. Mas meu projeto de ser escritor tornou-se o principal. Deixava de ir a festas. No fim de semana, me trancava escrevendo. Confesso: ao reler muitos daqueles primeiros textos, me envergonho. Eram muito ruins! Ainda bem que não procurei ninguém para avaliar meu talento! Teria desistido! Tanto que, atualmente, se me perguntam o que é preciso para ser escritor, respondo:

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– Teimosia! De todos os meus amigos que pretendiam escrever, nunca fui o melhor. Só o mais teimoso!

Ainda encontro antigos amigos falando de seus projetos, sempre adiados!

Tenho orgulho de viver como escritor. Não acho melhor ou pior do que médico, advogado, jornalista, comerciante, corretor de imóveis, agricultor ou feirante. É melhor para mim, por ser o que eu mais desejava!

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Em outros projetos não tive tanta persistência, como perder a barriga. Entra ano, sai ano, e prometo fazer exercícios. Não chafurdar em bolos de chocolate. Ultimamente até perdi alguns quilos, aterrorizado pelo veredicto de um médico:

– Seu tipo de barriga é o pior. Leva a uma série de problemas: hipertensão, diabetes… Tem de sumir com ela!

Ah, que luta árdua!

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Agora, na passagem do ano, a gente se enche de boas intenções. Promete isso, promete aquilo. Toma resoluções que depois serão guardadas numa caixinha, até o próximo réveillon. Talvez fosse melhor se concentrar em poucos objetivos. E tentar cumpri-los ao máximo! Outro dia, ouvi a seguinte frase em um filme: “Quem não luta por suas metas vive à base de acidentes”. Achei o máximo. A vida acaba se resolvendo em função de golpes de mais ou menos sorte, de acontecimentos fortuitos. E a pessoa reclama:

– Nada dá certo!

Lembro da lenda de Fênix, o pássaro que queima, mas ressurge das próprias cinzas. Muitas vezes eu tive de abandonar coisas de que gostava para seguir meu caminho. E continuo assim. Sempre surgem novos projetos, novas histórias pessoais. Todos nós temos algo de Fênix. É possível se consumir nas próprias cinzas para criar uma nova vida! E nem é tão terrível como a imagem possa parecer. A Fênix retorna como Fênix, com sua identidade preservada e as asas estalando de novas. É assim que eu vejo a passagem do ano: um momento simbólico em que a gente pensa em metas, projetos, em tudo o que quer mudar! Pode ser mais fácil ou difícil. Mas também é a chance de renascer e, como a Fênix, empreender longos vôos!

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