Prédios na Praça da República seguem trajetórias opostas
Enquanto o Edifício Caetano de Campos atravessa os anos em ótima forma, o vizinho Esther virou símbolo de abandono
Integrada à Linha 4 – Amarela do metrô desde o mês passado, a Estação República, que até então servia apenas à Linha 3 – Vermelha, passou a receber 165.000 passageiros por dia, mais que o dobro do seu movimento anterior. O novo trecho liga as estações Luz e Paulista, oferecendo mais uma opção de baldeação e de conexão com os trens da CPTM. Além das facilidades da rede subterrânea, os usuários podem desfrutar atrativos bem acima da superfície. A Praça da República abriga dois dos mais importantes ícones da arquitetura paulistana. Apesar da grande relevância histórica, ambos tiveram trajetórias opostas e, por isso, vivem momentos bem diferentes.
Um deles, o Edifício Caetano de Campos, obra saída das pranchetas dos arquitetos Antônio Francisco de Paula Souza e Ramos de Azevedo, escapou de ser demolido, para a construção do metrô, nos anos 70. “Fizemos campanha para desviar o traçado e proteger o prédio”, afirma Benedito Lima de Toledo, supervisor técnico do primeiro restauro, de 1979, logo após o imóvel ter sido salvo do tatuzão. O empreendimento atravessou os anos em ótima forma e deve passar por uma nova faxina até dezembro, dentro da programação periódica de obras de preservação do patrimônio. Atualmente, sua escadaria é movimentada pelo entra e sai de funcionários da Secretaria de Educação do Estado, sediada ali há mais de trinta anos. “Dar uso ao edifício é essencial para garantir a conservação”, diz Toledo.
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A poucos metros dali, o Edifício Esther, com janelas corridas, pilotis, terraço-jardim e espaços moldáveis ao gosto do freguês, resiste como pode. Uma série de janelas quebradas denuncia o estado de abandono do grande marco modernista construído entre 1936 e 1938. Os dois fossos de ventilação estão imundos e repletos de umidade. Por incrível que pareça, a situação já esteve pior. Nos anos 80, no ápice da decadência, chegou a ter gente morando nos corredores. Hoje, há um restaurante por quilo no 2º andar, para 150 pessoas, e uma mesquita muçulmana no 10º (frequentada principalmente por imigrantes africanos). O fluxo de visitantes é intenso, embora muitos conjuntos sirvam apenas como depósito.
“Quando assumi estava tudo caindo”, diz o síndico João Miguel Jarra, há oito anos na função. Entre as benfeitorias que concluiu estão o restauro das luminárias originais e as reformas hidráulica e elétrica. “Os órgãos de preservação criam entraves sem dar contrapartidas”, afirma. “Não posso mexer em nada sem ter a assinatura deles.” Na semana passada, por exemplo, teve de suspender a troca de um dos elevadores por falta de autorização. “Há dias em que apenas um dos cinco funciona. Já gastamos 100.000 reais só em conserto”, conta ele, que pretende deixar o cargo no fim do ano.
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O Esther foi projetado a pedido da família Nogueira, dona da Usina Açucareira Esther, para se tornar a sede da empresa. Desde o início, o prédio combinava escritórios e residências, mix que perdura até hoje, com a convivência de dezoito apartamentos e 94 conjuntos comerciais. Entre seus ex-moradores está o colunista social e escritor Marcelino de Carvalho, cujos livros de etiqueta eram uma bíblia para a sociedade paulistana. A decadência começou após a companhia vender o imóvel, nos anos 60. Conforme mostra o exemplo do Caetano de Campos, está na hora de receber cuidados que lhe deem vida e o façam brilhar como o vizinho ilustre.