Presa, Elize Matsunaga luta para recuperar a guarda da filha de 5 anos
Ela está prestes a enfrentar o julgamento pelo assassinato do marido, que ocorreu em maio de 2012
Pouco mais de quatro anos depois de ser denunciada por matar e esquartejar o marido, o empresário Marcos Matsunaga, então presidente da companhia alimentícia Yoki, Elize Araújo Kitano Matsunaga sentará no banco dos réus do Fórum Criminal da Barra Funda, a partir desta segunda, 28, para encarar seu julgamento pelo crime.
Presa desde junho de 2012 na Penitenciária Feminina de Tremembé, no interior, Elize tem chance de ser solta se a maioria do júri, composto de sete pessoas, condená-la por homicídio simples, cuja pena mínima é de seis anos (ela cumpriu quatro e abateu dois com dias trabalhados na reclusão). Mas também pode ser sentenciada a até trinta anos de cadeia se todos os agravantes apresentados pelo Ministério Público forem aceitos no tribunal, como motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima. Ela responde ainda por ocultação de cadáver. Esse julgamento deve durar até cinco dias.
+ Haddad vai deixar R$ 6 bi no caixa para gestão Doria
O caso envolve outra batalha jurídica acirrada: o futuro da filha de Elize e Marcos, hoje com 5 anos. A criança vem sendo criada pelos avós paternos, Mitsuo e Misako Matsunaga, em uma casa de alto padrão no Alto de Pinheiros, sob o mais absoluto controle para esconder sua identidade. Na escola infantil, no mesmo bairro, a única pessoa com acesso ao nome completo da estudante é a diretora.
A restrição ocorre até dentro de casa. A garota não tem babá e só é atendida por um motorista e uma psicóloga. Mitsuo e Misako movem desde 2012 uma ação para obter a guarda definitiva da neta. Além disso, querem “destituir o poder familiar da mãe” e, assim, apagar os sobrenomes maternos da certidão de nascimento.
Nos autos, eles justificam a mudança como uma medida para proteger a criança de possíveis atos de bullying no futuro. “A maior vítima dessa tragédia é a filha do casal, pois ela corre o risco de carregar essas marcas por toda a vida”, afirma o advogado dos avós, Luiz Flávio D’Urso. Entre os membros da família, há ainda a suspeita de que a mãe deseja a guarda apenas para garantir um quinhão indireto da herança do ex-marido.
A defesa da detenta, no entanto, enxerga a tentativa de extinção do nome como uma estratégia dos avós para afastar a criança do Brasil, levando-a para morar no Japão. “As ações são todas destinadas a apagar de vez a mãe da vida da filha”, diz Luciano Santoro, advogado de Elize. Segundo pessoas ligadas à família, os avós e a neta já passariam a próxima semana no Japão, de modo a escapar do assédio durante a semana de julgamento.
A ação em curso na 5ª Vara Cível de Família da capital ficará parada até o fim do julgamento criminal. Os dois processos são independentes, ou seja: Elize, mesmo se for condenada a décadas, pode obter uma vitória na questão da guarda. De acordo com os advogados, o maior temor de sua cliente não é a possibilidade de ficar na cadeia, mas o risco de não ver mais a filha. Em setembro, ela desabou em lágrimas durante uma audiência de custódia no Fórum de Tremembé ao ser questionada pelo juiz se ainda deseja a guarda. Pessoas com acesso ao presídio contam que a detenta mantém fotos da criança em seus livros de oração, na cela.
+ Incêndio atinge shopping no Brás
Marcos a conheceu como cliente (Elize trabalhava como garota de programa). Os dois foram morar juntos em 2007 e, dois anos depois, subiram ao altar. Elize engravidou em julho de 2010. Na mesma época, ela havia descoberto uma traição do marido e queria pedir o divórcio. O nascimento da filha os reaproximou, e eles se encontravam diariamente para dar banho no bebê e brincar de Lego. A paz durou um ano.
Elize confessou o assassinato com um disparo de pistola na cabeça (o casal colecionava armas e fazia aulas de tiro) e o esquartejamento. Seus defensores tentarão reduzir a pena alegando que a cliente agiu sob “forte emoção”. “Quando confrontou Marcos com a infidelidade, ela levou um tapa no rosto e reagiu à agressão atirando”, afirma Luciano Santoro.
Cronologia do crime
O corpo foi encontrado duas semanas após a morte
17 de maio de 2012
Durante visita à mãe, no Paraná, Elize recebe de um detetive particular a confirmação de que o marido a traía
19 de maio de 2012
Por volta de 20h, ela mata Matsunaga com um tiro na cabeça no apartamento do casal, na Vila Leopoldina, e esquarteja o corpo
20 de maio de 2012
À 1h30, sai de casa com três malas grandes e espalha os pedaços do corpo na região de Cotia
4 de junho de 2012
As partes do cadáver são encontradas e reconhecidas como sendo de Matsunaga e a prisão de Elize é decretada
5 de junho de 2012
Em interrogatório, Elize confessa o crime, diz que agiu sozinha e detalha que esquartejou o marido no banheiro