Dengue pode fazer recorde de infectados
O Aedes aegypti nunca foi um problema tão grande na cidade: a primeira transmissão de zika acaba de ser confrmada
No dia 26 de fevereiro, os laboratoristas do Instituto Adolfo Lutz registraram o primeiro caso de zika transmitido dentro da cidade (antes, houve quatro positivos de paulistanos que viajaram a outras localidades). A vítima, de 28 anos, encontra-se na 32ª semana de gravidez e começou a sentir no fim de janeiro os sintomas da doença, como dor de cabeça e febre. Por sorte, não há indícios de que o feto desenvolva microcefalia, síndrome que, segundo suspeita da comunidade científica, seria causada também pelo mesmo vírus, contraído na picada do mosquito Aedes aegypti. A comprovação fez os agentes de saúde vasculhar o quarteirão onde a paciente mora, na Freguesia do Ó, na Zona Norte. No total, foram examinados 218 imóveis em busca de pontos de água parada, onde o inseto se reproduz.
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A confirmação foi uma nova má notícia em um ano que pode se tornar o pior em São Paulo em relação à dengue, a moléstia mais disseminada entre as provocadas pelo Aedes. Se 2015 registrou o recorde de casos na capital (100 449), o primeiro balanço divulgado neste ano, referente às cinco semanas iniciais de 2016, mostrou um incremento de 56% na comparação com o mesmo período do ano anterior. O pior pode estar por vir. De março a maio, a proliferação do mosquito costuma atingir seu auge, devido às chuvas e às temperaturas amenas, favoráveis à reprodução. A região mais afetada pela ameaça voadora é a Zona Leste, especialmente em seus extremos.
Lajeado, perto da fronteira com Ferraz de Vasconcelos, teve o maior número de ocorrências (68) de dengue nas primeiras cinco semanas, uma incidência de 40,6 habitantesa cada 100 000. Para que seja decretada uma epidemia, a marca precisa ser de 300 casos. Diante da fase propícia ao crescimentodo problema, porém, foi montada na região uma tenda de apoio ao atendimento de casos suspeitos. Ela fica ao lado da UBS Vila Chabilândia e tem capacidade para atender 180 pessoas por dia. Na terça-feira (8), quando VEJA SÃO PAULO visitou o local, a barraca estava lotada. A ação deve ser replicada em qualquer unidade fixa de saúde que atinja mais de 40% de sua capacidade de operação exclusivamente com dengue, zika ou febre chikungunya.
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Como parte do plano de contingência, a prefeitura também passou a utilizar em fevereiro um drone na função de vigilante aéreo. O equipamento está em fase de teste. Os objetivos são acessar propriedades cujos moradores resistem a abrir a porta e vasculhar áreas amplas ou entulhadas em menos tempo. A reportagem de Vejinha acompanhou o terceiro voo da engenhoca em 2 de março, na região da Penha, o segundo bairro mais afetado pela dengue neste ano. Na ocasião, o técnico Carlos Candido, da start-up Mirante Lab, empresa contratada ao preço de 20 000 reais por três meses, e a agente de saúde Miyuki Roberta dos Santos comandaram o sobrevoo de um terreno que estava repleto de água parada na primeira visita. “O aparelho chega a 60 metros de altura e tem uma resistência à queda acima da média”, explicava Candido.
Em alguns minutos, ficou constatado que os recipientes problemáticos haviam sido removidos. É um trabalho de formiguinha. Bastavam alguns passos na mesma rua para encontrar moradores reclamando do entulho do pedaço. “Eu, minha filha e a vizinha pegamos dengue”, contava o pedreiro Humberto Macedo Matos, de 47 anos, que solicitou à subprefeitura verificação no terreno em frente à sua casa, que não havia sido feita.
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O envolvimento da população continua sendo fundamental na eliminação de focos de água acumulada. Mas seria preciso investir em estratégias mais modernas.“Nós já dispomos de biotecnologia de combate ao problema, que ainda é cara demais e cuja aplicação é pouco incentivada pelo governo”, afirma Carlos Magno Fortaleza, infectologista da Unesp. Como não há perspectiva de soluções desse nível a curto prazo, as autoridades reconhecem que o cenário será grave. “O total de infectados em 2016 pode chegar a 150 000”, prevê o secretário municipal de Saúde, Alexandre Padilha. Diante da ineficiência do poder público, resta aos moradores da cidade, além de zelar pela limpeza do seu pedaço, a alternativa de reforçar o estoque de repelente para salvar a própria pele.
O RANKING DA DOENÇA
Quatro bairros da Zona Leste estão entre os campeões em dengue. Apenas o quarto lugar fica na Zona Sul
1º Lajeado: 68 infectados
2º Penha: 35 infectados
3º Parque do Carmo: 24 infectados
4º Jardim São Luiz: 24 infectados
5º Itaquera: 23 infectados
*Números referentes às cinco primeiras semanas de 2016