Dá para ter jogo de Copa do Mundo aqui?
Além do Itaquerão, outras obras essenciais para São Paulo sediar a partida de abertura mal saíram do papel
Escolhido em outubro de 2007 como anfitrião da próxima Copa do Mundo, o Brasil tinha, à época, sete anos pela frente para adaptar seus estádios aos padrões internacionais e resolver os problemas de infraestrutura mais graves, como o caos aéreo e as estradas em petição de miséria. Não é mais surpresa para ninguém: passados quase quatro anos, pouco foi feito nas cidades-sede.
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Candidata natural a receber alguns dos jogos mais importantes, São Paulo é um dos casos mais dramáticos. Destinada em tese à abertura da competição, a futura arena do Corinthians, apelidada de Itaquerão, na Zona Leste, ainda não passou da fase de terraplanagem. O início da perfuração das fundações está previsto para agosto — e sua conclusão, segundo especialistas em infraestrutura, só acontecerá, na melhor das hipóteses, em abril de 2014, a dois meses do início do torneio.
O cronograma apertado não é o único empecilho. Falta ainda definir de onde virá o dinheiro para pagar a conta da obra, estimada em cerca de 800 milhões de reais. Até a última quinta-feira, o Corinthians negociava com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e instituições financeiras privadas a obtenção de empréstimos para cobrir boa parte do valor — a Odebrecht, empreiteira responsável pela construção, também poderá arcar com uma parte.
Na sexta anterior (1º), a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei que autoriza o abatimento de 50% do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e de 60% do ISS (Imposto sobre Serviços) do futuro estádio. Somados, os incentivos podem chegar a 420 milhões de reais. Proposta pelo prefeito Gilberto Kassab, a medida só foi votada após a inclusão de um artigo que garante sua anulação caso a arena não seja escolhida para a partida de abertura — o fato de a Fifa ter adiado essa decisão para outubro, quando o imbróglio do clube, em tese, deverá estar resolvido, parece ser mais que simples coincidência.
Enquanto isso, capitais como Brasília e Belo Horizonte se candidatam nos bastidores a sediar o pontapé inicial do torneio. “Na absurda hipótese de não sermos escolhidos, poderemos fazer pequenas adequações no projeto, como desistir das duas arquibancadas provisórias que ampliarão sua capacidade de 48.000 para 68.000 pessoas”, afirma Luís Paulo Rosenberg, diretor de marketing do Corinthians.
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Não ter um palco à altura do maior evento esportivo do planeta é apenas um dos atuais desafios da cidade. Inicialmente prometido para o fim de 2012, o terceiro terminal do Aeroporto de Guarulhos foi adiado para novembro de 2013. Seu projeto nem sequer está finalizado. A ampliação é crucial não só para a metrópole, mas para todo o país — é por ali que a maioria dos turistas vai desembarcar durante o Mundial.
Hoje com capacidade para 20,5 milhões de passageiros por ano, o aeroporto recebeu 6 milhões a mais em 2010. A construção do novo terminal, atrelada a outras melhorias, como a revitalização de pistas, tudo orçado em 1,2 bilhão de reais, permitirá o fluxo anual de 58 milhões de viajantes.
A reestruturação viária do entorno do Itaquerão, anunciada em abril e atualmente em processo de licitação, também corre riscos de atrasar. Lá serão criadas vias e alças de acesso entre as avenidas mais importantes da região, como Miguel Inácio Curi e Jacu-Pêssego. A reformulação do acesso à estação local do metrô está igualmente prevista. “Essas intervenções terminam em junho de 2013. Portanto, estamos dentro do cronograma”, diz Emanuel Fernandes, secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional e chefe do Comitê Paulista da Copa.
Nem todos partilham de seu otimismo. “Desconheço obra de engenharia no país que não tenha sofrido alguma paralisação ao longo do processo de construção”, diz Paulo Resende, coordenador do núcleo de infraestrutura da Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte. “As da Copa serão as pioneiras? Estamos perdendo a oportunidade de usar o Mundial para acelerar a resolução de alguns dos problemas crônicos de nossas grandes cidades.”
Muito atrasado
Construção do Itaquerão
O que ainda falta fazer: praticamente tudo, inclusive definir quem arcará com os custos do futuro estádio do Corinthians
Estágio atual: terraplanagem
Previsão de entrega: abril de 2014
Custo previsto: 800 milhões de reais
Atrasado
Ampliação do Aeroporto de Cumbica
O que ainda falta fazer: revitalizar pistas e pátios, melhorar o setor de táxis e erguer um terceiro terminal de passageiros
Estágio atual: as obras de melhoria estão sendo tocadas, mas o projeto do novo terminal nem sequer foi finalizado
Previsão de entrega: novembro de 2013
Custo previsto: 1,2 bilhão de reais
Corre o risco de atrasar
Reestruturação viária na Zona Leste
O que precisa ser feito: construir alças de acesso e novas vias entre avenidas que margeiam a arena que sediará os jogos, como Miguel Inácio Curi e Jacu-Pêssego, e reformular o acesso à estação local do metrô
Estágio atual: em processo de licitação
Previsão de entrega: junho de 2013
Custo previsto: 478 milhões de reais