Família de ciclista escreve carta para homem que o atropelou
Segundo o texto, Gilmar Barbosa da Mota foi batizado em uma igreja evangélica três dias antes da morte. "Tem que ser preso sim, independente da situação."
A família de Gilmar Barbosa da Mota, de 45 anos, escreveu uma carta ao caminhoneiro Mario Prestes Neto, de 61 anos, que teria atropelado e arrastado o pintor por mais de dois quilômetros na quarta-feira (30), entre Osasco e São Paulo. O texto é assinado pelo vendedor José Barbosa, de 50 anos, um dos irmãos da vítima.
“Era um homem tão bom, humilde, e tinha uma simplicidade de berço, era um cara engraçado e amava sua família. Um cara trabalhador, saía cedo e voltava só à tarde, cansado, mas não via a hora de chegar em casa pra ver sua família. Tinha dois filhos lindos, uma esposa maravilhosa e cuidadosa com seus meninos”, resume o texto.
“No dia 4 de agosto de 2017, ele se casou. Na verdade, juntos eles (Gilmar e a mulher) tinham mais de 12 anos. Foi uma festa tão linda: estavam todos os familiares e amigos reunidos, comemorando a união daquele casal. Não tinha uma pessoa que não falasse que a festa estava perfeita e todos notavam uma felicidade no casal sem explicação. Ele mesmo me disse que a aquele casamento ficaria pra história”, continua.
Segundo a carta, Gilmar foi batizado em uma igreja evangélica três dias antes do atropelamento. “A felicidade maior dele foi ter entregado sua vida a Deus”, diz o texto. “Nunca tinha ido trabalhar de bicicleta. A ida foi tranquilo, mas na volta foi fatal.”
Direcionado ao caminhoneiro, o texto afirma que o motorista “sabia que estava errado”. “Será que ele tem noção do tamanho da crueldade que fez? Tem noção do tamanho da dor do filho dele (de Gilmar)? Imagina a dor da esposa dele (de Gilmar), que, além de estar sozinha, ainda terá que criar duas crianças, ser o pai e a mãe delas?”
O texto pede a Neto que se coloque no lugar da família de Gilmar. “Nada e ninguém trará ele de volta. Mas a minha família pede justiça”, pontua. “O sujeito tem que ser preso sim, independente da situação que ele se encontra, afinal é um crime. (…) Que justiça é essa, Brasil?”
Resposta
Procurada pela reportagem, a defesa de Mario Prestes Neto, de 61 anos, se manifestou por meio de nota escrita pelo advogado Cícero dos Santos. “Saber que uma vida se perdeu naquele acidente nos poucos segundos de azar lhe tirou a paz pelo resto da vida não cala a pergunta: por que estava passando ali no exato momento em que o rapaz entrou na sua frente empurrando sua bicicleta?”, questionou a defesa.
“(O caminhoneiro) entrou em estado de pânico, durante três dias andou pela estrada sem destino, dormiu na rua em lugares incertos, pegou caronas e só no sábado, ao entardecer, entrou em contato com a filha afirmando que iria cometer suicídio, assim, sob prantos de ambos, aceitou que a mesma fosse ao seu encontro a fim de trazê-lo para se apresentar à polícia, rodando aproximadamente 1,2 mil quilômetros”, afirmou.
O advogado ainda acrescentou que seu cliente já está “condenado a conviver com isso pelo resto da vida. Vida que, por muito pouco, ainda existe, vida sem alegria, sem prazer, sem apetite, sem descanso, pois não consegue mais se alimentar direito, quando dorme acorda frequentemente em frações de minutos, sempre assustado com a cena do rapaz sem vida sobre o capô do seu carro.”
Segundo ele, o caminhoneiro está “ciente que, sobre seu carro, fatalmente faleceu um homem de bem e amado pelos seus, sim, se colocando no lugar da família dele, pois também é pai e avô, sensível ao extremo sim, perdeu a paz e a alegria de viver para sempre, esta pena ele já está cumprindo desde o exato momento daquela colisão fatal, ali foi condenado pelo resto da sua vida ‘zumbi’.”