Jovens, populares e apadrinhados: o que os deputados eleitos têm em comum
Os deputados Paulo Alexandre Barbosa, Bruna Furlan e Bruno Covas têm pouca idade, sucesso nas urnas e sobrenome conhecido
Eles exibem tez viçosa e a cabeleira ainda está isenta de fios brancos. Mas têm um desempenho político digno de veteranos. No último domingo (3), Bruno Covas, de 30 anos, e Paulo Alexandre Barbosa, um ano mais velho, lideraram o ranking de deputados estaduais que conquistaram o maior número de eleitores paulistas. O primeiro recebeu 239 150 votos e o segundo, 215 061.
A deputada federal eleita Bruna Furlan é outra que está na seleta lista de jovens bem-sucedidos. Aos 27 anos, a moça franzina com jeito de bonequinha e vozeirão de bispa evangélica — ela faz parte da Congregação Cristã no Brasil — recebeu 270 661 votos. Só ficou atrás do palhaço Tiririca (1 353 820 votos) e do atual vereador Gabriel Chalita (560 022 votos). Em comum, eles têm também a formação — todos são bacharéis em direito — e a filiação ao PSDB. “Os três desfrutam uma das qualidades mais importantes para se dar bem em eleições proporcionais: a notoriedade de seus parentes”, diz o cientista político e marqueteiro Antonio Lavareda.
A mais mocinha do trio, Bruna, é filha de Rubens Furlan, prefeito pela quarta vez de Barueri, na Grande São Paulo. Em março deste ano, ele conseguiu na Justiça atrasar em uma semana a ida ao ar de um dos quadros do programa CQC, da Rede Bandeirantes. Na ocasião, os repórteres Danilo Gentili e Rafael Bastos flagraram o desvio de um aparelho de televisão doado por eles à prefeitura. O político xingou os apresentadores em frente às câmeras. “Foi um momento de destempero”, afirma o prefeito Furlan.
“Felizmente, minha filha é bem mais controlada do que eu.” Formada pela Universidade Paulista “há uns quatro ou cinco anos”, Bruna diz que ainda não prestou o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas pretende fazer a prova. É a única dos quatro irmãos que segue os passos do pai. Os dois estão, no entanto, em partidos diferentes. Ele é do PMDB. “Foi o Serra quem conversou com meu pai para que eu ingressasse no partido, e achamos que seria bom”, conta. Seu primeiro cargo político será também seu primeiro emprego fixo — só trabalhou uma vez, nas vésperas de Natal, em uma loja de roupas, como faziam as amigas. Atualmente, vive com a família em Alphaville. “Acho que estou preparada para controlar o salário alto que receberei a partir do ano que vem”, afirma, referindo-se aos 16 500 reais mensais a que terá direito.
Bruno Covas já deu alguns passos além da colega de partido. É deputado estadual desde 2006. Ainda menino, disse ao avô materno, Mario Covas, que queria seguir carreira política. “Então estude”, respondeu o governador. O garoto seguiu a orientação. Nascido na Baixada Santista, veio para São Paulo aos 15 anos para, assim como Covas, entrar no Colégio Bandeirantes. Na época, morou com os avós no Palácio dos Bandeirantes. Formou-se em direito pela USP e em economia pela PUC. Atualmente, cursa mestrado em administração pública na Fundação Getulio Vargas.
Antes de enveredar pela carreira política, trabalhou como estagiário em diversos escritórios de advocacia. O nome do avô é evocado com frequência por ele e por quem está à sua volta. “Mario Covas é uma marca muito forte”, diz a economista Karen Ichiba de Oliveira, mulher de Bruno. Entre os projetos do atual mandato está uma lei que regulamenta a criação, reprodução e venda de cães e gatos no estado. Outra obriga os médicos a “datilografar” as receitas.
Além da trajetória do pai, Paulo Gomes Barbosa, ex-prefeito e ex-vereador de Santos, Paulo Alexandre Barbosa desfruta o vínculo com outro recordista das urnas. “Minha primeira oportunidade na política foi um convite de Gabriel Chalita, em 2001”, lembra. Na época, Barbosa era recém-formado em direito pela Universidade Metropolitana de Santos, e o então secretário de Estado da Juventude, Esporte e Lazer o chamou para ser seu assessor, cargo que ocupou ao lado do político no ano seguinte, na Secretaria da Educação. Em 2006, foi eleito deputado estadual. “Acredito que a relação com Chalita tenha contado para o êxito da minha primeira candidatura, mas, desta vez, a eleição é reflexo do trabalho que venho exercendo”, diz, em tom de veterano.
PAULO ALEXANDRE BARBOSA – 215 061 votos
Idade: 31 anos
Patrimônio declarado: 888 000 reais
História política: em 2001, aos 22 anos, tornou-se assessor especial do então secretário de Estado da Juventude, Esporte e Lazer, Gabriel Chalita. No ano seguinte, acompanhou Chalita na Secretaria de Estado da Educação. Foi empossado secretário adjunto da Educação em 2004. Elegeu-se deputado estadual dois anos depois
Por que conquistou tantos votos: é filho do ex-prefeito e ex-vereador de Santos Paulo Gomes Barbosa (PSDB). Entrou para a carreira política a convite de Gabriel Chalita (PSB)
BRUNA FURLAN – 270 661 votos
Idade: 27 anos
Patrimônio declarado: diz não ter bens
História política: nunca ocupou cargos públicos
Por que conquistou tantos votos: é filha de Rubens Furlan (PMDB), prefeito pela quarta vez de Barueri, na Grande São Paulo. Seu ingresso no PSDB foi articulado entre o pai e José Serra. Também recebeu apoio de políticos da região, como Celso Giglio (PSDB), de Osasco, e Orlando Morando (PSDB), do ABC
BRUNO COVAS – 239 150 votos
Idade: 30 anos
Patrimônio declarado: 218 000 reais
História política: aos 26 anos, elegeu-se deputado estadual
Por que conquistou tantos votos: é neto do ex-governador Mario Covas, cujo nome evoca com frequência, e foi bem avaliado em seu primeiro mandato
Fama instantânea
Com o pai, Orestes Quércia (PMDB), internado no Hospital Sírio-Libanês para tratar de um câncer de próstata, Andreia Quércia, 23 anos, experimentou momentos de fama. Após aparecer na televisão pedindo votos para o vitorioso candidato ao Senado Aloysio Nunes (PSDB), passou a ser reconhecida pelos funcionários do hospital. “Começaram a me olhar com curiosidade”, diz. “Achei engraçado.” Andreia, que já participava da campanha de Quércia, personalizou o apoio ao peessedebista quando o pai renunciou à candidatura ao Senado. O gosto pela política e o DNA já fazem a herdeira cogitar sair candidata em 2014.
Um parente em cada Casa
Sobrenomes tradicionais da política, Leite e Tatto manterão representação não só na Câmara Municipal, mas também na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados. O vereador Milton Leite (DEM) elegeu seus filhos Milton Leite Filho (estadual) e Alexandre Leite (federal). Já os irmãos do vereador Arselino Tatto (PT), Enio Tatto e Jilmar Tatto, foram reeleitos deputados estadual e federal.
Falso Kassab
Sem divulgar seu nome completo nem mostrar o rosto, o candidato a deputado federal Elias Boutros Kassab (PTC) tentou alavancar sua campanha se passando pelo prefeito Gilberto Kassab. O eleitorado, porém, não levou gato por lebre. Ele recebeu apenas 1 092 votos.
Azar nas urnas, sorte no amor
Apenas na quarta-feira (29), quatro dias antes da eleição, ficou pronta a versão final do plano de governo do candidato verde Fabio Feldmann. O ambientalista espera que os 5 000 exemplares encalhados no comitê sirvam ao menos de referência para futuras candidaturas. Já sua vida pessoal flui que é uma beleza. Após se separar no primeiro semestre de Bia Cardoso, filha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele engrenou namoro há algumas semanas com Bianka Telles, ex-mulher de Marcel Telles, sócio da AmBev. “Não misturo minha vida pessoal com a política”, desconversa, sem desmentir a nova relação.
Nono mandato aos 82
O deputado estadual paulista mais longevo inicia a partir de março seu nono mandato. Antonio Salim Curiati (PP), de 82 anos, foi eleito para o cargo pela primeira vez em 1966. Também do PP, tiveram desempenho pífio os tradicionais Adhemar de Barros Filho (com 6 632 votos) e Faria Lima (com 804 votos), candidatos federais.
Tostão e milhão
Paulo Skaf (PSB) e Fabio Feldmann (PV) tiveram a menor diferença nas urnas entre os concorrentes ao governo do estado, apenas 98 000 votos. Já no bolso, a disparidade entre os gastos de ambos foi de 18,6 milhões de reais. Passando a régua, cada voto de Skaf custou cerca de 20 reais e os de Feldmann, 1,50 real.
Skaf
Votos recebidos: 1 038 430
Gastos na campanha: R$ 20 milhões
Feldmann
Votos recebidos: 940 379
Gastos de campanha: R$ 1,4 milhão
Profissão: suplente
A última vez em que o petista Carlos Neder (PT) se elegeu foi em 2000, como vereador. O mandato terminou em 2004, mas, mesmo assim, ele passou os últimos seis anos se alternando entre mandatos na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa. Apesar de ter disputado as eleições de 2002, 2004, 2006, 2008 e a deste ano, Neder não obteve votos suficientes para conquistar uma cadeira. Em cada uma das disputas, porém, garantiu o lugar de suplente, espécie de vice de parlamentares do partido. Quando um dos colegas saía, ele assumia a vaga. Atualmente ocupa a de deputado estadual e já se prepara para assumir posto na Câmara em março. Sucederá ao vereador João Antonio, eleito deputado estadual. “Depois disso, chega”, promete Neder, que no último domingo (3) garantiu mais uma suplência na Assembleia.
Cartão vermelho
O ano da celebração do centenário do Corinthians não impulsionou a performance eleitoral dos ídolos do time. Marcelinho Carioca (PSB), Vampeta (PTB) e Dinei (PDT) ficaram no banco de reservas parlamentar.
O preferido dos paulistanos
Deputado estadual mais votado na capital, o petista Rui Falcão diz ter sentido frio na barriga no domingo (3) temendo não se eleger. “Nisso somos iguais: todos os candidatos têm esse medo”, afirma o escolhido por 175 000 eleitores. Coordenador de comunicação da campanha de Dilma Rousseff, Falcão acha que fez pouca campanha para si. Reeleito com folga, não conseguiu festejar. “Ainda não terminou”, afirma, entre reuniões sobre o segundo turno presidencial.
As estrelas que não ascenderam
Além do pagodeiro Netinho de Paula (PCdoB), terceiro lugar na corrida pelo Senado, com 7,8 milhões de votos, outros famosos não conseguiram converter popularidade em resultado nas urnas. O cantor Moacyr Franco (PSL), que pleiteava vaga de senador, ficou em sexto lugar. O vereador e cantor Agnaldo Timoteo (PR), o músico Juca Chaves (PR) e a cantora Simony (PP) tampouco obtiveram sucesso. Mesmo com o sertanejo Zezé Di Camargo pedindo votos na TV, Leandro e Kiko (DEM) do grupo KLB, candidatos a estadual e a federal, ficaram de fora. O apoio do senador Eduardo Suplicy (PT) em vídeo também não foi suficiente para que a modelo Suellem Silva, a Mulher Pera (PTN), fosse eleita. Compõem ainda a fila dos famosinhos sem assento parlamentar o ex-pugilista Maguila (PTN), o humorista Batoré (PP) e Luciana Ribeiro Cruz, a atriz pornô Cameron Brasil (PTN).
Direto da sessão espírita
Carioca da gema, compositora da Mangueira e flamenguista roxa, a cantora Leci Brandão (PCdoB) será também deputada estadual por São Paulo. Eleita com 86 000 votos, ela diz que decidiu lançar candidatura após uma consulta espírita, em que foi avisada de que deveria seguir em frente. Em seu mandato, pretende “carioquizar” o Carnaval paulistano, com projetos de parceria entre prefeitura e escolas de samba.
Enquanto isso, na Câmara Municipal
Confira abaixo os substitutos dos oito vereadores que se elegeram deputados
Estaduais que saem:
Carlos Bezerra Jr. (PSDB)
João Antonio (PT)
Jooji Hato (PMDB)
Federais que saem:
Gabriel Chalita (PSB)
José Olímpio (PP)
Mara Gabrili (PSDB)
Marcelo Aguiar (PSC)
Penna (PV)
Entram:
Aníbal de Freitas (PSDB)
Carlos Neder (PT)
Edir Sales (DEM)
José Rolim (PSDB)
Attila Russomanno (PP)
Tião Farias (PSDB)
David Soares (PSC)
Aurélio Nomura (PV)