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Arquitetos fazem projetos arrojados e funcionais para escolas

Novos colégios apresentam desenhos que pretendem dar aula de sustentabilidade, tecnologia e história

Por Helena Galante Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Mariana Rosario Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 mar 2018, 20h02 - Publicado em 9 mar 2018, 06h00

No intervalo do café dos professores, não é raro ouvir uma queixa sobre o panorama da educação em forma de anedota: “Temos salas de aula do século XIX, mestres do século XX e alunos do século XXI”. Pelo menos no primeiro quesito, São Paulo fez significativos avanços com a inauguração de colégios que investiram pesado no desenvolvimento de projetos arquitetônicos arrojados.

“Para aprender, é necessário que o estudante goste de ir à escola, e isso tem a ver também com o ambiente, que fica muito mais interessante quando vai além de um prédio fechado com pátio lá fora”, afirma Michel Lam, diretor da Red House — Escola Internacional de São Paulo, que abre as portas em abril e está sediada num imóvel tombado de 1909 em Higienópolis. O local foi reformulado para receber ambientes contemporâneos como um laboratório de programação.

“As crianças sempre precisam ter seu interesse despertado, mas os colégios por muito tempo foram conteudistas”, afirma Priscila Torres, diretora da Escola Concept. Para o especialista Valter Caldana, professor de arquitetura e urbanismo do Mackenzie, os estabelecimentos de ensino evoluíram muito em matéria de ambientes complementares, que visam à convivência dos alunos e atendem às demandas de conectividade. Mas ainda falta integração externa. “O grande espaço de aprendizado do aluno é a cidade, e a escola ainda precisa fazer essa conexão com o que acontece em seu entorno”, diz Caldana.

Confira a seguir como cinco colégios particulares da capital e um público, do interior, moldaram o espaço físico para ser um dos protagonistas no processo de ensino e aprendizagem.

Ensino ao ar livre

 

Fundado há quase 96 anos, o Colégio Renascença, de orientação judaica, transferiu-se em janeiro de Higienópolis para a Barra Funda, onde ficava o Playcenter. Erguido ao custo de 108 milhões de reais, o projeto foi assinado pelo arquiteto Jonas Birger e atende aos princípios da sustentabilidade, com sistema de água de reúso e painéis solares. “A arquitetura ecológica vem de uma boa implantação, com orientação solar correta”, explica Birger.

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A organização dos ciclos, desde as turmas de 18 meses de idade até o ensino médio, é feita em blocos de salas, sinalizados por cores. Antes de desenhar os ambientes, a artista visual e educadora Stela Barbieri se reuniu com os alunos para entender a dinâmica das turmas e ouvir sugestões. Criou então salas mistas, que podem ser usadas como ateliê de costura ou robótica, e mobiliário de pegada modular, com quadrados de madeira que viram arquibancadas ou mesas.

“Os professores estão aproveitando os espaços fora da sala de aula, como as hortas e a cozinha experimental, para ensinar”, afirma Stela. Há ainda brinquedões de madeira na área externa, de onde é possível ver as fachadas de telas coloridas, que permitem a entrada de luz natural.

Rua Inhaúma, 315, Várzea da Barra Funda, ☎ 3824-0788. Mensalidade a partir de 1 798 reais.

Salas de aula integradas com o parquinho 

Quando abriu as portas, em 2010, no Alto de Pinheiros, a bilíngue Beacon School tinha dezesseis alunos. Ao custo de 35 milhões de reais, um novo câmpus foi inaugurado neste ano, na Vila Leopoldina, num ex-parque industrial. “Tínhamos esse patrimônio, e a escola tomou uma decisão pedagógica: iríamos manter a história viva”, lembra Vinicius Andrade, do escritório Andrade Morettin, responsável pelo projeto, que atende hoje 780 crianças.

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A sustentabilidade passa pelo uso de ventilação cruzada e pelo bom aproveitamento da luz natural. No térreo, as salas de aula têm paredes de vidro, que se abrem completamente e dão acesso ao parquinho. “A nossa proposta pedagógica visa a desenvolver a autonomia dos alunos”, afirma a sócia
diretora pedagógica Vera Nicol Giusti.

No almoço, as crianças montam o próprio prato e podem escolher fazer a refeição em espaços alternativos, como a praça dos jatobás. Instalações como as tubulações de fios e água estão aparentes, identificadas por cores diferentes. “Fizemos uma edificação didática”, completa Andrade.

Rua Mergenthaler, 1100, Vila Leopoldina, ☎ 3643-6900. Mensalidade a partir de 4 101 reais.

Pista de skate e paredes retráteis 

Integração entre as disciplinas e fluência digital são alguns dos pilares da nova escola bilíngue Concept, parte do grupo SEB. O projeto de reformulação do prédio do antigo Colégio Sacré-Coeur ficou a cargo do escritório Triptyque Architecture, com investimento total de 75 milhões de reais. “Um dos nossos focos era a flexibilidade, por isso queríamos paredes retráteis em diversos espaços de aprendizagem, para que eles conversassem entre si”, diz a diretora da escola, Priscila Torres.

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Cerca de quinze painéis digitais são usados para a exibição de trabalhos feitos pelos próprios alunos, por exemplo. No espaço maker, as crianças a partir de 1 ano aprendem noções de design thinking usando desde ferramentas simples até maquinários sofisticados para criar protótipos. A área verde com rampas de skate e uma brinquedoteca com tecido de circo, plataformas acolchoadas, rampa de diferentes tamanhos e parede sensorial são os locais favoritos dos estudantes.

Avenida Nove de Julho, 5520, Jardim Paulista, ☎ 2138-5521. Mensalidade a partir de 6 000 reais.

Pegada high-tech

Red House: investimento em tecnologia (Divulgação/Veja SP)

Com inauguração prevista para abril, a Red House — Escola Internacional de São Paulo investiu até agora 15 milhões de reais para converter um ambiente antigo (um imóvel tombado de 1909) num colégio high-tech, com laboratório com impressora 3D e aulas de programação. “A relação entre professor e aluno é o que prevalece. As novas tecnologias surgem como uma ferramenta, para aprimoramento”, afirma o diretor-geral Michel Lam.

“Ter contato com esse prédio histórico traz um aprendizado maior que estudar somente nos livros”, diz a arquiteta Adriana Bosco de Godoy, uma das responsáveis pelo projeto, que preservou as janelas originais para a entrada de luz natural. Para trabalharem a mobilidade corporal, os alunos
a partir de 4 anos podem brincar no gira-gira acessível e no slackline.

Um auditório reformado, de 1945, abrirá para o público externo com programação de teatro infantil. Com exceção de disciplinas como português e história do Brasil, por exemplo, as aulas são ministradas em inglês e podem rolar até nos corredores.

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Rua Albuquerque Lins, 773, Higienópolis, ☎ 2309-7999. Mensalidade a partir de 4 000 reais.

Nova York na Marginal 

Avenues: investimento de 150 milhões de reais (Divulgação/Veja SP)

Desde 2012 em Manhattan, a Avenues abre uma unidade em São Paulo em agosto. Do investimento de 150 milhões de reais à mensalidade prevista, a dimensão do projeto, com assinatura da Aflalo/Gasperini, impressiona. “Fizemos a melhor coisa em termos de sustentabilidade: transformamos um prédio antigo num novo marco na paisagem”, afirma o cofundador da escola Alan Greenberg.

Estão previstos painéis que conectam os estudantes, a partir dos 3 anos, com os americanos e quadras e jardins nos múltiplos rooftops. “A cada série, as salas ganham pé-direito mais alto, para acompanhar o crescimento dos alunos”, diz o arquiteto José Luiz Lemos da Silva Neto.

Rua Pedro Avancine, 73, Cidade Jardim, ☎ 2838-1800. Mensalidade a partir de 8 350 reais.

Escola pública modelo

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Distante 110 quilômetros da capital, a pequena cidade de Joanópolis finalizou em fevereiro a ampliação da Escola Estadual Coronel João Ernesto Figueiredo. Tombado pelo Condephaat, o prédio de mais de 100 anos entrou em obras em 2014. O projeto, orçado em 4 milhões de reais, foi realizado pelo escritório paulistano H+F. A principal mudança ocorreu nas áreas comuns. “Eliminamos os cantinhos e labirintos”, conta o arquiteto Eduardo Ferroni.

A ideia reforça a importância dos espaços compartilhados, onde os alunos do ensino médio podem parar para conversar e se reunir. Em grande parte dos corredores, por exemplo, há bancos e áreas para descanso. “É uma forma de dar atenção especial a locais onde há a possibilidade de encontros”, explica Ferroni.

A nova fachada, de chapas de metal perfuradas, permite que os frequentadores mantenham contato com o ambiente externo. A biblioteca, por sua vez, ganhou um mezanino, em frente. “Quando vi o resultado, eu me emocionei”, diz o diretor Antônio Carlos Prado Pinheiro, há sessenta anos na instituição. “Acreditamos que essa reforma vai influenciar no rendimento dos alunos, que estão felizes com a mudança”, afirma.

Avenida Waldomiro Villaça, 126, centro, Joanópolis, ☎ 4539-7014.

ITENS EM ALTA

Áreas de convivência: os corredores amplos ganham lounges para o encontro de diferentes turmas e os setores ao ar livre são usados para atividades físicas como skate e slackline.

Conectividade: a antiga proibição de celulares e tablets dá lugar ao ensino sobre a melhor forma de aproveitar a tecnologia, usando instalações com wi-fi.

Laboratórios: os espaços educacionais são adaptados para trocar o modelo da aula magistral por pedagogias interativas, que exploram recursos como impressoras 3D.

Retrofit: transformar edificações antigas em colégios modernos é uma necessidade da cidade e ainda mostra a importância de respeitar o patrimônio.

Sustentabilidade: além de reutilizar a água e usar energia solar, é preciso transformar essas práticas em tema de aulas.

Transparência: o conceito pedagógico se reflete no uso privilegiado de materiais como o vidro e as telas vazadas, que permitem observar o ambiente externo de dentro das salas.

 

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