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Como é a rotina da melhor e da pior escola pública da capital

Em uma delas, as salas são pequenas e a infra-estrutura, precária. Na outra, há quadra de esportes coberta e biblioteca com teatro

Por Daniel Bergamasco e Flora Monteiro
Atualizado em 1 jun 2017, 18h09 - Publicado em 18 ago 2012, 00h51
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  • Uma escola tem os muros e paredes tão bem conservados, sem rabiscos nem pichações, que parecem reformados há alguns dias. Do lado de dentro, há quadra de esportes coberta, elevador destinado aos deficientes físicos e uma biblioteca equipada com teatro.

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    + Saiba como se comportam os estudantes paulistanos

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    No outro colégio, as salas são pequenas, pouco ventiladas, e a iluminação passa longe do ideal. Em vários trechos, a pintura está manchada ou descascada e, como a quadra é uma só, os garotos jogam futebol em um campinho de terra.

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    Em qual dessas duas instituições você matricularia seu filho? A escolha parece óbvia, mas as aparências, nesse caso, levam a equívocos. O endereço das boas instalações figura como a pior escola da rede pública da cidade no desempenho do 9º ano (8ª série) do ensino fundamental, segundo ranking do Ministério da Educação divulgado na última semana. Trata-se da Escola Jardim Esperança, nas proximidades do Jardim Ângela, na Zona Sul.

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    A outra é a Escola de Aplicação da USP, no câmpus da universidade no Butantã. Ela aparece como a mais bem colocada nessa série segundo a mesma avaliação, chamada de Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que leva em conta notas em uma prova de português e matemática e critérios como faltas. As contradições se explicam quando aos cenários descritos são somados os seus personagens.

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    Jardim Esperança, com esse nome tão sugestivo, foi inaugurada em janeiro de 2011, ao custo de 6 milhões de reais. Segundo docentes ouvidos pela reportagem, que preferem ficar no anonimato (veja o quadro abaixo), escolas vizinhas com lotação esgotada mandam para lá, com frequência, seus piores alunos.

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    “Alguns chegaram a jogar carteiras nos funcionários. É uma turma difícil de controlar”, diz a dona de casa Euzira Leite, avó de uma estudante. As aulas vagas são outro problema. “Meu filho começou aqui faz uma semana. Fiquei impressionado com a falta de professores”, relata o taxista Nivaldo dos Santos. Um número chama atenção: dos 61 mestres, só quatro são efetivos, já que os concursados evitam se fixar por lá — os temporários, por sua vez, saem quando encontram algo melhor. O governo estadual, responsável pela instituição, diz que trocou o diretor para melhorar o desempenho e implantou ali alguns de seus programas, como o de auxiliar em sala de aula em algumas turmas.

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    Mas os recursos humanos escassos são evidentes. Há apenas dois inspetores para 1.100 estudantes, muitos vindos das casas precárias dos arredores, entremeadas de vielas, onde o único colorido vem dos cartazes de candidatos a vereador colados nas fachadas.

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    Na Escola de Aplicação da USP, os estudantes nem parecem morar no mesmo planeta. Quinze dos 54 professores fazem ou já concluíram mestrado ou doutorado. Os salários variam de 6.000 a 15.000 reais, enquanto na rede estadual eles dificilmente chegam aos 2.500 reais.

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    + Rosely Sayão dá dicas aos pais sobre educação das crianças

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    Dois terços das vagas nas séries iniciais são sorteados entre filhos de funcionários, sejam eles faxineiros ou diretores, e o restante entre paulistanos de fora da USP. A média é de 25 frequentadores por sala, ante os quase quarenta da Jardim Esperança. Os docentes planejam suas aulas em reuniões diárias e a grade inclui atividades como francês e ginástica olímpica.

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    O diretor, Felipe Tarábola, diz que a solução para a infraestrutura deficitária está a caminho. “Faremos uma reforma no fim do ano”, promete. A comparação de universos serve como lição também para as particulares. “Os pais se prendem muito a detalhes, como quadras magníficas, na hora de escolher onde matricular a criança, mas a estrutura pedagógica é o que mais interessa”, afirma a psicóloga Rosely Sayão, consultora de diversos colégios da capital.

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    Responsável por um terço do PIB brasileiro, São Paulo está em terceiro lugar no ranking do ensino, perdendo para Minas e Santa Catarina, no 9º e também no 5º ano do fundamental. No ranking geral da rede pública na capital, as notas médias avançaram pouco — de 5 para 5,1 no 5º ano e de 4 para 4,2 no 9º. Para o ensino médio, são divulgadas apenas as médias estaduais (nesse caso, a nota paulista também praticamente não evoluiu, passando de 3,6 para 3,9).

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    Segundo os especialistas, limitações que não são combatidas de forma adequada explicam a situação. “Uma das principais questões é que os alunos da rede pública vivem em ambiente muito mais carente e violento do que décadas atrás, mas os educadores não são preparados para lidar com esse quadro”, afirma Neide Noffs, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP.

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    DIFERENÇA ABISSAL

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    Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) na capital

    AS MAIORES NOTAS DO 9º ANO…

    Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP (Butantã) – 5,8

    Emef Prof. Leão Machado (Vila Liviero) – 5,7

    Emef Mal. Deodoro da Fonseca (Caxingui) – 5,7

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    Prof. Ennio Voss (Brooklin Paulista) – 5,7

    Prof. João Borges (Vila Gomes Cardim) – 5,7

    Emefm Guiomar Cabral (Jd. Cid. Pirituba) – 5,6

    Emef Bartolomeu Lourenço de Gusmão (Vila Santa Isabel) – 5,6

    Emef Des. Joaquim Candido de Azevedo Marques (Santo Amaro) – 5,6

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    Seminário Nossa Senhora da Glória (Ipiranga) – 5,6

    Conselheiro Ruy Barbosa (Horto Florestal) – 5,6

    …E AS MENORES NOTAS

    Prof. Dogival Barros Gomes (Jardim São Carlos) – 2,9

    Lucas Roschel Rasquinho (Colônia Paulista) – 2,9

    Prof. Samuel Morse (Jardim Santa Bárbara) – 2,9

    Dona Prisciliana Duarte de Almeida (Parelheiros) – 2,9

    Profa. Maria Augusta de Moraes Neves (Americanópolis) – 2,9

    Prof. Ronaldo Garibaldi Peretti (Vila Anglo Brasileira) – 2,8

    Prof. Mauro de Oliveira (Perdizes) – 2,8

    Prof. José Vieira de Moraes (Rio Bonito) – 2,7

    Profa. Josephina Cintra Damião (Chácara Nani) – 2,4

    Jardim Esperança (Jardim Santa Margarida) – 2,1

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    DOIS MESTRES, DUAS REALIDADES

    2283 educação - professor da escola de aplicação usp
    2283 educação – professor da escola de aplicação usp ()

    UM PROFESSOR DO COLÉGIO TOP…

    Com a palavra, José Carlos Carreiro, de 53 anos, docente de geografia na Escola de Aplicação da Universidade de São Paulo

    Motivação na carreira: “Ver as pessoas aprendendo é emocionante”

    Salário: 6.500 reais, por quarenta horas de trabalho semanais

    O melhor da Escola de Aplicação: a rotatividade dos professores é pequena e as reuniões diárias com os docentes possibilitam construir efetivamente uma linha de trabalho

    O pior da escola: a infraestrutura do prédio precisa ser melhorada

    Formação: aluno de escola pública por toda a vida, ele se graduou em geografia na USP e é mestre em psicologia da educação pela mesma universidade

    Onde mora: no Butantã, em uma casa com três quartos

    Viagens que já fez: “Conheço o Brasil todo, de Porto Alegre a Belém. Já fui para Inglaterra, França, Portugal e Espanha, entre outros países”

    Último livro que leu: “Xogum — A Gloriosa Saga do Japão”

    Última peça de teatro: “Não gosto. Faz tempo que não vou”

    Último filme: “Valente”. “Vou ao cinema semanalmente e vejo muitas histórias infantis com meus filhos”.

    2283 educação - professor escola jardim esperança
    2283 educação – professor escola jardim esperança ()

    …E OUTRO DO MAIS PROBLEMÁTICO

    Profissional da área de humanidades, que só topou a entrevista sob a condição de anonimato, conta sua rotina

    Motivação na carreira: “A estabilidade no emprego. O resto é bem desmotivante”

    Salário: pouco mais de 2.000 reais, por cerca de quarenta horas de trabalho semanais. “Penso em parar daqui a alguns anos, nem que seja para vender laranja na rua e ganhar melhor”

    O melhor da escola Jardim Esperança: “Tem tudo de que um aluno precisa na estrutura, de biblioteca boa a elevador”

    O pior da escola: “Faltam funcionários, ou seja, é oca de material humano, um elefante branco. Além disso, muitos dos alunos eram os piores das instituições vizinhas”

    Formação: estudou em escola pública, cursou faculdade particular e nunca fez pós “por falta de dinheiro”

    Onde mora: no Jardim Ângela, em um pequeno apartamento de dois quartos

    Viagens que já fez: “Brasília, Minas e Bahia. Nunca fui para o exterior”

    Último livro que leu: “Não me recordo do nome, mas tinha a palavra ‘feitiço’ no título”

    Última peça de teatro: “Faz tempo. Nem me lembro”

    Último filme: “Não tenho tempo de ir ao cinema”

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