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A trajetória de Eduardo Tuma: o “vice” de covas

Reeleito presidente da Câmara Municipal, o evangélico, sobrinho de Romeu Tuma, é quem assumirá caso o prefeito precise se afastar

Por Ricardo Chapola
Atualizado em 20 dez 2019, 13h23 - Publicado em 20 dez 2019, 06h00

Único candidato na disputa pela presidência da Câmara Municipal, o vereador Eduardo Tuma (PSDB) se garantiu por mais um ano no comando do Legislativo paulistano e estará à frente da Casa em 2020, quando haverá eleições municipais. No domingo (15), Tuma foi reeleito para o posto com 48 votos dos 49 presentes na sessão (o Parlamento tem 55 vereadores), recebendo o apoio até mesmo da bancada da oposição.

O parlamentar permanecerá na vaga que ganhou uma importância política ainda maior no fim de outubro, quando Bruno Covas foi diagnosticado com câncer no trato digestivo. Caso o prefeito precise se afastar durante o tratamento, o presidente da Câmara será o primeiro na linha sucessória, já que a atual gestão não conta com um vice — Covas, que era da chapa de João Doria, assumiu a prefeitura quando ele saiu para disputar o governo do estado. Tuma, assim como outros aliados de Covas, rejeita a ideia de que terá de substituir o prefeito, a quem chama de “amigo”. “Tenho convicção de que ele completará o mandato”, disse Tuma à Vejinha.

Com o prefeito Bruno Covas, em novembro (Reprodução Instagram @eduardotuma/Veja SP)

Pessoas de seu entorno afirmam que ele estaria procurando uma alternativa jurídica para conseguir se candidatar à reeleição como vereador em 2020, ainda que tenha de assumir interinamente a prefeitura. Se isso ocorrer, a regra eleitoral impedirá que Tuma dispute um cargo no Legislativo. Pela norma, ele só poderia concorrer ao Executivo. Eleito em 2016 com mais de 70 000 votos, o vereador, de 38 anos, conseguiu chegar à presidência da Casa dois anos depois, substituindo Milton Leite (DEM), de quem é aliado. A proximidade entre os dois é tanta que Tuma ganhou um apelido carinhoso de seu antecessor: “Baby”.

Fervoroso: amigos de Tuma, que é evangélico, afirmam que conversão à igreja Bola de Neve o fez ver a política como propósito de vida (ADSA Brasil/Divulgação)

De janeiro até o fim de outubro deste ano, Tuma viu a Câmara aprovar 191 projetos de lei, segundo levantamento feito pela reportagem. Sob sua batuta, o Parlamento aprovou propostas com temas que vão da proibição do uso de cigarros nas dependências de parques ao veto da distribuição de canudos plásticos na cidade. Além disso, apoiou e viu também passar projetos relacionados às igrejas evangélicas.

Tuma nunca escondeu de ninguém ser um evangélico fervoroso. “Sempre defendi quem represento”, diz. Em abril, o tucano articulou a aprovação da lei que ampliava a isenção de IPTU para imóveis ligados a igrejas. Esteve por trás de um ponto da proposta de privatização do Anhembi, que prevê que a área seja usada também para a realização de eventos religiosos. Meses depois, transformou uma sala de reuniões do subsolo da Câmara em uma espécie de espaço para cultos.

De família evangélica, Tuma sempre frequentou a igreja presbiteriana por influência da mãe, mas converteu-se à Bola de Neve no início dos anos 2000, quando surgiu a nova denominação. “Ele mudou o estilo de vida”, relata uma ex-funcionária que ainda é próxima à família. “Também começou a pensar em política como um propósito de vida”, diz ela.

Como bandeira do mandato na presidência, Tuma destaca a redução de gastos da Câmara. Em 2019, a Casa economizou mais de 36 milhões de reais por meio da revisão de contratos, de acordo com o parlamentar. A previsão orçamentária para este ano era de pouco mais de 690 milhões de reais em despesas. Muitos dos parentes de Tuma são políticos — dos chamados tradicionais. Ele é sobrinho do ex-senador Romeu Tuma, um ex-investigador e delegado de polícia que atuou no Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), órgão repressor da época da ditadura militar. O vereador também é primo do ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior e filho de Renato Tuma, considerado o criador da Guarda Civil Metropolitana e diretor-geral da Câmara por 38 anos.

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Em sessão na Câmara Municipal (Alexandre Battibugli/Veja SP)

A atuação de Eduardo Tuma como vereador, é claro, divide opiniões. Por um lado, ele ganha elogios não só por estar sempre “na estica”, com ternos bem cortados, mas também pelo perfil workaholic. Por outro, passou a ser visto com ressalvas depois de assumir o comando da Câmara, ao revelar uma faceta supostamente “autoritária”. “É um lobo em pele de cordeiro. Isso que dá: nasceu em uma família cuja história política está associada à polícia”, diz um vereador que pediu anonimato. Tuma, porém, faz questão de negar a fama. “Existem situações em plenário que exigem mais firmeza. Mas meu tratamento é isonômico”, explica.

Além de vereador (salário de cerca de 14 000 reais), Tuma é professor. Formado em direito, ele leciona na FMU e na Uninove, o que poderia acrescentar até 5 000 reais a sua renda, dependendo do número de aulas. Em agosto de 2018, o parlamentar teve os sigilos bancário e fiscal quebrados a pedido do Ministério Público, que o investiga por suspeitas de enriquecimento ilícito. De acordo com a promotoria, Tuma não possui renda compatível com o aumento de seu patrimônio entre 2012 e 2016, de 89 000 reais para 2 milhões de reais. O parlamentar nega qualquer irregularidade.

Antes de chegar à Câmara, Tuma trabalhou na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo como assessor no gabinete do então deputado Fernando Capez. Saiu de lá em 2012, quando foi eleito vereador pela primeira vez. Também foi secretário da Casa Civil do prefeito. Agora, se realmente for preciso assumir a prefeitura no lugar de Covas, que enquanto esteve internado no Sírio-Libanês para tratamento despachou normalmente com seus secretários, Tuma ficará no cargo por trinta dias. Depois disso, a Lei Orgânica do Município estabelece a convocação de uma eleição indireta, realizada pela Câmara, para as vagas de prefeito e vice. Os eleitos deverão cumprir apenas o período restante do mandato, que termina em dezembro de 2020.

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 25 de dezembro de 2019, edição nº 2666.

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