Candidatos à prefeitura miram na periferia
Adversários de Fernando Haddad na corrida eleitoral concentram o discurso nos pontos que consideram mais fracos da atual gestão
Em meio à ressaca pós-Olimpíada, nem todos os paulistanos repararam que há uma campanha eleitoral em pleno curso pelas ruas da cidade. Mas a batalha do corpo a corpo já começou. Na última semana, por exemplo, houve troca de farpas entre Marta Suplicy (PMDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT), protesto de Luiza Erundina (PSOL) na porta da TV Bandeirantes, no Morumbi (ela não foi convidada ao debate de candidatos na emissora), e João Doria (PSDB) pedindo a um jornalista que lhe pagasse uma coxinha em lanchonete de Pinheiros.
Além do trânsito, um dos motes da campanha deste ano é a saúde, apontada por todos os candidatos como o aspecto mais negativo da atual gestão. “É uma área vulnerável e, com a crise, muitas pessoas, ao ficarem desempregadas, tiveram de trocar o plano pelos hospitais públicos”, diz Edison Nunes, professor de ciência política da PUC-SP.
Trata-se de um pleito com alto grau de imprevisibilidade. A corrida à prefeitura, que começou oficialmente no dia 16, é a mais curta das últimas duas décadas. Serão 45 dias, a metade do usual. Os candidatos terão um mês e meio para promover comícios, passeatas, visitar bairros e distribuir santinhos. O período de propaganda gratuita na TV será ainda mais enxuto: o início estava previsto para a sexta (26) e o término, para 29 de setembro.
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É também uma campanha com menos dinheiro que as anteriores. Pelas novas regras eleitorais, os partidos não podem mais aceitar o financiamento de empresas. Faixas, cavaletes e outdoors estão igualmente vetados. “Essas mudanças tornam o processo quase secreto e beneficiam as caras mais conhecidas”, analisa Humberto Dantas, diretor do Movimento Voto Consciente.
A teoria parece fazer sentido se for levado em conta o fato de que o deputado federal e apresentador de TV Celso Russomanno (PRB) é o atual líder disparado nas pesquisas de intenção de voto. O levantamento mais recente do Ibope, divulgado na terça (23), aponta o candidato em primeiro, com 33%, seguido de Marta, com 17%. Em terceiro, aparecem empatados Doria, Erundina e Haddad, com 9% cada um.
Não é aprimeira vez, no entanto, que Russomanno aparece como favorito. Em 2012, chegou a ficar algumas semanas no topo das pesquisas, com 35%, mas acabou nem indo ao segundo turno. Pesa sobre ele um alto índice de rejeição (24%) provocado, em boa parte, pelas situações polêmicas nas quais se envolveu nas últimas semanas. Correu o risco de não concorrer às eleições sob a acusação de usar dinheiro da Câmara para remunerar uma assessora de sua produtora de vídeo, mas acabou absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na mesma época, o luxuoso Bar do Alemão, em Brasília, do qual é sócio, recebeu ordem de despejo da Justiça por causa de uma dívida de 2 milhões de reais em aluguel, salários e manutenção.
A situação dele, no entanto, nem é das piores. Seus principais concorrentes sofrem de rejeição ainda maior junto aos paulistanos: Haddad tem 52%; Marta, 35%; e Erundina, 25%. Doria é o único com percentual relativamente baixo (12%). Em compensação, o tucano é quase um desconhecido para o eleitorado. Segundo o Ibope, 49% dos paulistanos não têm informações suficientes para decidir se votariam nele ou não.
Na semana passada, Russomanno, Marta, Doria, Haddad e Major Olímpio (SD) fizeram o primeiro debate da campanha, na TV Bandeirantes. O líder Russomanno foi poupado por seus adversários, e o confronto se concentrou entre Haddad, Marta e Doria, o trio que teoricamente disputa a ida para o segundo turno. Erundina não pôde estar presente porque, de acordo com a lei eleitoral, só deveriam participar os postulantes de partidos que tenham mais de nove deputados federais — o PSOL tem seis. A regra poderia ter sido quebrada se tivesse havido consenso entre os candidatos, mas, nesse caso, Marta, Doria e Olímpio não abriram exceção.
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Como represália, Erundina subiu em um carro de som na porta da emissora e entrou ao vivo em sua página no Facebook comentando o debate. Funcionou, pelo menos nas redes sociais: as postagens sobre ela no Twitter chegaram a 3 682, superando até as de Russomanno, que teve 2 969, segundo levantamento do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo. Na quinta (25), o STF liberou a inclusão dos partidos menores nos debates. A partir de agora, Erundina poderá participar dos eventos. Com apenas dez segundos no horário da TV, ela também aposta sua ida para o segundo turno gastando a sola nas ruas. “Quem me acompanha precisa estar de roupa folgada e sapato baixo”, diz a candidata, de 81 anos.
Outro que circulou nos últimos dias foi Doria. Já tomou cafezinho em padaria e comeu pastel fazendo careta, o que levou seus assessores a pedir aos jornalistas que não tirem fotos do empresário durante as “refeições”. “Na periferia, as pessoas se lembram de mim por causa dos dois anos em que apresentei o programa Aprendiz, na Record”, acredita.
Na luta pela reeleição, Fernando Haddad tem procurado equilibrar sua agenda de candidato com os compromissos do cargo. Por isso, pouco foi à rua nos últimos quinze dias. A situação deve mudar a partir da semana que vem. “Vamos apostar em visitas a bairros da periferia, onde disputaremos votos com Marta, Erundina e também Russomanno”, explica o vereador Paulo Fiorilo, coordenador da campanha à reeleição do prefeito.
Já a estratégia de Marta Suplicy é dissociar sua imagem da do PT, partido do qual foi filiada entre 1983 e 2015. Além disso, tenta evitar bater em Russomanno no primeiro turno para não ficar com pecha de arrogante, o que pode aumentar seu índice de rejeição. No debate da Band, tocou em um ponto negativo de sua gestão na prefeitura, entre 2001 e 2004, pedindo desculpas pelos impostos que criou. Essa política lhe rendeu o apelido de “Martaxa”. De jeans surrado Giorgio Armani e Rolex, ela fez um tour de uma hora pelo Mercado Municipal na última quarta (24), onde comeu morangos, tâmara e sanduíche de mortadela. “Se eleita, prometo devolver beleza à cidade em seis meses”, discursou.